Holanda quer comprar e fechar fazendas para cumprir meta ambiental: é a vilanização da produção de alimentos

Governo holandês propõe pagar mais de 100% do valor de 3 mil fazendas para cumprir regras de redução da emissão de gases da União Europeia

  • Por Kellen Severo
  • 01/12/2022 09h30
Robin van Lonkhuijsen/ANP/AFP - 05/07/2022 Agricultores bloqueiam a entrada do centro de distribuição de um supermercado para protestar contra a política de nitrogênio do governo Em julho, onda de protestos de agricultores tomou conta da Holanda devido ao plano do governo de cortar em 50% as emissões de nitrogênio

A imprensa internacional está repercutindo a notícia de que o governo holandês está planejando comprar e fechar até 3.000 fazendas em um esforço para cumprir as regras ambientais da União Europeia para reduzir as emissões de gases geradas em atividades agrícolas com o uso de fertilizantes e atividades como a pecuária. Outras medidas propõem a inovação com uso de tecnologias para reduzir emissão de gases como dióxido de nitrogênio e a transição para um novo negócio, voluntariamente.

De acordo com o jornal The Guardian, a ministra Christianne van der Wal afirmou que os agricultores receberiam mais de 100% do valor de suas fazendas para desistir da produção agrícola. Pela primeira vez, o governo disse que aquisições forçadas ocorrerão no próximo ano se as medidas voluntárias falharem. Conversei com um holândes que vive no Brasil há 55 anos. Ele está em contato com agricultores na Holanda e desabafou: “Não se trata de estatizar a fazenda para depois tocar a produção, mas, sim, devolvê-las para a natureza. É muito complexa e sensível a situação, já que há investimentos de anos na produção. E a 20 km daquelas áreas tudo é permitido”.

O adido-diretor de Agricultura da Embaixada da Holanda no Brasil, Paul van de Logt, me disse que a reforma do setor agrícola na Holanda é muito desafiadora, mas precisará ser feita. “Temos que mudar. Ambicionamos um melhor equilíbrio entre o ambiente, a agricultura e outras atividades econômicas. Eu tenho fé que vamos conseguir. Vai ser importante para o Brasil, todos os países têm que lidar com as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. Como conselheiro climático, espero que nosso desafio atual na Holanda forneça recursos e tecnologias que possamos compartilhar com o Brasil para trabalharmos juntos em direção a um sistema alimentar global sustentável”, aponta Logt.

Em julho, uma onda de protestos de agricultores tomou conta da Holanda. O motivo é a forte reprovação do setor agro ao plano do governo de cortar em 50% as emissões de nitrogênio até 2030. A medida faz parte das regulações ambientais da União Europeia, da qual a Holanda é parte. Para atingir essas metas será preciso reduzir em até 30% a pecuária do país, diminuir o uso de fertilizantes e até estatizar fazendas. A Holanda é um dos principais países agrícolas da Europa e isso pode impactar o preço da comida no continente, que vive uma guerra no Leste Europeu.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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