Você está preparado para enfrentar o verão de 2024 com temperaturas superiores aos 50 °C na sua cidade?

Prepare-se para dias abafados, noites mais quentes e maior frequência de tempestades no verão; má gestão ambiental agrava o problema

  • Por Helena Degreas
  • 11/08/2023 12h01 - Atualizado em 11/08/2023 15h00
KAZUHIRO NOGI / AFP calor japão Pedestres se refrescam na névoa de água durante ondas de calor em Tóquio em 18 de julho de 2023

Segunda-feira, fim de tarde, 29°C, inverno na cidade de São Paulo. Olhei pela janela. Uma capa de poluição cinzenta cobria o horizonte. O ar estava muito seco. Pensei na dificuldade em ministrar uma aula expositiva. Rinite literalmente “atacada” como diriam algumas pessoas que, como eu, moram em áreas centrais e muito poluídas. “Bom”, pensei, “vou levar pastilhas para a garganta, tomar líquidos e, quando voltar, vou ligar o umidificador de ar para dormir”. O corpo reclama, adoece, mas, como as soluções dependem de políticas urbanas e gestores urbanos comprometidos com a saúde pública, não tenho muito o que fazer a curto prazo.

Pensei na população que mora em áreas sem asfalto, sem árvores, sem parques, sem nada. Moradores urbanos, pagadores de impostos que, longe das áreas centrais, são destituídos da infraestrutura necessária para enfrentar o próximo verão que, pelas pesquisas e relatórios científicos, promete ser tórrido. Segregação literal. Cidadãos sem direitos. Se nas áreas centrais prevalece a concentração de edificações, asfalto, concreto e outros materiais construtivos que absorvem e retêm calor, resultando em temperaturas mais elevadas do ar e das superfícies, nas regiões periféricas caracterizadas por territórios densamente construídos, com poucas áreas abertas e sombreamento, a mesma situação ocorre, criando um fenômeno conhecido como ilhas de calor urbanas. Durante o dia, esses materiais absorvem energia solar, aquecendo o ambiente, e à noite, liberam gradualmente o calor acumulado, mantendo a área mais quente do que seu entorno. Não bastasse a aridez dos materiais, a escassez de vegetação e árvores nas áreas urbanas reduz a sombra e a capacidade de resfriamento natural. A combinação desses fatores contribui para que algumas áreas da cidade apresentem temperaturas mais altas do que outras, impactando negativamente o conforto térmico e a saúde dos moradores.

Estima-se que mais de 60 mil pessoas no mundo possam ter morrido em decorrência das altas temperaturas que vêm sendo registradas em diversos países do hemisfério norte no último ano. Idosos, crianças, pessoas com diferentes comorbidades são vulneráveis às ondas de calor que, a cada ano, são mais frequentes e intensas. Cinquenta graus, associados à secura do ambiente, são condições de calor extremo. Nesta situação, o corpo humano enfrenta vasodilatação e suor para dissipar o calor, aumentando a frequência cardíaca e potencializando o estresse pulmonar. A desidratação pode ocorrer, enquanto a insolação é uma ameaça grave.

Não é necessário ser um profundo estudioso sobre questões ambientais para sentir na pele e na saúde que o clima mudou e como esta situação vem afetando o dia a dia das pessoas. As imagens de TV que mostram o degelo nas calotas polares, o aumento dos níveis dos oceanos e inundações que engolem ilhas e áreas costeiras, os incêndios florestais que transformam em poucos minutos cidades em cinzas já podem ser sentidos aqui e agora por qualquer ser vivo. O que governos estão fazendo para mudar a situação? Quais são as políticas públicas que chefes de Estado vêm desenvolvendo para mitigar os efeitos negativos que afetam a minha e a sua saúde? De onde virão os recursos financeiros?

O Brasil sediou nos dias 8 e 9 a Cúpula da Amazônia, encontro que reuniu chefes de Estado dos oito países cujos territórios são ocupados pela floresta. Durante o evento, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela buscaram construir diretrizes conjuntas para orientar políticas e programas com o objetivo de alcançar o desmatamento zero até 2030.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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