Aproximação entre China e Rússia pode impactar agro

Putin visitou China nesta semana; países querem corredor de grãos na fronteira

  • Por Kellen Severo
  • 18/10/2023 10h00 - Atualizado em 18/10/2023 11h05
Alexei Druzhinin/Sputnik/AFP Putin e Xi Jinping se entrelhando Aliança entre Xi Jinping e Putin tem espaço para ganhar novo fôlego com a guerra entre Israel e Hamas

Está em curso um novo capítulo da aproximação entre Rússia e China, e a aliança pode impactar, também, o agronegócio brasileiro. Nesta terça-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, chegou em Pequim. A aliança entre Xi Jinping e Putin tem espaço para ganhar novo fôlego com a guerra entre Israel e Hamas, à medida que aumenta a pressão sobre países do Ocidente e diminui, pelo menos um pouco, o foco sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. O aumento do risco geopolítico e as mudanças em curso na ordem mundial podem acelerar o comércio agrícola entre russos e chineses, além de aumentar a concorrência, a médio e longo prazo, com os produtos agropecuários do Brasil.

Segundo a agência de notícias Reuters, a mídia estatal chinesa aponta para a necessidade crescente de que a China e Rússia intensifiquem o comércio de grãos. E acrescenta que a construção de um corredor de cereais entre os dois países ajudará a garantir a segurança alimentar chinesa. A ideia é criar um centro logístico na fronteira entre os países. Pequim tem a intenção de diminuir sua dependência da importação de cereais por via marítima, por preocupações geopolíticas. O corredor terrestre Rússia-China é um plano que vem sendo discutido há alguns anos já pelos dois países. As pretensões da China de tomar Taiwan podem gerar sanções do Ocidente e o consequente estrangulamento de rotas marítimas importantes, me disse Valdir Bezerra, mestre em relações internacionais,  que vive em São Petersburgo, na Rússia.

Para que a concorrência entre Brasil e Rússia chegue a preocupar será preciso que a Rússia aumente a capacidade produtiva de commodities agrícolas. A sócia da Vallya Agro, Larissa Wachholz, me disse que o potencial agrícola está relativamente dormente hoje. No caso da soja, a Rússia é o oitavo produtor mundial, com 6 milhões de toneladas produzidas. Já o Brasil, é o maior do mundo, com 25 vezes mais produção, chegando a superar 150 milhões colhidos em 2022. A distância entre Rússia e Brasil é grande também quando falamos em exportações. O Brasil é líder em exportações enquanto a Rússia embarca o correspondente a 1% da produção mundial. Se o potencial agrícola da Rússia não aumentar rapidamente, o Brasil ainda desfrutará de anos de baixo risco concorrencial. Apesar disso, os chineses querem diversificar fornecedores, e os fatos recentes apontam para uma direção: a aliança Rússia-China está se fortalecendo. As peças do tabuleiro global também estão se movendo, e os efeitos colaterais ao comércio agrícola não devem ser descartados somente porque ainda não seja possível dimensionar todos os eventuais impactos.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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