Inteligência Artificial pode colaborar no planejamento de cidades inclusivas e sustentáveis? Sim e muito

Uso de técnicas avançadas de análise de dados possibilita uma compreensão mais profunda do funcionamento das regiões, além de otimizar o uso de recursos relacionados à infraestrutura

  • Por Helena Degreas
  • 21/06/2023 17h31 - Atualizado em 22/06/2023 07h23
Reprodução/Pixabay Inteligência artificial Inteligência artificial oferece uma série de benefícios trazendo uma análise mais precisa e abrangente de grandes conjuntos de dados

A Inteligência Artificial (IA) tem desempenhado um papel fundamental no planejamento de nossas cidades, trazendo benefícios significativos para a análise, tomada de decisões e desenvolvimento urbano. O uso de técnicas avançadas de análise de dados, aprendizado de máquina e algoritmos preditivos possibilitam uma compreensão mais profunda do funcionamento das cidades, identifica tendências, necessidades futuras otimizando o uso dos recursos disponíveis sejam eles ambientais, econômicos, relacionados à infraestrutura ou sociais.

Desde a implementação da lei que obriga as cidades a organizarem seu funcionamento e desenvolvimento urbano, o processo de revisão periódica dos planos diretores tem sido um momento crucial para a participação da população e a garantia da equidade no acesso à moradia, serviços e oportunidades. No entanto, muitas vezes, a falta de diálogo e a incapacidade de prever os impactos do crescimento urbano descontrolado têm gerado insatisfação entre os cidadãos e ativistas. Uma visita rápida às páginas de periódicos e redes sociais dos últimos dias é suficiente para comprovar que a insatisfação da população é, literalmente, “gritante” por meio de manifestações nas ruas apontando clara discordância frente às alterações apresentadas por vereadores sem os devidos estudos de viabilidade técnica de suporte dos equipamentos e infraestruturas públicas instaladas.

Diante desse contexto, as secretarias responsáveis pelo planejamento urbano têm adotado cada vez mais ferramentas digitais, como sistemas de informação geográfica (SIG), plataformas de participação cidadã online e outras tecnologias, para facilitar a análise de grandes volumes de informações e dados. As cidades brasileiras ainda têm um longo caminho a percorrer pois, distantes da compreensão da importância da criação de políticas públicas de Estado direcionadas à geração, organização, disponibilização, guarda e visualização de dados em tempo real para atender a eficiência e eficácias dos serviços públicos no atendimento do cidadãos e elaboração de políticas públicas que atendam a todos e não apenas a grupos específicos.

Só para se ter uma ideia, além dos profissionais tradicionais, como arquitetos, urbanistas, engenheiros, sociólogos, geógrafos e economistas urbanos, cidades como Cingapura, Dubai (Emirados Árabes), Estocolmo, Madri, Paris e Nova York têm incorporado equipes especializadas no gerenciamento de dados provenientes de várias fontes, incluindo dados institucionais, redes sociais e empresas. Essas equipes, compostas por profissionais como designers de mobilidade, ecologistas urbanos, cientistas de dados, engenheiros de dados, especialistas em visualização de dados, arquitetos de dados e analistas de dados, têm a capacidade de processar e interpretar informações em tempo real para subsidiar a tomada de decisões no planejamento urbano.

A aplicação da IA, mineração de dados, modelagem e outras ferramentas digitais quando aplicadas no planejamento das cidades oferecem uma série de benefícios trazendo uma análise mais precisa e abrangente de grandes conjuntos de dados, identificação de padrões, tendências e “insights” valiosos, permitindo uma compreensão mais profunda dos problemas e desafios enfrentados pelas cidades. Com base na compreensão entre causas e efeitos relacionados à infraestrutura disponível instalada e as futuras demandas nos processos de adensamento construtivo e populacional, os gestores públicos e planejadores urbanos podem tomar decisões mais informadas, embasadas em dados confiáveis, e direcionar recursos de forma mais eficiente e eficaz.

Isso é possível por meio da criação de modelos de simulação e visualização que permitem explorar diferentes cenários de desenvolvimento urbano com base nos dados históricos e em tempo real possibilitando avaliar os impactos das mudanças climáticas, por exemplo, e identificando problemas potenciais com a possibilitando a proposição de soluções eficientes para mitigar problemas. Essa abordagem preditiva do planejamento urbano ajuda a otimizar os recursos disponíveis, a projetar ambientes urbanos mais eficientes e a adaptar as cidades às necessidades da população.

Outro exemplo relevante para implantação de uma governança democrática e o uso de Plataformas de participação cidadã online que permitem que os cidadãos expressem suas opiniões, sugiram ideias e forneçam feedback sobre questões públicas. A IA e demais recursos a ela vinculados, podem analisar essas contribuições, identificar temas comuns e gerar insights. A análise de sentimentos e percepção da população tão comum em empresas que avaliam produtos de consumidores, quando aplicada ao serviços públicos ajuda os governos a compreender a opinião geral dos cidadãos, utilizando algoritmos de processamento de linguagem natural para identificar se os comentários são positivos, negativos ou neutros. A mineração de dados, por sua vez, utiliza IA para identificar padrões de comportamento, preferências e necessidades, permitindo que os governos obtenham informações valiosas para orientar o desenvolvimento de políticas públicas eficazes. A visualização de dados auxilia na apresentação clara e compreensível de informações complexas, criando visualizações interativas e intuitivas dos dados coletados. No entanto, é crucial garantir a privacidade e proteção dos dados dos cidadãos, adotando medidas de segurança e cumprindo regulamentações. Os dados coletados devem ser tratados de forma anônima e agregada, preservando a privacidade individual.

A sustentabilidade e a resiliência também são áreas em que a IA desempenha um papel crucial no planejamento urbano. A análise de dados ambientais, de transporte e energéticos permite identificar maneiras de reduzir as emissões de carbono, melhorar a eficiência energética, promover a mobilidade sustentável e mitigar os impactos das mudanças climáticas. A IA possibilita a criação de soluções inovadoras e orientadas para o futuro, tornando as cidades mais sustentáveis e adaptáveis.

O fato é que cidades com boas práticas de gestão pública utilizam recursos tecnológicos de IA para prever e modelar propostas de planejamento urbano, oferecendo soluções inovadoras para os desafios enfrentados pelas cidades modernas. Sua capacidade de análise de dados, análise preditiva e tomada de decisões eficientes permite criar cidades mais inteligentes, sustentáveis e inclusivas moldando o futuro das nossas cidades de maneira mais eficaz, criando ambientes urbanos melhores para se viver. É hora de aproveitar as qualidades da IA e abraçar essa transformação positiva no planejamento de nossas cidades.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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