O que quis dizer Arthur Lira, a esfinge do Congresso, com o seu duro discurso contra o governo?

Mensagem do presidente da Câmara dos Deputados mostra que há insatisfação no Centrão e representa um cartão amarelo a Jair Bolsonaro

  • Por José Maria Trindade
  • 25/03/2021 15h27
Pablo Valadares/Câmara dos Deputados De máscara, Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, comanda votação Arthur Lira, presidente da Câmara, mandou recado lido, pensado e muito bem pontuado ao governo

O discurso do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, surpreendeu o mundo político. Poucas horas após encontro no Palácio da Alvorada  — considerado positivo, um gesto de bandeira branca  —, o deputado fez um pronunciamento pesado e significativo. Foi lido, pensado e muito bem pontuado, feito da Mesa Diretora, o local de comando dos trabalhos. Uma mensagem clara de que há insatisfação do grupo que dá apoio ao governo e a indicação de que é preciso reafirmar que os deputados do Centrão são independentes. Foi um ideia coordenada e tem um objetivo claro: cartão amarelo. Em política se diz que jabuti não sobe em árvore. Se você ver um jabuti numa árvore, ou foi enchente ou mão de gente. O recado está dado.

Não é uma posição isolada no Congresso. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, voltou de São Paulo com recados duros depois de reuniões com empresários: a demissão do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o empenho total na coordenação contra a pandemia. Ainda há proximidade e não é hora de dizer que haverá uma ruptura. O presidente da Câmara colocou a conta na mesa e recebe apoio de parte importante do Legislativo, além da oposição de sempre. Outro movimento foi do MDB. A Executiva Nacional do antigo PMDB deu um tom mais forte e faz duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro, ao governo e vai de malas prontas para a oposição, mesmo tendo em seus quadros deputados e senadores que apoiam Bolsonaro. Aí, a sinalização clara de que vai lançar candidato em 2022. O partido está de portas abertas para o grupo do governador de São Paulo, João Doria. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira, faz críticas, mas afirma que já está decidido a apoiar a reeleição. A insatisfação existe e tem que ser administrada. Quem ainda não colocou a exigência na mesa foi o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB. Na verdade trata-se de uma reacomodação política. Segundo mensagens do Planalto, as mensagens serão avaliadas e pesadas, mas não esquecidas. 

O presidente da Câmara tem o poder de iniciar um processo de impeachment, mas nunca o de conseguir maioria e aprovar a iniciativa no plenário. Mesmo assim, não é bom deixar o Congresso à deriva. Os aliados do presidente Bolsonaro sabem disso. Está sendo entendido o pronunciamento de Lira e vai para toda a área política. Na Câmara, foi captado como mensagem aos bolsonaristas mais radicais, um “chega pra lá” na tentativa de ocupação por mais espaço. O posicionamento de Arthur Lira já era esperado. Não há acordo para apoio incondicional, mas romper agora seria uma derrota muito grande para o governo. Conversas e afagos são esperados para as próximas horas. Não se falou ainda claramente na participação do Centrão no governo, nome técnico para ocupação de cargos e loteamento da máquina.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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