Argentina adota ‘dólar soja’ pela segunda vez em 2022

Meta é ampliar entrada da divisa com taxa de câmbio diferenciada e favorecer agricultor do país

  • Por Kellen Severo
  • 02/12/2022 09h00
Pixabay/nishimura1123m soja Argentina espera que sua soja ganhe competitividade no mercado internacional

O governo argentino lançou nesta semana um decreto em que instituiu o “dólar soja”, medida que tem o objetivo de atrair dólares ao país com uma taxa de câmbio diferenciada, a fim de favorecer as exportações de soja. Ele é cotado a 230 pesos, 65 mais alto do que o atual, que vale cerca de 165 pesos. O resultado disso é aumento do interesse de exportação por parte do agricultor argentino, que vê a soja dele ganhando competitividade no mercado internacional, mesmo que de forma artificial. A consequência desejada pelo governo de Alberto Fernández é justamente o aumento na entrada de dólares no país, o que ocorre quando as exportações aumentam. E, com mais divisas, há espaço para pagar a dívida do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Dados da AgRural Commodities apontam que em setembro, quando o governo argentino adotou a cotação artificial do dólar para favorecer exportações de soja, houve um incremento enorme nas vendas externas. “Isso aconteceu porque o câmbio especial tornou o preço da soja mais atraente em pesos, favorecendo as vendas dos produtores e, ao mesmo tempo, deixando os preços em dólares mais interessantes para os importadores, já que o aumento na oferta do grão reduziu os preços da soja argentina na moeda americana, atraindo compradores internacionais”, explica Danielle Siqueira, analista de mercado da empresa. A consultoria não projeta vendas tão volumosas como em setembro. Ainda que não sejam renovados os patamares de venda, os agricultores de lá correram para comercializar. Nesta semana, mais de 500 mil toneladas foram vendidas com o novo “dólar soja” argentino.

Para o Brasil, que é grande exportador de soja, a medida chama a atenção, pois a Argentina poderia abocanhar parte do nosso mercado para embarques futuros programados em 2023, diz a AgRural. Já a Terra Agronegócio avalia que a medida atual tem validade até 31 de dezembro de 2022, o que diminui riscos de impactos diretos no momento. “O programa de exportação brasileiro já está todo realizado ou contratado da safra 21/22. As exportações brasileiras para a temporada 22/23, vão se iniciar em janeiro, mas realmente ganharão corpo de fevereiro ou março em diante. Nesse momento, seremos extremamente competitivos. Já o programa Dólar Soja 2 termina em 31 de dezembro de 2022. Assim sendo, não terá impacto algum em nossas exportações”, analisa Enio Fernandes, analistas de mercado da Terra.

A Argentina já registrou cerca de 15 tipos de câmbio durante o governo Fernández. Já houve “dólar Catar”, “dólar luxo” e, agora, “dólar soja”. A baixa disponibilidade de reservas cambiais é um dos motivos que levou o ministro da Economia, Sérgio Massa, a adotar o “dólar soja” — também conhecido como dólar exportador — para adiantar a entrada da divisa e estabilizar as reservas. A medida evidencia o desafio fiscal do país, que vive uma crise econômica e busca alternativas para ampliar as reservas e evitar um calote na dívida com o FMI. Para nós, cabe ficar de olho se novos programas como esse voltarão a ser implementados no ano que vem. Dependendo do momento, poderão afetar as exportações brasileiras.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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