Fundadora da Téra, Ana Paula Vitoi aposta na sustentabilidade para fazer história na indústria da moda
Vinda de uma família que atuou no setor de vestuário por 35 anos, empreendedora olhou ao seu redor e percebeu que era capaz de influenciar pessoas e impulsionar transformação
Nossa Mulher Positiva desta semana é Ana Paula Vitoi, empreendedora da indústria da moda e precursora da sustentabilidade no mercado de luxo no Brasil. Egressa de uma família que passou 35 anos no setor de vestuário, Ana Paula passou um bom tempo “em um processo que consumia o meio ambiente e também a mim”. Após se tornar mãe, percebeu que precisava levar seus valores à indústria e fundou a Téra. “Tendo consciência de que a moda é uma das indústrias mais poluentes do mundo e percebendo o quanto é capaz de influenciar as pessoas, entendi que, através dela, seria possível passar a mensagem necessária para gerar transformação”, disse. Hoje sua empresa só usa matéria-prima certificada, preocupa-se em prevenir o greenwashing (estratégia que algumas empresas usam para parecerem comprometidas com o meio ambiente sem sê-las de verdade) e beneficia toda uma rede que gira ao redor da Téra. Abaixo, ela nos conta os desafios do mercado e o que a levou a desenvolver a marca.
1. Como começou a sua carreira? Quem é Ana Paula Vitoi? Ana Paula Vitoi é goiana, formada em designer de moda e veio de uma família que atuou no setor do vestuário por 35 anos. Fiz da moda minha formação e por muito tempo me dediquei a inúmeras criações mensais, lançando coleções para atender a velocidade do mercado. Um processo que consumia o meio ambiente e também a mim. Até que engravidei e, com o meu filho, nasceu a Téra, em um momento repleto de ressignificações e gratidão. Essa nova missão que me foi dada pedia por coerência entre meus valores e o que estou construindo como legado.
2. Como é formatado o modelo de negócios da Téra? Tendo consciência de que a moda é uma das indústrias mais poluentes do mundo e percebendo o quanto é capaz de influenciar as pessoas, entendi que, através dela, seria possível passar a mensagem necessária para gerar transformação. Na Téra, levamos o design a sério e sabemos que podemos, desde a fase da idealização de uma peça, eliminar resíduos e estender a vida útil do produto. Fazemos uma seleção criteriosa dos nossos fornecedores para prevenir greenwashing. Grande parte da nossa matéria-prima é certificada, trabalhamos apenas com fibras de origem natural e com indústrias nacionais. Visitamos nossos parceiros de produção semanalmente, conhecemos as costureiras, que são compensadas com salários dignos pelo trabalho maravilhoso que entregam, acima do valor de mercado. Criamos um programa, o Circular, por meio do qual todas as nossas peças podem retornar à Terra para ganhar uma nova vida ou destino adequado. Apoiamos uma comunidade local, onde 2% da nossa receita é destinada aos seus projetos, e priorizamos os trabalhos manuais das nossas coleções como bordados e crochês para os grupos de mulheres dessa comunidade, assim como doamos os nossos resíduos têxteis para que elas possam, a partir destes, produzir novos produtos. Para um modelo de negócio obter longevidade é necessário que beneficie a economia, a sociedade e o meio ambiente. Nos esforçamos para que isso aconteça e, para selar nosso comprometimento, nascemos fazendo parte de um movimento corporativo global chamado Sistema B. Mudar este sistema linear exige uma transformação radical e cremos que, juntamente com outras marcas que estão fazendo um trabalho incrível no Brasil e no mundo, podemos ser agentes de transformação e inspiração. Essa é uma excelente oportunidade para liberar o potencial criativo da moda, em um momento ímpar na história dessa indústria, da qual temos orgulho de fazer parte.
3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Os últimos anos de trabalho, ainda no modelo antigo da indústria da moda, foram difíceis de serem vividos. Passei pelo início das redes sociais, onde o comércio de moda cresceu muito vendendo a vida particular das proprietárias das marcas e um lifestyle de consumismo. Me vi obrigada a participar desse modelo de negócio, mas não consegui permanecer, percebendo a influência que estava levando para os meus seguidores. Não era esse o legado que eu queria deixar neste mundo. Tive a oportunidade de me afastar e me reconectar com a minha essência. Assim surgiu o nome Téra, do reencontro com o que é essencial.
4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Esse é um grande desafio, manter o equilíbrio entre esses dois pilares, é preciso manter os dois organismos vivos e latentes, entendendo as prioridades de cada um e se dedicando conscientemente. Quando temos um planejamento definido, que flui nos dois pilares, é mais fácil de fazer essa conciliação. É necessário muita organização, mas também entender que o dia tem apenas 24 horas. Já coloquei muito a minha família e a minha saúde em segundo plano. Hoje o significado de sucesso profissional vai além dos resultados financeiros.
5. Qual seu maior sonho? Hoje me vejo vivendo e concretizando um sonho, meu propósito com a Téra encontra na moda uma forma de existir, mas é muito maior que isso. Tem a ver, de alguma forma, com inspirar novas atitudes em outras pessoas. Inspirar transformações internas. Acredito que “mudar o mundo” tem mais a ver com mudar a si mesmo e que é, sim, possível fazer as coisas de forma mais positiva, saindo da problematização para uma ação consistente, diferente e com capacidade de transformar.A Téra é o meu legado para o mundo. A concretização da minha ação em prol de um mundo melhor.
6. Qual sua maior conquista? Vencer a barreira entre sonhar com um mundo melhor e atuar no redesenho desse futuro.
7. Livro, filme e mulher que admira. Livros: “Sapiens, Uma Breve História da Humanidade”. É uma das obras-primas de Yuval Noah Harari, é um livro provocador, que nos faz pensar o quão breve é o tempo em que estamos no planeta Terra. Recomendo “Sapiens” a qualquer pessoa que esteja interessada na história e no futuro da humanidade. Outro livro do mesmo autor: “21 lições para o século 21”. Faz um belo complemento, nos mostra o atual cenário em que estamos vivendo e os cenários possíveis do futuro. Não poderia deixar de citar os livros do André Carvalhal, um especialista em design para a sustentabilidade, “Moda com Propósito” e “Moda Imita a Vida”. Filme: “Pad Man”. Conta a história real de Arunachalam Muruganantham. Uma bela história para empreendedores que estão inovando. Mulher: Posso citar inúmeras mulheres inspiradoras, mas deixo aqui a minha admiração pela Luiza Trajano.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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