Chance de Super El Niño sobe de 20% para 66%; por que isso importa para o agro?

Fenômeno climático pode afetar a produção brasileira

  • Por Kellen Severo
  • 11/08/2023 09h00
EVANDRO LEAL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO - 07/07/2023 Pedestres enfrentam chuva na cidade de Porto Alegre (RS), Aquecimento provocado pelo El Niño afeta o regime de chuvas do país

A agência climática dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) atualizou as chances de ocorrência de um super El Niño para cerca de 2 em 3 chances, ou seja, 66% de probabilidade de um evento forte ocorrer. No último mês, os meteorologistas apontavam 1 em 5 chances (20%). O super El Niño acontece quando a temperatura do Oceano Pacífico atinge ou supera 1,5° C. Esse aquecimento afeta o regime de chuvas. No Brasil, o fenômeno tende a diminuir o volume de chuvas em áreas do Norte e Nordeste e aumentar em áreas do Sul do Brasil. O El Niño impactará a safra 2022/23. No gráfico divulgado neste mês, é possível observar na coluna em vermelho que o fenômeno estará incidindo ao longo dos próximos meses com chances próximas a 100%.

E por que isso importa para o agro? Principalmente porque em anos de El Niño forte, a produção brasileira foi significativamente afetada. Fica o alerta para a nova safra. Um estudo feito pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) apontou que:

  • 1982/83: Chuvas excessivas na colheita no período entre abril e maio de 1983 determinaram perdas de 4,9 milhões de toneladas na safra de grãos da região Sul do Brasil;
  • 1997/98: Efeitos do El Niño prejudicaram as lavouras de milho, feijão e arroz. O governo brasileiro utilizou os estoques públicos para regular a oferta nacional reduzida;
  • 2015/16: Seca castigou lavouras de soja no Brasil Central e região do Matopiba, que abrange áreas agrícolas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O enchimento de grãos foi prejudicado e reduziu o rendimento das lavouras. Enquanto isso, excesso de chuva e baixa luminosidade reduziram a produção no Sul.

Do lado positivo, o estudo mostrou a possibilidade de incremento de produção na soja do Sul e Sudeste, com maior volume de chuva. No caso do milho, a lógica é a mesma. O café do Sudeste, em geral, pode ser beneficiado por mais umidade também. O Centro-Oeste e o Sudeste podem ter o risco de geadas na segunda safra reduzido, o que é uma boa notícia.  Entre os desafios, estão: risco de seca mais intensa no Norte e Nordeste, o que comprometeria a produção. Alerta para o café conilon do Espírito Santo, já que o verão pode não poupar a região, assim como os cafezais das regiões Norte e Nordeste. No Sul, o arroz e o trigo podem ser afetados por excesso de umidade e restrição de luminosidade.

Diante de tudo isso, fica clara a importância de monitorarmos esses fenômenos climáticos e os efeitos que geram na produção agrícola e, por consequência, na economia brasileira. Caso haja uma frustração de safra, consumidores podem sentir efeito no bolso, com oferta mais restrita de produtos da cesta básica como arroz, trigo e o cafezinho de todo dia.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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