Empresária conta como largou emprego ‘seguro’ e com ‘status’ para lançar seu próprio negócio
Com o ‘Cozinha de Gente Moderna’, Marina Linberger ensina a preparar as refeições de qualidade para a semana inteira em apenas duas horas
Nossa Mulher Positiva da semana é a empresária, professora online e mãe Marina Linberger. Ela é a proprietária do Cozinha de Gente Moderna e conta como usou seus períodos de frustração para impulsionar seu negócio. Com seu curso online, Linberger busca ajudar pessoas, principalmente mulheres, a organizar a rotina para que possam ter cerca de 10 horas livres na semana para tocar os próprios projetos e correr atrás dos sonhos. “Mulheres só precisam de tempo para voar”, pontua. Além disso, a empresária fala sobre a coragem de pedir demissão de “um cargo bom, com salário e benefícios ótimos, ‘status’, viagens internacionais e bônus ‘gordos’ no final do ano” por estar “exausta e infeliz” e para trilhar o próprio caminho e ajudar outras pessoas. Confira abaixo a entrevista com Marina Linberger:
1. Como começou a sua carreira? Em 2005 fui morar em Londres para aprender a falar inglês e fui trabalhar em restaurantes. A nova experiência foi o empurrão que eu precisava para fazer minha transição de carreira – de design gráfico para gastronomia, minha grande paixão desde pequena. Sempre acreditei que precisava trabalhar com algo que me deixasse muito feliz. Afinal, passamos a maior parte do nosso dia trabalhando e, consequentemente, a maior parte da nossa vida. Ao voltar de Londres, já sabia que queria seguir na gastronomia e, muito cara de pau, enviei um e-mail para todos os meus contatos, dizendo que estava fazendo eventos – coquetéis, casamentos, jantares… e acreditaram mesmo. Começou a surgir um monte de clientes.
Em três meses, minha mãe tinha virado minha sócia, já tínhamos CNPJ e uma cozinha própria. Liderei a cozinha do buffet por quase cinco anos, criando eventos conceituais incríveis, virando muitas madrugadas, perdendo muitos eventos pessoais por ter que trabalhar aos finais de semana. Neste período do buffet, fiz faculdade de gastronomia e participei de grandes eventos de alta gastronomia e concursos, além de mais uma temporada na Europa trabalhando em gastronomia, desta vez na Espanha. Foi um período de aprendizado intenso. Quando decidi que queria uma vida mais leve e saí do buffet, fui atrás de um trabalho que unisse cozinha e criatividade e iniciei minha jornada em grandes multinacionais de alimentos. Liderei chefs consultores em projetos para estabelecimentos de alimentação fora do lar na primeira empresa. Saí de lá depois que minha primeira filha nasceu, há 8 anos. Eu precisava focar nela, e passar tantas horas longe de casa não fazia mais sentido.
Nesta pausa, lancei o meu canal no Youtube e postava receitas práticas. Um ano e meio depois, já ganhando um dinheirinho com jobs com marcas bacanas, fui chamada por outra multinacional para gerenciar o time de chefs de cozinha na área de inovação para a América Latina. E lá fiquei mais cinco anos, trabalhando com muito foco em tendência e criatividade na gastronomia. A minha exaustão como mãe, profissional, dona de casa começou a me fazer sentir a necessidade de me planejar melhor com as refeições, que eram a minha pedra no sapato. A cozinha era o local que me prendia ao voltar para casa cansada no final do dia. Era o local que me impedia de usar o único tempo em que eu não estava trabalhando para curtir minha filha. Eu estava sempre na cozinha, preparando a janta (que várias vezes era um arroz com ovo), exausta e infeliz.
Em paralelo (eu seguia no corporativo), comecei a sentir que eu não estava agregando ao mundo ‘como indivíduo’ na posição que eu ocupava. Ao mesmo tempo que eu queria poder inovar com agilidade, arriscando e aprendendo com os erros (o que é impossível no corporativo), eu queria poder melhorar a vida das pessoas, especialmente mulheres, de forma mais próxima. Quando eu percebi que a minha dor como mãe, profissional, dona de casa exausta e frustrada era comum à grande maioria das mulheres, resolvi documentar e organizar minhas pesquisas sobre planejamento, para que eu pudesse ensinar o que eu estava criando. Foi aí que comecei a desenvolver o meu método, em que ensino as pessoas a preparar as refeições da semana em duas horas. Refeições saudáveis, gostosas, variadas!
2. Como é formatado o modelo de negócios do Cozinha de Gente Moderna? Hoje ensino mais de 4 mil alunas no meu curso online “Jantar sem Stress 2.0”, e depois de implementarem o método que ensino, elas passam a ter pelo menos 10 horas livres na semana (porque não cozinham mais durante a semana). O mais lindo é ver o que elas passam a realizar com o tempo que surge: empreendem, voltam a estudar, voltam a se cuidar, a ler, descansar, a ter tempo de qualidade com a família. Uso minhas redes sociais @CozinhaDeGenteModerna como forma de divulgação do meu trabalho e do curso por meio de muito conteúdo gratuito de qualidade: de posts a aulas abertas ao vivo.
3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Não considero que tive momentos super difíceis, acho que porque sempre tentei ver o lado positivo das coisas. Mas já desligaram telefone na minha cara, pessoas que eram “próximas” tentaram puxar meu tapete… Mas lembro especialmente de uma fase, no fim da minha vida corporativa. Já estava naquela empresa há alguns anos, já havia agregado mais funções, mais colaboradores respondendo para mim, e minha promoção nunca era validada pelos meus superiores. Cheguei a aplicar para uma vaga dentro de outra área da mesma empresa. Fui entrevistada por um diretor e um VP, homens, que se animaram com a minha experiência, inclusive me perguntaram disponibilidade de início e me contaram sobre detalhes do dia a dia da posição. Pouco antes da despedida a pergunta que teve sua resposta anotada no papel depois de uma troca de olhares breve entre eles: “você tem filhos?” E naquele momento eu já soube o que aconteceria.
O que aprendi com isso tudo? Que momentos e pessoas desagradáveis surgirão, e que o resultado é a forma como reajo ao acontecimento. No geral, uso a frustração como forma de me impulsionar na busca dos meus objetivos.
Um exemplo: sempre que minha promoção tão prometida era postergada, eu pensava que “não é esse tipo de sentimento que eu quero ter no meu trabalho. Não quero estar aqui”. E usava a frustração do momento para criar e erguer o meu projeto pessoal. Se eu não quero estar aqui, preciso trabalhar para criar o lugar em que quero estar. Meus momentos pós-frustração foram os mais produtivos na criação do meu novo negócio.
4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Acho que tem dois pontos chave que me ajudam demais. O primeiro é planejamento de cardápio semanal. Sim, eu uso o meu método em casa. O simples fato de não precisar mais cozinhar todos os dias fez surgir muitas horas livres na minha agenda. Eu não perco tempo nem pensando no que cozinhar mais. Já está tudo pronto para aquecer e não me estresso pensando se vai estar saudável ou não, porque ele já é pensado para isso. Como não cozinho todo dia, não interrompo mais o meu trabalho para ir para a cozinha. Foco e produzo muito mais. O segundo ponto é poder trabalhar de casa e ter mudado de São Paulo. Não perco mais tempo da minha vida no trânsito. Até treinar (ginástica) eu treino em casa.
5. Qual seu maior sonho? Sonho em poder distribuir meu método para o maior número de mulheres possível, para que elas consigam suas horas livres na semana. Eu acho que tem tanta mulher incrível, com projetos sensacionais guardados na gaveta por falta de tempo; projetos e sonhos que podem mudar o mundo, que podem mudar vidas. Mulheres só precisam de tempo para voar.
6. Qual sua maior conquista? Pedir demissão de um cargo bom, com salário e benefícios ótimos, “status” (que bobagem isso, né?), viagens internacionais e bônus ‘gordos’ no final do ano para trilhar o meu próprio caminho, podendo de fato transformar a vida das pessoas, abrir a minha própria empresa e ainda por cima poder lucrar muito mais do que eu ganhava. Fazer o que eu amo, deixando meu legado e ganhando mais.
7. Livro, filme e mulher que admira.
Livro: Hábitos atômicos – James Clear
O que me pega é: como a junção de pequenos bons hábitos pode melhorar a vida de uma forma complexa. É sobre disciplina e paciência, sobre você criar o ambiente que propicie seus bons hábitos e entender que muitos benefícios desses bons hábitos são sentidos a longo prazo. Paciência!
Filme: Santiago.
O maior pedido de desculpas público que já vi. No começo, moroso, no final, impactante. Conseguir enxergar o erro e refletir sobre ele é o primeiro passo para o aprendizado.
Mulher que admiro: Frida Kahlo.
Forte, confiante, influente, inesquecível. Ela teria todas as desculpas para ser apenas mais uma mulher no mundo, mas ela foi Frida.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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