Lula usa Plano Safra para se aproximar do agro

‘Vão perceber que da parte do governo não há objeção a eles’, disse na primeira live do governo; intenção é marcar posição do governo de esquerda em prol do agro

  • Por Kellen Severo
  • 14/06/2023 11h00
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Reprodução/YouTube/Lula lula-live-semanal-conversa-com-o-presidente-reproducao-youtube-lula Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na estreia de sua live semanal

Em live nesta terça-feira, 13, o presidente Lula disse que o anúncio do Plano Safra vai fazer o agro perceber que não há objeção ao setor. “Vamos anunciar o Plano Safra e vão perceber que da parte do governo não há objeção a eles, queremos que o Brasil cresça”, destacou. O Plano Safra é a política agrícola mais importante do governo e o setor agropecuário aguarda com ansiedade as diretrizes para o volume de crédito e taxas de juros no período de 2023/2024. A estratégia de usar o Plano Safra para se aproximar do agro é uma boa ideia, já que há o desejo e a necessidade de recursos com taxas competitivas para manter o dinamismo do setor que mais cresce na economia do Brasil. Além disso, com a cerimônia política do evento, Lula conseguirá manchetes prontas com destaque para o volume de recursos e juros menores em alusão às pontes que quer construir com o agro.

A expectativa é que o anúncio seja feito na última semana de junho, diferente do desejo de alguns membros do governo de anunciá-lo até ontem. A impossibilidade de antecipar a cerimônia evidencia as dificuldades orçamentárias para composição do Plano Safra, mas também aponta na direção das tentativas de construir um pacote mais robusto para atender o setor. O presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Márcio Lopes, esteve com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em reunião sobre o Plano Safra nesta semana e me disse que notou ontem, pela primeira vez, o ministro muito engajado no processo. “Eu estava muito preocupado com o baixo nível de engajamento, não parecia ser uma prioridade. Mas a conversa mudou e parece que o governo quer fazer um bom plano, um plano parrudo. A intenção do ministro é fazer um plano, deixou claro , que possa trazer mudanças e marcar posição do governo de esquerda em prol do agro”, apontou Lopes.

O agro está crescendo numa velocidade maior do que a do governo de ofertar crédito, mas ainda assim o Plano Safra continua importante. A OCB pede R$ 410 bilhões em recursos e juros abaixo de 10% ao ano para todas as linhas de financiamento. Se confirmado um plano nessas condições, será ótimo para o Brasil. Porém, não acho que haverá fôlego no governo para bancar essa proposta que demandaria do Tesouro mais recursos públicos para bancar o aumento do subsídio pelo diferencial das taxas de um dígito e uma Selic de quase 14% ao ano, por exemplo. Espero um Plano Safra com taxas de juros semelhantes às atuais, que variam de 5% até 12,5% entre pequenos, médios e grandes. A Selic hoje está superior ao patamar de um ano atrás e ela terá influência na construção do novo panorama. Lula acertará se investir em um Plano Safra com mais recursos e menos juros, afinal o agro está puxando o crescimento da economia do Brasil. Basta relembrar o resultado do PIB do primeiro trimestre, quando a agropecuária subiu 21% e puxou o PIB do país, que avançou 1,9% no período. Além disso, ao construir pontes com o agro, Lula tentará diminuir fricções no Congresso, onde a Frente Parlamentar da Agropecuária é a mais forte e tem contribuído para derrotas do governo em Brasília.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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