Janela da infidelidade: deputados fazem festa para troca de partidos, mas esquecem compromissos das últimas eleições

Abertura do período para mudança de legenda mostra que movimentações levam em consideração as disputas regionais; ninguém quer pensar o país

  • Por José Maria Trindade
  • 15/03/2022 14h31
Nilson Bastian/Câmara dos Deputados Deputados conversam no Plenário da Câmara Janela partidária é o período de 30 dias em que parlamentares podem mudar de legenda sem perder o mandato

Os partidos políticos se transformaram em agrupamentos de letras e junções de interesses regionais. A abertura da “janela da infidelidade” mostra que as trocas levam em consideração as disputas regionais. Ninguém pensa o país ou força nacional. As bases do governo e da oposição continuam as mesmas, apesar das trocas partidárias. O deputado e o senador pensam o seu quadrado. Das eleições de 2018 até agora, houve um terremoto de filiações, e só o PT permaneceu no mesmo patamar: tomou posse com 54 deputados e hoje tem 53. É o segundo partido em número de parlamentares. O primeiro não existia na posse deste Congresso. O União Brasil uniu o PSL, com 52, e o DEM, com 29. Seria um partido hegemônico se realmente dominasse os seus 81 parlamentares, mas é fraco e balofo. Grande, mas não funciona. O PT tem 53, mas atua de forma agrupada e perde pela minoria nos posicionamentos em plenário. O presidente Jair Bolsonaro tem maioria no Congresso com a ajuda do Centrão, que também é um agrupamento de partidos.

Na posse, o PSL chegou com a segunda maior bancada da Câmara, com 52 parlamentares. Perdia para o PT e seus 54 deputados. O DEM elegeu 29. Logo o PSL ganhou dois, foi para 54, e o PT perdeu um. A base do presidente Jair Bolsonaro nunca dependeu do partido pelo qual foi eleito, o PSL. A surpresa mesmo da eleição foi o fiasco dos tradicionais. Depois do PT e PSL, o terceiro partido na eleição foi o PL, com 43. Depois o PP, com 38, e só depois o MDB, com 34, passando pelo Republicanos, com 30. Só aí aparece um partido tradicional que minguou: o PSDB elegeu 29 e ganhou dois; hoje tem 31 deputados. Veja como o Congresso é flexível e, mesmo depois das eleições, muda a correlação de forças, seguindo sempre os interesses dos deputados. Pela composição do processo eleitoral, 30 partidos elegeram representantes. Hoje, só 22 tem entre os seus quadros parlamentares no Congresso. 

A “janela da infidelidade” continua aberta, e este é o mês da troca de partidos. São os ajuntamentos para a disputa eleitoral. A guerra pela sobrevivência. O processo é tão estranho que os deputados fazem até festa e eventos especiais para a troca de partido, como se fossem siglas descartáveis. A renovação seria a troca de programa, como se os compromissos das últimas eleições não estivessem valendo. As regras mudaram e agora, sem a possibilidade de coligação nas eleições proporcionais, os partidos ganharam força, e a tendência é um afunilamento. Falam aqui em Brasília que, em vez dos 30 partidos que ganharam assento nas últimas eleições, em fevereiro menos de 10 conseguirão ter representantes no Congresso.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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