Agro monitora efeitos da escalada da guerra

Presidente dos EUA, Joe Biden, diz que há ameaça de uso de armas nucleares, se referindo ao presidente russo, Vladimir Putin

  • Por Kellen Severo
  • 10/10/2022 10h35
EFE/EPA/OLEG PETRASYUK Bombardeio em Kiev, na Ucrânia O agronegócio brasileiro é impactado pela guerra da Ucrânia, que sofre uma nova escalada

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que há uma ameaça direta de uso de armas nucleares, se referindo ao presidente russo, Vladimir Putin. Segundo ele, esta é a primeira vez que há um risco deste tipo desde a crise dos mísseis cubanos, que ocorreu durante a Guerra Fria, em 1962. Biden disse ainda que Putin não está brincando quando fala sobre o uso potencial de armas nucleares ou armas biológicas e químicas. Na última semana, o Departamento de Saúde dos Estados Unidos informou a compra de US$ 290 milhões em medicamentos para uso em emergências nucleares. O recurso financeiro faz parte de um programa do governo norte-americano usado para lidar com ameaças à segurança nacional. O agronegócio é um dos setores mais internacionalizados da economia brasileira e altamente impactado por mudanças geopolíticas. Para avaliar qual a situação da guerra entre Rússia e Ucrânia, riscos de uma escalada para o uso de armas nucleares e impactos para o agronegócio do Brasil, conversei com Thiago Aragão, analista da Arko Advice:

Qual a temperatura do conflito? Temos um cenário de escalada que leva o mundo para o uso de armas nucleares? Sim, há escalada e é motivada pelos avanços bem sucedidos das tropas ucranianas, principalmente no nordeste do país, onde eles estão conseguindo avançar mais. Isso tem colocado pressão em Putin, ele convocou seus reservistas para ficar em alerta, vários já estão em treinamento. E aqui em Washington é interessante porque existe uma campanha onde todas as pessoas sabem basicamente a área que eles têm que ir no caso de mísseis nucleares virem nesta direção, onde você se abriga, crianças têm treinamento nas escolas. Então existe todo esse comportamento que não deixa de ser algo tenso para quem vive.

Agora, a posição do Biden é uma posição necessária na política internacional quando você afirma que Putin não está brincando, e que pode levar isso a sério. Esse tipo de narrativa basicamente estimula uma reação do lado russo de acalmar em relação a essa potencialidade. Se o Biden, por exemplo, falasse que duvida que o Putin faria isso, isso poderia levar a uma escalada mais rápida. De qualquer  forma, há uma escalada, há uma tensão. O Putin é muito movido pelas opiniões do Patrushev, que é seu assessor principal, e é uma situação que está gerando um desconforto em Washington.

Esse treinamento que mostra onde se abrigar nos EUA em caso de ataque nuclear é algo trivial? Isso é algo que acontece em função desse contexto? Isso sempre existiu. Agora, a velocidade na qual há uma repetição, isso tradicionalmente acontece uma ou duas vezes. Mas dependendo do condado onde você está localizado, acontece com velocidade e frequência maiores. Existem mapas em várias áreas da cidade onde você consegue identificar o abrigo nuclear mais próximo, quando você dirige pela cidade e passa por alguns prédios que tem símbolo de abrigo nuclear e você sabe que aquele local é designado para este tipo de coisa. Obviamente, isso é muito distante da nossa realidade no Brasil e gera situação de tensão naqueles que não estão habituados com esse comportamento.

O agro é um dos setores mais internacionalizados e muito impactado por estas questões. Onde você nos recomenda olhar? Existem alguns sinais que podemos observar. O primeiro sinal é infelizmente um pouco contra-intuitivo, mas à medida que nós vemos avanço e sucesso das tropas ucranianas, que é algo que a grande maioria de nós deseja ver, a possibilidade de retaliação mais agressiva do Putin aumenta. Se o Putin estivesse claramente vencendo a guerra na Ucrânia, essa narrativa não estaria na mesa. Então, à medida que temos avanços bem-sucedidos das tropas ucranianas, nós vamos ver cada vez mais essas ideias sendo ‘ventiladas’ ou pelo governo russo ou por fontes ligadas ao governo russo, e só de falar sobre isso, aumenta a escala, porque à medida que você tem mais debates e provocações, há um crescimento na possibilidade de erro.

Segundo, temos que ver como fator de medida as pressões que são colocadas em cima da Rússia. Se amanhã os EUA e a Otan fortalecem sua presença na Estônia, Lituânia, Turquia e outros países da região, como a Romênia, isso obviamente é um indicativo de que a situação está se tornando mais tensa. A Romênia acaba sendo importante nesse contexto por causa da confiança dos líderes da Otan na capacidade de se colocar como uma linha de frente forte e ali acaba sendo onde os russos medem a alocação de recursos da Otan. Então, se crescer a alocação de recursos da Otan na Romênia, a resposta russa tende a começar a ser um pouco mais agressiva. Veja no vídeo a entrevista completa: 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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