Hidrelétricas contratadas não estão preparadas para fornecer energia durante crise no setor
Governo vai importar energia, porque o seguro pago mensalmente a geradoras de plantão pode não funcionar; empresa de MG está encoberta por lama e recebe benefício sem ter energia disponível
O apagão que assombrou o Brasil em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso, deixou experiência. O lembrete vem na conta de luz todo mês. Uma fatia paga para manter geradoras de plantão. Elas não fornecem energia, mas ficam prontas para suprir a demanda em caso de necessidade. Esta vacina será acionada agora. Há uma previsão de falta de água nas barragens. Água significa energia. Nós estamos vindo de anos com pouca chuva e enfrentamos agora um dos meses mais secos da história recente. A grande pergunta é se estas usinas pagas para estarem de plantão estão mesmo prontas para fornecerem energia. Além de acionar estes fornecedores de plantão, o governo vai importar energia da Argentina e do Paraguai.
As agências reguladoras não funcionam. Não é diferente no caso da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que deveria proteger o consumidor. A qualidade da nossa energia não é boa, se você observar a quantidade de equipamentos danificados. O preço é um dos mais altos do mundo e a oferta é deficiente. A grande expectativa está na privatização da Eletrobras. O que acionou a desconfiança na existência da energia potencial nas geradoras de plantão foi o caso denunciado em Minas Gerais, e a descoberta não foi da Aneel. Uma geradora encoberta pela lama da barragem rompida da Samarco recebe mensalmente o seguro, sem ter a energia disponível. Diante da possibilidade real de ter que ofertar energia, a própria geradora Risoleta Neves procurou o governo para devolver dinheiro.
Cinco anos depois do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, o barro ainda domina parte da região. Na Hidrelétrica Risoleta Neves, estão 10 milhões de metros cúbicos de lama. Não há possibilidade de gerar nada além de muita revolta na região. O absurdo é que a empresa dona da hidrelétrica recebe religiosamente a parte que lhe cabe do seguro-energia. Não há nem previsão de volta à atividade. O caso é tão escandaloso que a Vale procurou a intermediação da Comissão de Minas e Energia da Câmara para devolver R$ 500 milhões. Dinheiro do consumidor de energia que paga por um seguro que não existe. O presidente da Comissão, deputado Edio Lopes (PL-RR) procurou o governo e facilitou o acordo. O caso acabou mostrando a incompetência da Aneel e acendeu a desconfiança, vale mesmo o que está comprometido? Quando houver a necessidade de uso destas geradoras contratadas, o fornecimento será mesmo efetivado? A aposta é que não.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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