Que a cidadania e a participação popular no trato das questões urbanas prevaleçam em 2023
Cidades democráticas são construídas por decisões tomadas a partir de indivíduos que conhecem, melhor do que qualquer político, o que fazer para que o ambiente em que vivem sejam melhores para todos
Ao revisitar as mais de 50 colunas escritas e outras tantas enquetes realizadas ao longo de 2022, foi possível identificar, a despeito dos temas tratados, o esgarçamento das relações entre aqueles que, eleitos, afastaram-se do trato das questões que afligem o cotidiano de vida das populações, priorizando sobremaneira, os interesses econômicos de grupos empresariais, em detrimento dos interesses públicos. Exemplos em todo o país foram sendo descritos pelos leitores que mostraram-se preocupados e indignados com os rumos sociais e ambientais de suas cidades e Estados, cujos atores políticos inspirados pela boçalidade originada pelo inquilino do Planalto e dos nobres congressistas, adotaram ações de incentivo à corrosão social e ambiental, como método de gestão para a coisa pública. Percebendo-se incapazes de encontrar os instrumentos necessários para chamar à realidade aqueles em quem confiaram seus votos para administrar o país e o dia a dia dos cidadãos, estes leitores apontam para o ano de 2023, a necessidade de ações concretas por parte do novo presidente e demais eleitos de fortalecimento da democracia por meio da utilização dos instrumentos institucionais de participação política e ampliação do poder popular como meio para alcançar a justiça social, a igualdade e a inclusão encerrando, de vez, os atos produzidos em gabinetes e à porta fechadas ao longo dos últimos anos e que prejudicaram as populações mais pobres e nossos biomas.
Os leitores também reivindicaram, em suas postagens, os direitos de populações vulneráveis e comunidades periféricas que, histórica e socialmente esquecidas, quando não abandonadas pela ausência do Estado, deverão ter prioridade na produção de políticas afirmativas integradas entre os três entes federativos objetivando o acesso à moradia, o fim da remoção forçada de famílias em ocupações, a urbanização de núcleos precários com realização de obras para regularização fundiária, inclusão de equipamentos públicos e adequação de infraestrutura em bairros autoconstruídos, a adoção de crédito para financiamento de reformas e melhorias em autoconstruções além da constituição de uma reserva de habitações por parte das prefeituras utilizando-se dos recursos previstos no Estatuto das Cidades.
Nos espaços públicos urbanos, os leitores buscaram o direito de usar, ocupar, habitar, locomover-se e de realizar tarefas cotidianas de forma segura cobrando de seus representantes, cidades seguras, ambientalmente sustentáveis, igualitárias e democráticas. Os espaços públicos foram descritos como os lugares de encontro, da diversidade, da expressão cultural e da ação política, afirmando que é nas ruas, praças, escolas, parques e bibliotecas, os lugares onde a vida social pública acontece e que acolhem a diversidade, a possibilidade de ver e ser visto e de manifestação cultural da identidade do brasileiro. Para os gestores públicos que insistem na privatização total da gestão da coisa pública, fica aí o recado: o consumo do espaço não se impõe ao exercício da cidadania. Fiquem espertos.
Em suas críticas e comentários realizados pelas enquetes, evidencia-se a busca por planos e ações públicas voltados ao equilíbrio ambiental e à sustentabilidade por meio da revisão de rotinas e processos associados na gestão do espaço urbano e de suas infraestruturas em todo o território da cidade, das áreas centrais às periferias longínquas como ferramenta para a reversão das desigualdades sociais, ambientais e territoriais que historicamente, persistem como modelo econômico urbanizador.
Não pretendia citá-los, mas, com o objetivo de não faltar à verdade, houve também a presença de um grupo que considero maligno, mas tratável por profissionais formados na área da saúde e que inundou minhas redes sociais por meio do uso sistemático de expressões de baixo calão e da argumentação que foge à sanidade mental. Sou urbanista de formação, não sou psiquiatra. Críticas são sempre bem-vindas, mas, julgamentos morais, construídos a partir de princípios eivados de erros e vícios, não. Boçais que são, persistem em acompanhar cegamente um salvador que, prometendo-lhes o mundo, viajará, antes do final do ano, em férias para Miami com a família. Longe de seus fiéis seguidores, irá comemorar os feitos dos últimos quatro anos que, apenas para refrescar a memória, levaram à morte cerca de 700 mil pessoas, à fome mais de 10 milhões de cidadãos e à destruição ambiental com a derrubada de 9.069 km² em florestas nativas correspondentes a quase oito vezes a cidade do Rio de Janeiro (Fonte: Imazon). Já vai tarde.
Cidades democráticas são construídas e legitimadas por meio da participação política de todos os grupos sociais, não apenas por governantes ou por empresas, mas principalmente por decisões tomadas a partir de indivíduos e coletivos que conhecem, melhor do que qualquer político e técnico de gabinete, o que fazer para que sua vida, sua cidades e o ambiente em que vive sejam melhores para a vida de todos. Tem alguma dúvida ou quer sugerir um tema? Escreva para mim no Twitter ou Instagram: @helenadegreas.
Quais temas você gostaria de ler nas colunas de @helenadegreas em 2023?
Saiba mais no link:https://t.co/XDXIA4KT1S
— Jovem Pan News (@JovemPanNews) December 27, 2022
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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