Coordenadora do ‘Mulheres & Golfe’ conta como está mudando paradigmas de esporte dominado por homens
Karen Schneider começou a carreira como jornalista aos 18 anos e tentou a sorte na Espanha, onde teve o primeiro contato com o esportes
Nossa Mulher Positiva é Karen Schneider, coordenadora do Programa de Incentivo ao Golfe Feminino, Mulheres & Golfe, nos conta como o programa está mudando os paradigmas de um esporte majoritariamente frequentado por homens. “Trabalhamos com um esporte majoritariamente frequentado por homens, e queremos garantir maior oportunidades para as mulheres. Nosso objetivo é uni-las no campo de golfe e aumentar a participação feminina na modalidade”, diz. “Através das aulas de golfe geramos uma nova oportunidade de convívio, as alunas são estimuladas a manterem-se ativas e seguirem treinando e jogando após o término do curso. Estruturamos o Pós-curso com um cronograma de atividades e encontros, torneios e saídas para o campo”, acrescenta.
1. Como começou a sua carreira? Saí do interior do Rio Grande do Sul e fui morar sozinha em Porto Alegre aos 16 anos. Comecei minha carreira como jornalista aos 18 anos. Meu primeiro trabalho foi como estagiária no programa Palavra de Mulher, apresentado pela icônica Marley Soares na extinta TV2 Guaíba. Minha percepção de que nós mulheres devemos lutar pelo nosso espaço no mercado de trabalho foi despertada logo cedo. A ausência feminina em cargos públicos ficou nítida durante meus dois anos de estágio na Assessoria de Imprensa da Assembleia Legislativa do RGS. Após formada trabalhei como repórter de rádio na CBN e RBS, mas logo Porto Alegre ficou pequena demais para os meus sonhos de carreira e embarquei para Madri em 1999. Uma época em que as redes sociais e a comunicação pela internet ainda eram um sonho. Com muita coragem e desapego larguei meu trabalho de jornalista e fui cursar pós-graduação em Relações Internacionais e Comunicação na Universidade Complutense de Madrid. Fui apenas com a passagem de ida, dinheiro para três meses e o curso pago por dois anos. O que indicava que precisaria trabalhar para me manter na Espanha.
2. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Deixar meu trabalho, amigos e família no Brasil foi um dos momentos mais difíceis, não só da minha carreira, mas da minha vida. Ser imigrante em um país desconhecido foi um desafio imenso. Em um primeiro momento, meu visto de estudante aprovava que eu trabalhasse meio período entregando propaganda nas caixas de correio e no metrô de Madri. Tinha 25 anos na época, pensei em desistir, mas superação sempre foi minha marca registrada.
3. Qual sua maior conquista? Me considero uma mulher de muitas conquistas, mas quando penso na maior delas, penso na minha vida de imigrante na Espanha. Foi um momento de muita solidão e incertezas. Por isso considero que uma das minhas maiores conquistas foi persistir em ficar no país mesmo com um subemprego. Desenvolvi uma força que eu desconhecia. O mais fácil teria sido retornar para Porto Alegre e dar seguimento na minha carreira de jornalista, mas entendi que poderia usar meu conhecimento para conquistar meu espaço na Espanha. Após vários meses “entregando papelzinho na boca do Metro” (como algumas pessoas inconformadas da minha escolha se referiam ao que eu fazia em Madri), através da Casa do Brasil, conheci uma produtora de televisão, fiz um teste e fui aprovada para o trabalho de repórter na televisão americana PSNews. Foi um trabalho de 10 meses como freelancer fazendo reportagens sobre as histórias dos jogadores de futebol brasileiros, como Roberto Carlos e Rivaldo, que iniciavam suas carreiras na Espanha. Na época eu achava que era sorte, hoje vejo que foi a confiança em mim mesma e a força para superar obstáculos.
Foi em Madri que tive meu primeiro contato com o golfe. Trabalhei na organização e execução de eventos, Conferências e Feiras Internacionais, bem como eventos de golfe. Comunicativa que sempre fui, conquistei rapidamente meu espaço na empresa de eventos. Fiquei responsável pelo Stand da Comunidade de Madri em todos os eventos da IFEMA. Em duas ocasiões recebi o Príncipe de Astúrias, atual Rei da Espanha, Felipe de Bourbon na abertura da Feira Internacional de Arte. De imigrante com subemprego a recepção do príncipe na feira de Arte, essa foi uma grande conquista. Minha inquietude e vontade de conhecer outras culturas me levou ainda mais longe. Após três anos em Madri, me mudei para Viena, na Áustria. Me formei em alemão e inglês na Wiener Internationele Hochschulkurse Universitat Wien. Morei sete anos na Áustria. Voltei para o Brasil porque engravidei da minha primeira filha, Luiza. Vim para São Paulo onde o pai dela mora. E aqui estou há 15 anos.
4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? A maternidade veio para mim junto com uma grande mudança de vida. Voltei para o Brasil depois de quase 10 anos morando na Europa, vim de Viena para São Paulo, cidade que eu nunca tinha morado antes, gestante de quatro meses. Foi uma mudança e tanto. Seguir vinculada ao sistema austríaco de licença maternidade (2 anos) me ajudou muito nesta adaptação. Sabemos que mesmo com todo o apoio, equilibrar carreira, vida pessoal e maternidade é bastante complexo. Tenho duas filhas, Luiza (14 anos), Aurora (8 anos) e priorizei a criação delas após o nascimento de ambas. Literalmente fiz uma coisa de cada vez. Fiquei muito em casa, amamentei ambas e optei por ser autônoma investindo na carreira de fotógrafa infantil. Por 10 anos tive a Kromakids, fotografia e fotolivros. Mas confesso que foi bastante difícil sair da vida corporativa com toda minha experiência, fluente em quatro idiomas e priorizar a maternidade. Atualmente, após anos de experiência, minha vida materna e de trabalho fluem de forma bastante equilibrada, mas precisei de tempo para conquistar a fluidez que tenho hoje.
5. Como é formatado o modelo de negócios do Projeto Mulheres & Golfe? O Mulheres & Golfe nasceu como programa para o incentivo à prática do Golfe e empoderamento feminino através do esporte. Trabalhamos com um esporte majoritariamente frequentado por homens, e queremos garantir maior oportunidades para as mulheres. Nosso objetivo é uni-las no campo de golfe e aumentar a participação feminina na modalidade. O ponto de partida é o curso com oito aulas gratuitas, distribuídas em dois meses de encontros, no qual as participantes recebem conteúdo teórico e prático. Todo o conteúdo e material usados durante as aulas são gratuitos. As aulas acontecem no Honda Golf Center, centro esportivo da Federação Paulista de Golfe. Nosso curso e nossas alunas são nosso principal foco, investir na formação delas valoriza o espaço da mulher no golfe. Professores competentes, eventos de qualidade, inclusão nos campos de golfe, alunas ativas e motivadas são nosso diferencial. Através das aulas de golfe geramos uma nova oportunidade de convívio, as alunas são estimuladas a manterem-se ativas e seguirem treinando e jogando após o término do curso. Estruturamos o Pós-curso com um cronograma de atividades e encontros, torneios e saídas para o campo.
Começamos como uma causa social, concebida e realizada pelo Instituto Chaves com o apoio da Federação Paulista de Golfe. Os programas e projetos do Instituto Chaves contam com a opção de investimento através das Leis de Incentivo ao Esporte. As opções de investimento direto ou através de renúncia fiscal geram oportunidades de inclusão social. Neste momento buscamos captar investidores que queiram aportar parte de seus impostos em nosso projeto. O Mulheres e Golfe se estrutura aos poucos como Negócio Social com uma causa muito clara. Por meio de parcerias estratégicas, estamos transformando um programa de aulas coletivas e gratuitas em uma referência na prática do golfe feminino no país. Nosso prognóstico para 2023 é termos mais de 500 mulheres vinculadas diretamente ao M&G. Nossa estrutura atual, além do curso gratuito, conta com a Academia Mulheres & Golfe com aulas particulares ou em duplas com a nossa metodologia, onde as alunas podem dar seguimento ao aprendizado. Formamos um grupo de golfistas anfitriões que acompanham as novatas em saída de campo. Criamos torneios do M&G e procuramos empresas que nos apoiam e patrocinam estes torneios e eventos.
6. Qual seu maior sonho? Meu maior sonho é a conquista feminina pela igualdade de gênero. E que possamos através do nosso programa de incentivo ao golfe feminino ocupar este espaço da mulher nos campos de golfe. Que o Mulheres & Golfe seja referência desta inclusão na prática do golfe brasileiro e mundial.
7. Livro, filme e mulher que admira… O Livro “Tibetano do Viver e do Morrer” (Sogyal Rinpoche). Filme: “E o vento Levou”. Mulher que admira: a lista é imensa mas gostaria de citar Angelina Jolie, Ângela Merkel e Madre Teresa de Calcutá.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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