Varíola do macaco não é motivo para pânico neste momento

Infectologista e dermatologista falam sobre a doença, que já chegou ao Brasil

  • Por Jaqueline Falcão
  • 14/06/2022 10h00 - Atualizado em 14/06/2022 12h51
Isaac Fontana/CJPress/Estadão Conteúdo Fachada do Emílio Ribas, com uma profissional da saúde vestida à caráter passando pelo local Instituto de Infectologia Emílio Ribas identificou um dos casos de varíola dos macacos do Estado de São Paulo

Ouvimos dois especialistas, com exclusividade, sobre a varíola dos macacos. Em São Paulo, dois casos foram confirmados. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota técnica para orientar hospitais, clínicas e demais serviços de saúde sobre os procedimentos que devem ser feitos nos casos  de varíola do macaco (monkeypox). Para o controle de infecções, a agência recomenda que seja mantida uma distância mínima de 1 metro entre os leitos dos pacientes, acomodação em quarto privativo e bem ventilado, isolamento dos infectados até o desaparecimento das crostas das lesões e instalação de barreiras físicas em áreas de triagem de casos suspeitos. O que dizem os especialistas:

Estevão Urbano, médico infectologista, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e membro do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). É motivo para grande preocupação neste momento? Não é motivo de preocupação porque a transmissão da varíola dos macacos é mais difícil. Ela depende de um contato próximo com outra pessoa  contaminada por um tempo bem maior do que se exige para Covid-19. Não estamos vendo a doença explodir no resto do mundo, mesmo onde há casos documentados. Mas isso não significa que tenhamos que aumentar nossas preocupações. Só não há motivo para pânico. Uma preocupação é que muitas vezes as pessoas já são transmissoras antes de ter as lesões na pele. Quando tem a lesão na pele fica mais fácil de ser identificada e isolada. Se não há lesão, através do espirro e da tosse pode transmitir esse vírus. O uso de máscara poderia reduzir bastante a transmissão, principalmente em locais fechados e pouco ventilados. Por enquanto, a epidemiologia no Brasil está tranquila.

Os sintomas iniciais podem confundir com outra doença? Os sintomas iniciais parecem como qualquer virose, qualquer gripe, como febre,  dor nas articulações, muita fadiga. Mas os sintomas mais específicos, que são as lesões cutâneas, podem ser confundidos com catapora e de algumas outras viroses de manifestações na pele.

Egon Daxbacher, médico dermatologista,  coordenador do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Quais cuidados a população deve tomar neste momento? No momento, é importante que a população fique atenta aos canais de comunicação confiáveis, como o site e redes de sociedades de especialidades médicas e da ANVISA. Se a pessoa viajou para algum país com surto da doença ou teve contato com alguém com suspeita da doença, ela pode procurar um posto de saúde ou um dermatologista para averiguar mais sobre seu estado de saúde, caso esteja sentido algo ou com alguma manifestação na pele.

É motivo para pânico? Pelo fato do monitoramento de casos já estar ocorrendo, não existe motivos para pânico. A doença não possui gravidade importante relatada nos casos já diagnosticados, o que serve para tranquilizar. O importante é ressaltar que as pessoas fiquem atentas aos sinais e sintomas e, ao desconfiarem de algo, procurem um serviço de saúde mais próximo. Além disso, todos devem ficar ligados nas redes sociais de especialidades médicas e de veículos de imprensa seguros.

Transmissão. Sobre as formas de contaminação, a SBD esclarece que as vias principais são as mordidas de animal ou a manipulação de espécimes já infectados. Há relatos de surtos com transmissão entre humanos, o que, segundo a Sociedade, envolve a necessidade de contato próximo, em geral, de formas direta (com fluidos corporais) ou indireta (com pertences de doente). No entanto, ambos de baixa infectividade. A SBD chama a atenção para alguns fatos que estão sendo investigados. O primeiro deles é de que, em alguns países, os pacientes não tinham estado no continente africano e negavam contato com animais doentes, mas, haviam tido passagem por áreas com aglomeração ou favoráveis ao contato direto de pessoas. Conforme esclarece a entidade, a manifestação clínica dessa doença ocorre através de lesões de pele. Inicialmente, surgem pequenas bolinhas que rapidamente se transformam em bolhas com pus. Ao romperem, elas formam crostas que caem permanecendo como pequenas feridas. Há registros de outros sinais, como febre, mal-estar, ínguas (gânglios aumentados), dor de cabeça e dor no corpo.

Curtas

  • Idosos sem vacina pneumocócica

Apesar do aumento na expectativa de vida e da maior probabilidade dos mais velhos desenvolverem pneumonia, a vacina pneumocócica ainda não está amplamente disponível pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Em abril, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) abriu uma Consulta Pública para discutir a expansão o acesso da vacina pneumocócica 23 (VPP23) a todos acima dos 60 anos, mas o resultado foi negativo e o imunizante continua fora dos postos de saúde. “A sociedade está envelhecendo. A longevidade precisa acontecer com qualidade de vida e a imunização contra as doenças pneumocócicas, tão expressiva em idosos, é importante”, conclui a médica Licieri Marotta, gerente médica de vacinas da MSD.

  • Mitos e verdades em relação à fertilidade

Junho é também é o mês da Conscientização Sobre a Infertilidade. Assim, o ginecologista especialista em reprodução assistida da Huntington Medicina Reprodutiva, Maurício Chehin, esclarece as principais dúvidas e desvenda alguns mitos sobre o tema. É verdade que usar dispositivos eletrônicos no colo por longos períodos pode prejudicar a fertilidade masculina. Uma pesquisa da Live Science apontou que os espermatozoides mantidos na mesma temperatura e deixados afastados de equipamentos eletrônicos possuem mais mobilidade e menos danos ao DNA em relação aos que ficaram quatro horas perto dos dispositivos. É mito que o uso contínuo de pílula anticoncepcional interfere nas futuras chances de engravidar.

  • Avanço para uso de células CAR-T para o tratamento de câncer

O tratamento contra os diferentes tipos de cânceres hematológicos está em meio ao um processo revolucionário, impulsionado por pesquisas e estudos clínicos sobre uso de infusão das células CAR-T para cuidar de pacientes de alto risco e com grandes chances de progressão da doença. As terapias com CAR-T usam as próprias células de defesa do organismo da pessoa doente modificadas em laboratório. As células T, responsáveis pelas respostas imunológicas do organismo humano, são retiradas dos pacientes com câncer e modificadas para que reconheçam as células tumorais. Então é iniciado um processo de expansão celular que resulta na destruição dos tumores. A Anvisa aprovou o uso de dois produtos com células CAR-T. Um deles contra dois tipos de câncer hematológico (leucemia e linfoma de células B); e o outro contra mais um tipo de câncer hematológico: o mieloma múltiplo. “Enxergamos a terapia celular e o CAR-T como o futuro da medicina. São dados excelentes de resultados de tratamentos para pacientes que dificilmente teriam outra chance de cura. Nesse sentido, estamos trabalhando junto às empresas que estão trazendo o CAR-T para o Brasil”, afirma Aline Souza, Superintendente Médica de Terapia Celular do Grupo GSH, que está em processo para se habilitar no tratamento com uso das células CAR-T.

  • Livro orienta estilo de vida mais saudável

Os médicos Gilberto Ururahy e Galileu Assis lançam o livro “Saúde É Prevenção”, pela editora Rocco. Fundadores da clínica Med-Rio Check-up, os médicos, a partir da experiência de mais 30 anos trabalhando com medicina preventiva, traçam um guia para que todos possam seguir um estilo de vida saudável – com alimentação balanceada, atividade física regular, sono reparador — com foco em prevenir ao invés de remediar. Para Ururahy, a pandemia impôs uma necessidade ainda maior de ser falar em hábitos de vida saudáveis e prevenção. Porém, observa o médico, nem sempre é fácil mudar o estilo de vida. E o livro oferece orientação para mudar esse cenário, que é extremamente preocupante, ainda mais quando se observa que estudos apontam que 73% das mortes nas grandes cidades estão ligadas aos maus hábitos, como sedentarismo e má alimentação. “A principal mensagem do livro é que estilo de vida saudável mais exames preventivos é igual à longevidade com autonomia”, reflete.

  • ‘Sabemos o que fazer’, diz secretário David Uip

O médico David Uip, secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento do estado de São Paulo, disse, durante a 11ª edição do Fórum LIDE de Saúde e Bem-Estar, os desafios da pasta. “Nós sabemos o que fazer. Basta fazer. E para isso, é preciso o envolvimento de todo mundo. Se nós conseguirmos trabalhar a base, aumentamos a qualidade de vida, a sobrevida do cidadão e reduzimos o custo do sistema de saúde”.

  • Farmacêuticas unem esforços para terapia inovadora

A farmacêutica brasileira Cellera Farma e a empresa suíça Ferring acabam de firmar uma parceria, unindo suas maiores competências para o desenvolvimento de um medicamento inovador no país na área de gastroenterologia. “A parceria com a Ferring no projeto DLG fortalece nosso posicionamento em gastroenterologia”, comenta o CEO da Cellera, Omilton Visconde Júnior. Para Rafael Suarez, CEO da Ferring, a oportunidade de ingressar no mercado brasileiro com um fármaco inédito traz uma perspectiva positiva.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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