Na reabertura da jogatina no Congresso, o lobby avança para liberação dos cassinos

Argumento para aprovar projeto é forte: defensores prometem pelo menos 450 mil novos empregos, incentivo ao setor de produção artística e favorecimento ao turismo

  • Por José Maria Trindade
  • 02/02/2022 14h28
Luis Macedo/Câmara dos Deputados Matéria que determina as diretrizes do Orçamento de 2020 foi aprovada por comissão de senadores e deputados Fachada do Congresso Nacional em Brasília

Um pesado lobby opera no Congresso para aprovar a liberação de jogos no Brasil. Bancadas de pressão foram arregimentadas, especialistas em convencimento no Congresso contratados e ex-parlamentares pagos a peso de ouro para vencer a barreira eterna contra a abertura de cassinos por aqui. O jogo já existe solto e legalizado através de canais oficiais. Se o apostador quiser, pode ficar o dia inteiro numa lotérica apostando sistematicamente em sorteios que rodam em minuto. Pelos sites, mais de 400 fazem o jogo funcionar em todo planeta. Não vamos fechar os olhos, o jogo do bicho está mais forte do que nunca e também oferta os animais numerados em cada esquina do país, inclusive aqui na Capital Federal e dentro do Congresso e na Esplanada. Agora informatizado e com maquininhas próprias, o jogo do bicho ganhou outra dimensão e concorre até com o jogo oficial. Mas a vitória do lobby pró jogo mostra que a bancada religiosa, que une católicos a evangélicos, está negociando e permitindo o avanço.

A amarração com o grupo evangélico é a troca de apoio. Pastores deixam passar o projeto dos jogos, votando contra, mas não obstruindo, e ganham o apoio da jogatina pela aprovação da emenda que livra os templos do pagamento do IPTU. A urgência foi um passo importante e demonstração de força. O apoio do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, também é claro e ele criou uma comissão para dar pressa ao projeto. O argumento é forte: defensores prometem pelo menos 450 mil novos empregos, incentivo ao setor de produção artística e favorecimento ao turismo. As reações contrárias falam em aumento da prostituição, incentivo ao vício em jogos e o incremento do turismo desqualificado. A articulação está lançada e depois da aprovação da urgência, o projeto vai diretamente ao plenário da Câmara. 

O projeto de liberação dos jogos foi apresentado em 1991, mas o debate é antigo. Durante o processo constituinte, este assunto dominou e acabou sendo um dos grandes debates. A tese foi derrotada e não entrou na Constituição. Diante do lobby forte e defesas de líderes no Congresso é possível que a liberação dos cassinos seja aprovada, mas será um projeto menor, limitando a instalação das casas de jogos. Um adversário novo aparece: o presidente Jair Bolsonaro prometeu veto depois da aprovação. Neste caso, o lobby terá que ser muito mais forte e injetar mais dinheiro se decidir derrubar o veto presidencial. E é exatamente esta projeção, vencer no Congresso e derrotar o presidente com a queda do veto. Não é um tema simples. Esta força é que provoca suspeita. Quem é que está pagando por isto? Forças ocultas que aparecerão no momento seguinte à reabertura dos jogos.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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