Depoimento de Pazuello na CPI da Covid-19 levará senadores a serem cuidadosos

Parlamentares ouviram que ‘causa constrangimento’ um general da ativa sentar numa cadeira de CPI como investigado, mas, neste caso, as respostas são sobre sua atuação como ministro, não como militar

  • Por José Maria Trindade
  • 19/05/2021 09h14
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Marcelo Camargo/Agência Brasil Vestido com roupa militar, o general Eduardo Pazuello aparece sentado atrás de uma mesa, com uma bandeira do Brasil atrás dele Pazuello vai responder perguntas sobre sua atuação como ministro da Saúde durante a pandemia de Covid-19

A vinda do general Eduardo Pazuello ao plenário da CPI da Covid-19 do Senado foi cercada de cuidados e negociações. Integrantes da CPI entraram em contato com representantes do Ministério da Defesa e com comandantes do Exército sobre a necessidade do depoimento e acertos de detalhes. Senadores ouviram que “causa constrangimento” um general da ativa sentar numa cadeira de CPI como investigado, mas, neste caso, as respostas são sobre atividade civil, como ministro, e não como comandante militar. Por parte da comissão, a promessa é de não fazer do depoimento um ato de ataque contra as Forças Armadas. O próprio presidente da CPI, senador Omar Aziz, falou com o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Oliveira. Em linhas gerais, o ex-ministro será tratado por senhor, vossa senhoria e não como general. Isto não impede que um senador o chame pelo que ele é, um general e na ativa. A decisão para que Pazuello não sente na cadeira quente da CPI usando farda foi tomada pelos comandantes. 

Historicamente, dar explicações a uma CPI já representa um constrangimento forte. Dizia o vice-presidente da CPI da Previdência no governo Collor, o então senador Mario Covas, que a simples instalação da CPI já é uma reprimenda política para o governo. Já houve choros em depoimentos, ataques nervosos de risos, mentiras e cara de pau. “Deus me ajudou”, disse o investigado deputado baiano, João Alves, um dos anões do orçamento, para explicar o rápido enriquecimento. Na CPI, a apuração descobriu que ele acertou 14 vezes na loteria. Excesso de sorte? Não! Ele comprava bilhetes premiados para justificar o recebimento de dinheiro. As ex-mulheres também fizeram estragos nas vidas dos ex-maridos em depoimentos na CPI. O então deputado Manoel Moreira, de São Paulo, foi confrontado com detalhes de negociação de propinas. A ex-mulher escutava as reuniões e passou tudo na CPI. “Quem possuiu uma mulher como esta não precisa de inimigos”, se resignou o investigado, concluindo que seria impossível responder com argumentos.

Um caso famoso de conhecimento da força de uma CPI foi o do presidente Itamar Franco. O ministro-chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, foi convocado. “Ministro meu não presta depoimento em CPI”, reagiu Itamar. Fez publicar a demissão de Hargreaves e, depois do depoimento, o nomeou de volta com a constatação de que não havia crimes imputados ao auxiliar. Desta vez, um general está no banco dos investigados. Uma situação incômoda para as Forças Armadas e para o Exército. Com ou sem farda, o general Pazuello é da ativa. Já prevendo dificuldades, os comandantes pressionaram para que ele fosse para a reserva quando assumiu o Ministério da Saúde. Ele resistiu. A estratégia dele é chegar à quarta estrela. Por ser de intendência, a tradição do Exército não contempla a promoção a esta arma. Eduardo Pazuello quer quebrar esta norma não escrita e até furar a fila para a promoção. A proximidade dele com o presidente Jair Bolsonaro é importante, mas a sua situação jurídica dificulta e muito este caminho.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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