Documento da Defesa sobre as urnas reafirma segurança, mas reforça pedido de credibilidade ao processo

Senador Randolfe Rodrigues, representante da Rede, quer convidar o ministro Paulo Sérgio para explicações sobre o que ele considera ataques ao sistema eleitoral

  • Por José Maria Trindade
  • 13/06/2022 08h00
Tiago Hardman/Futura Press/Estadão Conteúdo Urna eletrônica com a palavra FIM escrita Ministério da Defesa afirmou que 39% das urnas não passaram por testes públicos

As urnas eletrônicas não foram reprovadas pelos militares. O documento enviado ao Tribunal Superior Eleitoral pelo ministro da Defesa, general Paulo Sérgio, reafirma a segurança das urnas, mas coloca novas sugestões para aumentar a confiabilidade do processo. Em resumo, o documento sugere que existem ainda possibilidades de interferência e é preciso se antecipar aos problemas. O senador Randolfe Rodrigues, representante da Rede, quer convidar o ministro da Defesa para explicações sobre o que ele considera ataques ao sistema eleitoral, mas não precisa. Comandantes militares adiantam que não querem tomar o protagonismo da política, querem tranquilidade, paz, democracia e credibilidade do processo eleitoral. O reforço do documento é pelo pedido de credibilidade.

Os militares estão irritados com dois pontos nesta relação com os ministros do Tribunal Superior Eleitoral. Primeiro, quando ouviram que há entre militares ataques à democracia. “Isto não é verdade. Estamos apenas fazendo sugestões para aprimorar o sistema”, segundo me falou um alto comandante do Exército. Há uma preocupação da caserna na ligação da imagem do presidente com os militares. Outro ponto que preocupa vem dos ataques à credibilidade das Forças Armadas. “Estão querendo dizer: eles não são tão honestos assim”, diz um comandante. Houve dificuldades para explicar até para os próprios militares as publicações sobre gastos com próteses penianas e medicamentos contra impotência. Foi um estrago até internamente, na imagem das forças, que já foi contabilizado. Nada provoca mais descontentamento no setor do que a acusação de que os militares pregam contra a democracia. “Não é verdade!”, exclama o comandante, alertando que o esforço é para se manter no plano constitucional e se colocando como garantia até do processo democrático. 

Os militares dizem que foram tratados com desdém neste debate sobre urnas pelos ministros do Tribunal Superior Eleitoral. Insistem que, convidados, mandaram para a comissão o que há de melhor e mais técnico no Exército. Não foram integrantes da inteligência, mas do setor cibernético, segundo informa a Defesa. O documento, portanto, confirma a eficácia das urnas, mas cobra mais transparência e credibilidade. Primeiro, um teste público nas urnas de 2020. São 39% das urnas que não foram ainda testadas. Por outro lado, o documento sugere que a defesa contra ataques externos é boa, mas ineficaz e frágil para ataques internos. A possibilidade de funcionários do próprio Tribunal interferirem nas eleições existe. “São seres humanos, com as suas paixões e preferências”. A avaliação questiona também o teste de integridade.

Neste caso, as urnas são retiradas um pouco antes das eleições para uma eleição simulada. Os técnicos apontam que um programa inserido pode identificar o teste com a falta do identificador biométrico ou do método de votação e não provocar alteração.  Por último, o documento sugere que as auditorias sejam feitas por técnicos de fora da Justiça Eleitoral. “Uma auditoria não pode ser realizada por quem está dentro do processo”, diz o comandante militar. Os militares adotaram a estratégia de não olhar para as eleições passadas e focar nas futuras disputas. O maior argumento é de que não existe nenhum sistema totalmente blindado e todo o processo deve ser constantemente atualizado. A expectativa agora é avaliar como será a reação dos ministros do TSE ao documento que, na verdade, é uma tréplica dos militares neste debate. Há também a confirmação de que a Defesa não abandona a comissão e aponta para a falta dos partidos no acompanhamento e auditorias no processo.

 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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