Oposição aposta em depoimento de Wajngarten na CPI para avançar contra o governo

Senadores aliados ao presidente dizem que ex-secretário dá sinais de estar magoado e pode tentar atingir o Palácio do Planalto durante sabatina na próxima quarta

  • Por José Maria Trindade
  • 10/05/2021 13h52
Marcelo Camargo/Agência Brasil Fabio Wajngarten participa de audiência pública Fábio Wajngarten deve depor na CPI da Covid-19 nesta quarta-feira

A CPI da Covid-19 do Senado terá uma semana decisiva em depoimentos, mas não será o ponto alto da investigação. A chegada de documentos e abertura de sigilos estão sendo considerados como a fase mais importante. O presidente Jair Bolsonaro é o alvo buscado por omissão e por ação. A aposta da oposição é no depoimento do ex-secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten. Ele admitiu que agiu como negociador na tentativa de compra bilionária de vacinas da Pfizer. Não houve a negociação da vacina. Na época, o governo considerou as exigências do laboratório como ilegais. Foi preciso aprovar uma lei para permitir a assinatura do contrato. Wajngarten chegou a falar em incompetência na Saúde, mas até governistas desconfiam da ação isolada dele. Foi exatamente este debate no próprio governo que levou Wajngarten a se afastar do Palácio do Planalto. 

Vai para o plenário da CPI um colaborador próximo do presidente Jair Bolsonaro e da família. Um dos primeiros. Aderiu à campanha quando Bolsonaro era um deputado federal com uma campanha tímida e sem chance real de chegar ao segundo turno, quanto mais ser eleito presidente. Senadores aliados do presidente na CPI me dizem que ele dá sinais de estar magoado. Um depoimento assim está sempre em aberto e é perigoso. A avaliação é de que se ele estiver mesmo magoado, pode tentar atingir o governo, mas se entregar aos lobos está fora de cogitação. No momento, as explicações cobradas são sobre as ações paralelas dele na contratação de vacinas e não exatamente de decisões ou compra de governo. A guerra dele é exatamente com os integrantes do Ministério da Saúde. Os senadores de oposição apostam exatamente nesta divisão para avançar na investigação contra o governo.

A estratégia do bloco governista é no sentido de investigar governadores e prefeitos. Requerimentos para convocar secretários estaduais e compartilhamento de outras investigações estão na mesa para votação. A Controladoria Geral da União também contribui. Há na CGU processos adiantados sobre desvios nos Estados. A portaria assinada pelo ministro Marcelo Queiroga, da Saúde, acelera a apuração do destino dos recursos. Estados aplicaram o dinheiro da Covid até no pagamento de pessoal. Pela portaria, o governo determina inclusive devolução de recursos que não foram usados para controle da pandemia. A medida está sendo criticada por integrantes da CPI exatamente por mirar as administrações regionais. Além do depoimento do ex-secretário Fábio Wajngarten, os senadores vão ouvir também o ex-ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo e o diretor da Anvisa, Antônio Barra Torres. Em foco, o debate sobre contratação de compra de vacinas e de cloroquina. Este é o dilema da CPI, o presidente Jair Bolsonaro é acusado de omissão na compra de vacinas e de ação na compra de medicamentos. Ninguém toca na ação eficiente de compra de equipamentos hospitalares.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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