Fundadora da clínica Mulheres Mais conta como estruturou negócio voltado para a sexualidade feminina
Fisioterapeuta Cristina Nobile explica como superou dificuldades do início da carreira até criar empreendimento de atendimento individualizado com foco na dor causada durante relação sexual

1) Como foi seu início de carreira? O início da minha carreira na fisioterapia se deu aos 36 anos, após um casamento desfeito, dois filhos e uma mãe com câncer de mama. Decidi voltar a estudar após me separar, e com a doença da minha mãe não conseguia vislumbrar nada diferente da formação em fisioterapia com pós-graduação em Oncologia. Tudo deu certo, inclusive a pós. Fiz residência no ambulatório do Hospital Pérola Byington, o que me capacitou no atendimento de mulheres em tratamento do câncer. Como o maior índice de atendimentos ambulatoriais eram mulheres com câncer de mama e uroginecológico, começo na área da dor já nessa época. O que eu não sabia é que após alguns anos eu teria a oportunidade de trabalhar na fisioterapia pélvica com o foco na dor na relação sexual. Uma área complementou a outra, meu campo de atuação aumentou muito, e acabei abordando a dor na relação com as pacientes oncológicas também.
2) Como é formatado o modelo de negócios da Clínica Mulheres Mais? O primeiro contato com a paciente pode acontecer através de um bate papo online gratuito. Essa modalidade nasceu quando percebemos o quão difícil era para essa paciente chegar até nós, ter coragem para realizar a avaliação. Nesse contato consigo tirar as dúvidas e orientar sobre como funciona o tratamento, porém deixo muito claro que o bate papo não substitui a avaliação. Na avaliação, além da anamnese, onde essa mulher irá reportar todas as queixas e dificuldades, realizo o exame físico, e é através dele que consigo mapear o nível e grau de severidade da disfunção. A partir desse primeiro diagnóstico, indicar o número de sessões, que normalmente partem de 10 no mínimo.
Para nós, além de tratar a dor, queríamos entregar um atendimento diferenciado, com foco na escuta e no acolhimento, tendo como diferencial um tratamento personalizado, indo ao encontro da dor maior dessa paciente, que muitas vezes estava na carência de orientação e do auto conhecimento. Percebemos que se tratava de um tratamento simples e inovador. Inovador no sentido de tratar a parte física com repercussão emocional.
O tratamento é direcionado para todas as mulheres, em qualquer idade, desde o início da vida sexual até a pós menopausa, que sentem dor ou se veem impossibilitadas de permitir uma penetração vaginal, seja num exame ginecológico, no uso de medicação ou na relação sexual. Já a mentoria/consultoria, é indicada para mulheres que queiram ganhar conhecimento e ter autonomia sobre seus corpos e entender o que gostam e que não gostam. Partimos da premissa de que levar informação é nossa obrigação e faz parte do nosso propósito. Nosso trabalho é divulgado através das redes sociais, revistas, blogs. Sempre direcionado ao público feminino.
3) Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Enquanto atuei exclusivamente com a oncologia meu caminho foi árduo. A dificuldade em ganhar autoridade e reconhecimento na área era difícil. A fisioterapia em oncologia estava dando os primeiros passos. Durante muito tempo, profissionais da área da saúde que não fossem “médicos” tinham que provar autoridade e conhecimento constantemente e os benefícios que a atuação e a prática multiprofissional promoviam na reabilitação dos pacientes. Isso hoje já faz parte do passado, mais do que nunca os profissionais da saúde e especialmente os Fisioterapeutas ganharam reconhecimento.
4) Como você consegue equilibrar sua vida pessoal X vida empreendedora? Hoje tenho filhos adultos, tenho flexibilidade e um nível de exigência bem menor em relação a eles. Empreender é desafiador, são horas e horas de total exclusividade, não tem dia nem hora, porém é extremamente gratificante ver as coisas acontecerem. O mais difícil para mim foi e ainda é gerenciar meu tempo, no meu caso tenho uma sócia advogada, para ela cumprir prazos sempre foi uma realidade, ela tem maior facilidade, ela conduz e me ajuda no gerenciamento.
5) Qual seu maior sonho? Sonho com estabilidade tanto no nível pessoal como profissional. Hoje meu maior sonho está no âmbito profissional, sonho poder ser a diferença e transformar a vida das mulheres que passam por mim, deixar a minha marca no mundo dessa forma. Impactar, causar transformação e chegar no maior número de mulheres, passando informações e orientações sobre sexualidade e saúde da mulher.
6) Qual sua maior conquista? Conquistei muita coisa durante minha vida, conquistei minha família, meus filhos, minha profissão, mas acho que minha conquista é diária! Eu conquisto minhas pacientes todos os dias. Atuar na sexualidade necessita de muito cuidado, de delicadeza. Para conquistar a confiança dessa paciente preciso ser verdadeira, saber ouvi-la, não julgar, ter empatia. E isso a gente não aprende na Faculdade, isso é a vida quem ensina! E disso eu não me canso de aprender.
7) Livro, filme e mulher que admira Livro e filme: “Comer, Rezar, Amar”. Série: “This is Us”. Mulher: Doutura Albertina Duarte Takiuti. Me inspiro na forma como aborda e transforma a vida de tantas mulheres, pela paixão pela medicina e pela saúde, pela entrega na profissão.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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