Lula produz crise militar em menos de um mês   

Ex-ministro Nelson Jobim já atua como bombeiro nos bastidores; na área militar, oficiais da ativa e na reserva rejeitam qualquer retaliação contra o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro

  • Por Jorge Serrão
  • 23/01/2023 12h59
Reprodução/Twitter/@lulaoficial Lula cumprimenta novo general do Exército O general Tomás Miné Ribeiro Paiva foi nomeado por Lula como comandante do Exército

A extrema imprensa de Bruzundanga brincou com a manchete: “Geraldo Alckmin assume a Presidência da República”. Será que fomos jogados em uma máquina do tempo com acelerada ejaculação política precoce? Confirmou-se a maldosa teoria conspiratória resmungada durante a campanha eleitoral? Ocorreu algum “golpe” e não ficamos sabendo? Nada disso! Domingo, 22 de janeiro, sob intensa ventania na Base Aérea de Brasília, antes de viajarem para a Argentina, Lula e Janja “transmitiram o cargo” para Geraldo e Lu. Cumpriu-se uma regra obsoleta — que nem claramente está escrita. O artigo 79 da Constituição prescreve que o vice só substitui o presidente em caso de impeachment ou lhe sucede se a vaga for aberta por morte, renúncia ou afastamento. Fala sério!!! Viagem ao exterior não deveria ser motivo para a passagem do bastão presidencial em plena era digital, com comunicação instantânea e assinatura eletrônica. O Brasil insiste em praticar essa inútil estupidez — que já registrou crises ao longo da história. Os EUA nunca fizeram isso! Polêmica à parte, concretamente, até Lula retornar, Geraldo é o “titular” da Presidência. A petelândia não deseja algo parecido nem no pior pesadelo. Maledicentes fofocam que, nos arredores da Praça dos Três Poderes, tem gente que adoraria que Geraldo substituísse o Lula definitivamente. Acontece que ainda parece cedo para tamanha conspiração golpista.

O tempo ruge… E urge… Lula e Geraldo assumiram no primeiro dia do mês e do ano. No entanto, como o PT retornou com esclerosadas medidas que tomou no passado, fica a impressão de que os brasileiros foram jogados em uma máquina do tempo que corre, apressada, do passado desagradável para um futuro incerto. Politicamente, o clima nunca foi tão tenso, em vinte e poucos dias de mandato. A barbárie de 8 de janeiro de 2023 (com invasão e depredação dos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal) foi um perigoso ponto fora da curva institucional. A narrativa oficial tenta chamar de “golpe”. Só que a baderna não teve objetivo claro de insurreição. Até porque nem havia poderosos nos prédios. Mesmo assim, a Corregedoria do Tribunal Superior Eleitoral, devidamente provocada pelo PT, determina que o ex-presidente explique sua eventual relação com a “tentativa golpista”. O TSE também manda Bolsonaro justificar o questionamento intempestivo do resultado eleitoral, com o tal papel achado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, sobre algo legalmente impossível: a decretação de Estado de Defesa no órgão eleitoral. O bagulho é doido!!!

Em menos de um mês na Presidência, o comandante-em-chefe Lula conseguiu gerar uma crise militar absolutamente desnecessária. No sábado (21 de janeiro), mandou trocar o comandante do Exército. Lula teria ficado PT da vida com o general Júlio César Arruda. Nos bastidores, os motivos especulados foram um certo corpo mole na retirada dos manifestantes no entorno dos quartéis e a contrariedade em não cancelar a indicação do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro para o comando de uma tropa de Operações Especiais. Alvejado por críticas nas redes sociais — principalmente pelo fogo nada amigo de oficiais da ativa e da reserva —, o novo comandante, general Tomás Miné Ribeiro Paiva, terá imensa dificuldade em “cumprir a ordem” de punir o tenente-coronel Mauro Cid, porque ele tem qualificação para o posto ao qual foi indicado, no 1º Batalhão de Ações e Comandos, o 1º BAC, em Goiânia. Cid é Forças Especiais, Comandos e 01 na Aman. Além disso, é querido no Exército Brasileiro. E o pai dele é um influente general de quatro estrelas (atualmente na reserva). Na caserna, a “punição” a Cid é vista, claramente, como “uma estúpida retaliação a Bolsonaro”. A bomba foi jogada no colo do general Tomas Miné. Terá ele condições de cumprir o famoso lema: “Missão dada; missão cumprida”?

Já tem gente de peso atuando nos bastidores para evitar a ampliação de uma crise militar, absolutamente desnecessária em um começo de governo. Um dos principais apoiadores e articuladores da candidatura de Lula — e que tem muita influência entre os generais — já entrou em campo. O ex-tudo (constituinte, ministro da Justiça, da Defesa, membro do Supremo) e atual banqueiro Nelson Jobim não deseja confusão. Jobim condena qualquer tentativa de dirigentes radicais do PT em “queimar” o atual ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e recomendou publicamente ao presidente Lula que é preciso agir com “destreza” e “sem retaliação” para “não fortalecer o extremismo” (no caso, Bolsonaro). Jobim condenou que Lula tenha retomado o polêmico assunto sobre o papel de “poder moderador” das Forças Armadas. Enfim, o estratégico diretor jurídico do banco BTG rejeita que Lula crie uma prematura confusão com a área militar (que o ex-presidente Bolsonaro tanto prestigiou). Resumindo: não existe qualquer clima para “golpe” (militar). Só que Lula não deve aplicar qualquer “golpe” nos militares (bonsonaristas ou não). Simples assim.

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