Brasil deve liderar exportação mundial de milho em 2023
Previsão é para 2023 e está condicionada ao tamanho da colheita da ‘safrinha’
O Brasil deve se tornar o maior exportador de milho do mundo e tirar os Estados Unidos da primeira colocação em 2023, afirma a consultoria AgRural. A empresa revela que a expectativa de exportação do cereal neste ano está entre 46 e 47 milhões de toneladas. Porém, esse cenário é condicionado a uma variável: o clima. Segundo a empresa, estados como o Paraná e Mato Grosso do Sul deverão semear uma parte significativa da safra fora da janela ideal, fato que eventualmente pode reduzir a produtividade das lavouras. Confira a entrevista com a analista de mercado da AgRural, Daniele Siqueira:
O Brasil vai se tornar o primeiro exportador de milho do mundo em 2023? O Brasil deve ser o principal exportador de milho em 2023, à frente dos Estados Unidos, mas mais por uma questão conjuntural. Os Estados Unidos têm feito exportações muito lentas, estão com preços pouco competitivos devido a uma questão dos produtores, que seguraram o milho e deixaram para vender depois. Então, os preços do milho ficaram altos e o Brasil acabou exportando mais milho ainda do que já deveria exportar nos últimos meses de 2022 e no começo de 2023. E aí a gente vai voltar a exportar com força só a partir de julho quando entra a safrinha. Então, se a safrinha vier cheia, a gente tem muita chance de ser o maior exportador de milho do mundo, à frente dos EUA nesta temporada. Mas depende de quanto a gente vai colher na safrinha.
Se a gente for o primeiro exportador mundial de milho neste ano, significa que o Brasil vai estar neste posto nos próximos anos? Não necessariamente. O Brasil já foi o maior exportador de milho do mundo na temporada 12/13, quando os EUA tiveram uma grande quebra de safra. Então também foi um momento conjuntural em que o Brasil ocupou esse posto, depois os EUA voltaram a ocupar esse espaço. Nos próximos anos, acredito que a gente vai ter uma dança das cadeiras entre Brasil e EUA neste primeiro posto. O Brasil vai acabar se consolidando como primeiro exportador, mas não vai ser assim imediatamente, porque agora em 2023 é mais uma questão conjuntural que faz o Brasil exportar mais do que propriamente um avanço tão grande para tirar os Estados Unidos de vez desse posto de maior exportador.
Qual a previsão de produção de milho no Brasil? A nossa estimativa de produção da safrinha 2023 no Brasil é de 96 milhões de toneladas. Seria produção recorde, mas essa projeção é baseada, por enquanto, em linha de tendência de produtividade, não é ainda com base em condições de desenvolvimento da safra. Isso a gente começa a fazer a partir de abril. Então, o plantio tem sido feito com atraso, especialmente no Mato Grosso do Sul e Paraná, especificamente no oeste do Paraná. Esse atraso muitas vezes faz com que essa linha tenha perda de potencial produtivo devido a problemas climáticos mais à frente. Isso a gente conseguirá avaliar depois. Não é uma condição automática de quebra de safra, o plantio fora da janela, mas não é um começo ideal. Por enquanto, safra recorde é feita com base em linha de tendência, mas vai depender do clima nos próximos meses até a definição da safra.
Qual a fotografia do plantio da safrinha no Brasil? Nós temos um plantio praticamente finalizado no Mato Grosso, foi feito um pouco depois da janela, mas nada muito grave. Mas nós temos ainda um grande atraso em Mato Grosso do Sul, um atraso expressivo no Paraná. O Mato Grosso do Sul é o Estado que mais nos preocupa, pois tem janela até o dia 10, 15 de março, dependendo da região, mas que vai acabar plantando uma área consideravelmente acima do normal depois da janela e isso nos preocupa.
Qual a previsão de exportação com o cenário de hoje? Se nós tivermos uma safrinha cheia, é possível que o Brasil faça uma exportação dentro do ano civil de 2023 superior à exportação que fizemos em 2022, que foi de 43 milhões de toneladas. Podemos chegar a 46, 47 milhões de toneladas, vai depender de alguns fatores, mas seria uma exportação recorde. Se olharmos a expectativa do USDA, que faz uma estimativa com base no ano safra de março a fevereiro, ele trabalha com 50 milhões de toneladas, o que é possível também dentro desse calendário que ele usa. Mas como eu disse, vai depender do tamanho da nossa safrinha.
A China vai ser o principal destino do milho brasileiro em 2023? Essa é uma pergunta que muita gente faz neste momento. Estive em um evento em Singapura na semana passada e teve muita discussão em torno disso, sobre o quanto o Brasil faria de exportação para a China. Mas antes dessa pergunta, a principal questão é quanto a China vai precisar importar de fato de milho ao todo em 2023 e não é muita coisa. A China é autossuficiente em milho, ela faz algumas importações mais por questões de rotação de estoques, por questões de qualidade. Então, ela chega a importar 15 milhões, 20 milhões de toneladas por ano, mas nada que se compare à soja, que importa cerca de 10 milhões de toneladas.
A China vai ganhar espaço gradativamente no mercado brasileiro de milho porque ela tem uma estratégia de diversificar as origens. Hoje, ela compra basicamente dos EUA e da Ucrânia. A Ucrânia tem questões delicadas da guerra e é uma região geopoliticamente tensa. Com os EUA, tem a questão tensa, mas aí no outro aspecto que não é exatamente uma guerra de verdade, mas é uma guerra econômica de certa forma entre EUA e China. Então, a China vem para o Brasil para se abastecer. Mas não vai acontecer em curto prazo uma explosão de vendas do milho para que tenhamos no Brasil o mesmo cenário como temos na soja.
A China vai ser um comprador importante, mas não vai ser um comprador tão importante como de soja, lembrando que a China compra 70% de toda a soja que o Brasil exporta. Sobre os volumes, vai depender mais da China do que do Brasil. Se a China estiver disposta a comprar, a gente vai vender o quanto eles quiserem e os outros compradores vão ter que se virar para comprar o milho em outro lugar. Mas apesar de o Brasil estar exportando muito milho e batendo recorde de exportação, a demanda mundial não está assim tão aquecida. O que aconteceu principalmente em 2022 e começo de 2023 é que houve uma dança de cadeiras entre os principais exportadores do mundo, que são EUA, Brasil, Argentina e Ucrânia. Esses outros três exportadores além do Brasil por uma série de motivos reduziram as exportações, e o Brasil tomou esse espaço dos exportadores. Se a gente somar as exportações dos quatro países, elas são praticamente iguais às de 2021 e 2022. Por isso que eu falei que é um evento conjuntural que faz o Brasil se tornar o maior exportador de milho, mas não é que a demanda está forte.
O milho em dólares está muito caro. O milho em US$ 6, US$ 7 por bushel em Chicago é muito caro, especialmente para os consumidores asiáticos que, tirando a China, Japão e Coreia, têm muitos países ali que têm dificuldade de comprar um milho tão caro, por isso passamos até por um racionamento de consumo. É bom deixar claro, a gente está exportando muito, mas não é porque a demanda mundial está assim tão forte.
O que o agricultor brasileiro deve ter de média de preço para 2023? A gente tem visto uma exportação super firme no Brasil, até de se esperar que os preços estivessem mais altos. Mas se a gente olhar os preços nos últimos seis meses, eles estão praticamente lateralizados aqui no Brasil. Podemos ter uma melhora caso haja uma quebra da safrinha, mas a gente não quer que isso aconteça. Mas vem safra maior nos EUA, então é complicado apostar em preços muito mais altos caso a safra deles venha cheia.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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