Fator Ômicron, economia ‘bombando’ e viabilidade de Moro afetam reeleição de Bolsonaro

Favoritismo do presidente depende de melhora dos indicadores econômicos e da percepção popular de que os investimentos em infraestrutura vão realmente turbinar crescimento do emprego e renda

  • Por Jorge Serrão
  • 29/11/2021 15h16
José Dias/PR - 02/11/2021 Jair Bolsonaro em entrevista para a para Sky News Itália Presidente Jair Bolsonaro ainda não confirmou sua candidatura à reeleição

Um dos principais problemas brasileiros do momento é a juristocracia. Não faz bem ao país a ilegítima hegemonia de um suposto “Poder Supremo”, não eleito, sobre os demais poderes. Curiosamente, nesse cenário esquisito, na campanha presidencial levianamente antecipada, surge como invenção de “terceira via” o nome de um juiz (com todo jeitinho autoritário, mas sorriso enigmático de Monalisa) para ser Presidente da República. Pode isso? Será que estamos e desejamos permanecer em um manicômio judasciário a céu aberto? Essa questão pode representar um obstáculo à evolução da candidatura de Sergio Fernando Moro. Curiosamente, ele é uma das vítimas do tal “Poder Supremo”, que o considerou “suspeito”, anulou suas sentenças na Lava Jato e “decondenou” Luiz Inácio Lula da Silva, devolvendo os direitos políticos ao poderoso chefão do PT, que pode disputar a eleição presidencial 2022 contra o próprio Moro (caso o ex-juiz consiga se viabilizar politicamente). O certo é que o Brasil precisa de “menos juiz, Judiciário melhor e mais Justiça”.

Leviana e irresponsavelmente precipitada, a sucessão presidencial de outubro/novembro de 2022 tem algumas certezas. A primeira é que o candidato a ser batido tem nome: Jair Messias Bolsonaro. Além de ter a máquina na mão e de contar com a sustentação política do “Centrão” para não ser “destronado” antes do tempo regulamentar e constitucionalmente previsto, Bolsonaro tem muitas realizações a apresentar na evolução da infraestrutura – que tem investimentos contratados de mais de R$ 2 trilhões para os próximos anos. A evolução da economia real – e não dos indicadores tradicionais – é um trunfo a favor de Bolsonaro. A oposição aposta no fracasso estrutural (que tende a não ocorrer) e adoraria um desastre imprevisível (uma nova onda da pandemia, que arrase com a economia) para ter alguma chance eleitoral contra Bolsonaro – favorito indiscutível à reeleição.

A “terceira via” contra Bolsonaro ainda é uma possibilidade (não concreta). Sergio Moro é uma incógnita que precisa se viabilizar até abril. Vai ter de ralar muito. Num primeiro momento, terá de atirar mais em Lula que em Bolsonaro. Terá de evitar ataques muito intensos contra Ciro Gomes e, sobretudo, João Doria – com quem pode ter de se aliar mais à frente. Moro deve apanhar muito de Lula – seu inimigo preferencial, e não apenas um adversário político. Doria fará de tudo para cooptá-lo como vice, mas o contrário também deve ocorrer. A união entre ambos dependerá de quem vai estar à frente nas pesquisas, até a proximidade das convenções finais dos partidos (em junho) que definirão quem realmente estará na disputa ao Palácio do Planalto.

Agora, quem entra de surpresa na sucessão precipitada é o “fator ômicron”. A nova cepa assassina do covid – originalmente vinda da África do Sul – é o que pode desestabilizar e desorganizar o tabuleiro do complexo jogo eleitoral de 2022. Uma eventual eclosão da nova onda da doença abala a economia, e tende a causar mais prejuízos políticos a Jair Bolsonaro, que depende da percepção popular e da efetiva melhora econômica para turbinar a reeleição. Em tese, o governo federal não teria recursos suficientes para repetir o “auxílio emergencial” que atenuou os efeitos caóticos do “fecha tudo, fique em casa que a economia a gente vê depois”. Por tudo isso, mesmo com o ligeiro favoritismo de Bolsonaro, o pleito de 2022 começa com prognóstico de resultado mais aberto que nunca. Establishment, “Poder Supremo”, oposição e “covidão” jogam contra Bolsonaro.

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