Agro tem 60% mais menções negativas nos livros

Estudo da FIA/USP avaliou 94 materiais didáticos e analisou 9 mil páginas

  • Por Kellen Severo
  • 03/04/2023 09h27
Gabriela Biló/Estadão Conteúdo Colheitadeira colhe o milho em uma plantação no município de Sorriso, no norte do estado do Mato Grosso. Colheitadeira colhe o milho em uma plantação no município de Sorriso, no norte do estado do Mato Grosso

Um levantamento encomendado pela Associação De Olho no Material Escolar detectou 60% mais menções negativas do que positivas sobre o agronegócio em 94 livros didáticos analisados pela FIA/USP. Acompanhe a entrevista com Leticia Jacintho, presidente da associação responsável pelo estudo:

Qual a conclusão que vocês tiveram a partir desse estudo? Na verdade, a gente já tinha essa percepção. A associação vai fazer dois anos em junho deste ano, e a contratação da FIA, que é uma das maiores escolas de negócios do país, uma instituição formada por profissionais conceituados no mercado, mas do setor educacional, não ligada diretamente ao agronegócio, foi para a gente ver metodologicamente e cientificamente se isso estava ocorrendo mesmo ou se era só uma percepção. A gente tem trabalhado em relação a isso e o que o estudo trouxe foi, primeiro: o agro está presente em 40% de todo o material brasileiro. Acho que por ele fazer parte da nossa história, passado, presente e futuro. Então, muitos materiais trazem o agronegócio. O enfoque é negativo, 60% das palavras em relação ao agro trazem um enfoque negativo. Mas, pior do que isso, 60% desse enfoque negativo não tem base científica. Então, a maior produção do De Olho no Material Escolar não é trazer de maneira não fidedigna esse agronegócio, é trazer de maneira científica. Como trazer os dados da atualidade? Esse agro evoluiu, cresceu tanto na parte tecnológica como de produção e na parte social. Então vamos trazer os dados corretos, mas baseados nas fontes corretas, atualizadas e nos prazos de hoje para poder conseguir colocar esses alunos como grandes profissionais no mercado futuro.

Qual é a estratégia para melhorar a comunicação a respeito do setor agro nas escolas? Nós viemos construindo isso ao longo dos anos, então o principal foco são as editoras. A gente tem conversado com cada editora, temos trabalhos realizados com algumas delas e sempre no enfoque de construir pontes. Então, a gente fornece palestras, treinamentos para esses autores, a gente revisa esse material em relação ao tema do agronegócio. A gente tem uma grande editora no Brasil que gravamos 33 videoaulas com ela em 16 Estados brasileiros em que estamos presentes, em 91 cidades. São materiais criados a partir dessa comunicação que a gente fez, essa ponte que construímos tem sido extremamente positiva. Então, tem editoras que já estão atentas a esse problema mesmo antes do trabalho da FIA ficar pronto. A gente tem um programa de vivenciando a prática. Ele é encantador. No ano passado, atendemos 10 mil crianças, professores e autores dentro de feiras agropecuárias, fazendas e agroindústrias, e o olho brilha. A maioria dos professores quer dar uma boa aula, quer que o material seja a principal ferramenta deles e quer formar pessoas. Eles sabem o papel grandioso que eles têm dentro de uma escola, as crianças passam o dia praticamente lá. Nós estivemos na Expodireto, a próxima grande é a Agrishow, fomos na Tecnoshow e ele tem acontecido de maneira bastante enraizada. E também esse estudo vai nos possibilitar formar um grupo melhor de relacionamento com os Três Poderes, porque o que a gente acredita é que a educação é a única maneira de  a gente fazer evoluir o país, de a gente construir o futuro juntos. Não existe outra maneira se não for através da educação, então a importância dos Três Poderes estarem no radar de todos é primordial.

Quanto tempo vai levar até que a gente tenha uma reformulação de parte desses conteúdos? É um trabalho de médio e longo prazo. As editoras privadas não participam do programa nacional do livro didático, a velocidade de renovação delas é muito maior. Então a gente tem trabalhado com algumas e de um ano para o outro você consegue um material melhor. Mas a grande maioria da população utiliza esses materiais fornecidos pelo próprio MEC, isso demora, cada vez que o material é produzido, 5 anos. Por isso a nossa corrida aqui contra o tempo para ajudar a juntar essas editoras com os centros de pesquisas e a própria academia do agro para ajudá-los nessa construção. Todo ano está sendo construído um material didático, mas depois que ele entra no mercado, são 5 anos que ele fica lá. É um trabalho árduo, a educação a gente tem que olhar em todas as suas facetas, mas a gente acredita que renovando pelo agro a gente consegue renovar boa parte do material didático brasileiro.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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