Bolsonaro tem de ser rápido na apuração de denúncias de corrupção em tempos de ‘covidão’

A máquina pública no Brasil é dominada pelo regime do crime institucionalizado, que pratica a corrupção sistêmica, blindando quem ‘rouba’ dinheiro público

  • Por Jorge Serrão
  • 30/06/2021 15h32
WALLACE MARTINS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - 26/05/2021 O presidente da República, Jair Bolsonaro, usa máscara de proteção branca e veste terno preto durante evento oficial Nesta quarta-feira, Bolsonaro criticou novamente os senadores da CPI da Covid-19

O Presidente da República não tem outra alternativa senão mandar apurar, com todo rigor, todas as denúncias de corrupção que a CPI do Covidão atirou sobre seu governo. Jair Messias Bolsonaro deve fugir da armadilha retórica simplista de reclamar que todas as acusações são meras manobras da “oposição”. Podem até ser, porém isso pouco importa em meio a uma guerra de narrativas, na qual as versões propagadas e propagandeadas valem menos que os fatos concretos. É hora de o governante botar o dedo na ferida: a estrutura da máquina estatal é cleptocrática, corrupta e tem de ser passada a limpo, custo o que (e a quem) custar. Do contrário, o regime do crime institucionalizado sairá vencedor no final das contas, e não vai adiantar reclamar, em outubro e novembro do ano que vem, que “perdeu a eleição” por “roubo”.

Os corruptos tupiniquins precisam tomar (no braço?) e sentir as dores reais de uma vacina simbólica chamada “PFVAC”. O remédio amargo da Polícia Federal tem de ser aplicado com todo rigor, independência e transparência. Era previsível que o lucrativo negócio global da indústria farmacêutica produziria algum caso de corrupção nos governos que têm atribuição e capacidade de comprar vacinas, medicamentos, insumos e outros produtos essenciais no enfrentamento da Covid-19. Por sorte, desde o começo da “pandemia”, a Controladoria-Geral da União, a Procuradoria-Geral da República, o Tribunal de Contas da União e a Polícia Federal aumentaram o monitoramento para identificar riscos e indícios de esquemas irregulares, ilegais e criminosos nas negociações, intermediações e contratos no setor de saúde, na União, Estados e Municípios.

A guerra de narrativas é inconclusiva. Versão dos fatos: Na CPI, a oposição denunciou a compra superfaturada (inexistente) da Covaxin. Também espalhou a fake news de que o governo pagou propina para intermediário da AstraZeneca, enquanto a empresa advertiu que nem tinha intermediários na negociação oficial. O ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta tentou surfar na onda das supostas denúncias contra o governo, no Twitter: “Cai a desculpa de que o problema na saúde era logística. Transparece o tráfico de interesses escusos, típicos do toma lá dá cá que este governo dizia combater. Fatos graves. Esclareçam!”. A deputada estadual Janaína Paschoal (SP) deu um conselho muito útil a Jair Bolsonaro: “Presidente, manda apurar e afasta quem deve ser afastado! Há situações que necessitam ser enfrentadas rapidamente. Não adianta aguardar. Ninguém vai resolver”. Janaína acrescenta: “Na dúvida, o Presidente deve afastar o líder do Governo! Os indícios são consistentes! A presunção de inocência vale para o Direito Penal”. Quem está na berlinda é o deputado Ricardo Barros – que faz tudo para depor na CPI do Covidão.

Fatos concretos: O servidor Roberto Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde e acusado de cobrar propina de US$ 1 dólar na compra de vacinas, foi nomeado na gestão do Mandetta. O líder do governo, Ricardo Barros, nega que tenha sido o padrinho dele no cargo. O governo federal suspendeu, preventivamente, a compra da vacina indiana. O Ministério da Saúde prometeu uma análise criteriosa de contratos para apurar eventuais irregularidades. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, advertiu ontem que vai avaliar se cabe ou não prorrogar, por 90 dias, o prazo para o encerramento da CPI, como já pediu o senador Randolfe Rodrigues.

Resumindo: A crise do Covidão desgastou Bolsonaro. Mas foram governadores e prefeitos quem promoveram lockdown no modo tupiniquim. Abusaram da autoridade. Impediram o direito de ir e vir. Trancaram tudo. Faliram empresas. Exterminaram postos de trabalho. Sorte do cidadão é que esses governantes se sabotaram. Arcam com a queda de arrecadação e com altos índices de impopularidade pelas medidas equivocadas. Agora, aproveitam a retomada da economia para aumentar impostos e tentar encher os cofres públicos. Todos seguem providencialmente blindados pela extrema mídia que tenta jogar a culpa de tudo errado no presidente Bolsonaro – sabotado pela minoria legislativa e pela maioria Suprema. Haverá tempo para agir, em vez de reagir? O tempo urge e ruge contra Bolsonaro. O establishment aposta no desgaste e derrota dele em 2022.

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