Melhora econômica ‘blinda’ Brasil, mas não evita nova alta do dólar

Elevação dos juros nos EUA faz bancos indicarem valorização do dólar nos próximos meses; previsões apontam taxas de até R$ 5,50 no fim de 2022

  • Por Kellen Severo
  • 26/09/2022 09h00 - Atualizado em 04/10/2022 13h49
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ITACI BATISTA/ESTADÃO CONTEÚDO Cédulas de dólar e real espalhadas Recente elevação dos juros nos Estados Unidos deve pesar na tendência do dólar frente ao real

A melhora dos dados econômicos do Brasil tem sido um dos grandes destaques dos últimos meses e há expectativas de que esse bom cenário volte a ser confirmado nesta semana com a divulgação de dados sobre a dívida/PIB, inflação e taxa de desemprego. Esses dados positivos da economia tem gerado uma espécie de “blindagem” do real e evitado desvalorizações mais expressivas da moeda frente ao dólar. Mas, apesar do cenário favorável, com indicadores econômicos indicando alta do PIB do Brasil enquanto a economia global desacelera, por exemplo, há diferentes profissionais que passaram a apontar que a recente elevação dos juros nos Estados Unidos deve pesar na tendência do dólar frente ao real. A tese é que as taxas mais elevadas na economia norte-americana atrairão capital para lá, favorecendo depreciação para o real. O Sicredi, por exemplo, revela uma projeção para a moeda norte-americana acima dos R$ 5,20 que o Boletim Focus, do Banco Central, está indicando.

“No caso do real, a gente tem observado o Brasil bem posicionado enquanto moeda, com uma taxa de juros bastante elevada, o ciclo de alta de juros no Brasil começou antes que na maior parte dos países, nosso risco está bem ajustado à nossa nota de crédito. Então isso deve levar o Brasil a ter uma pequena desvalorização no câmbio, mas não é muito grande pelos elementos que eu falei, mas é uma trajetória de valorização e com muita volatilidade. Nós estamos um pouco mais altista do que a projeção média do mercado, R$ 5,30 seria o valor que o real deve depreciar e deve depreciar mais no início ano que vem, quando o banco central americano continuar subindo a taxa de juros por lá. Esperamos algo entre R$ 5,30 e R$ 5,40 entre o fim deste ano e início do próximo.” Já o banco BV indica uma tendência de dólar mais alto ainda, mesmo com a melhora do cenário econômico brasileiro. “Aqui no Brasil alguns fatores podem atenuar, com taxa juros, leitura mais favorável de risco em relação ao Brasil. Mas o fato é que quando você combina juros elevados nos EUA, dólar forte no mundo e uma tendência de queda de preço da commodity, isso não ajuda a moeda brasileira. Eu acho que o movimento do dólar é para cima, que possa terminar o ano em R$ 5,50. Portanto, um cenário global bastante complicado, ainda que o Brasil esteja se saindo melhor desse processo.”

A tendência da taxa de câmbio é um dos principais fatores monitorados pelo agronegócio brasileiro já que o dólar interfere tanto na perspectiva de custo quanto no preço dos produtos. A safra 22/23 que está sendo semeada partiu da compra de insumos com uma taxa média de R$5,30 o que favoreceu a manutenção dos custos em um dos mais altos patamares da história. Para garantir que as margens de lucros do setor fiquem positivas, há uma expectativa de que o dólar não se deprecie tanto a ponto de prejudicar a formação dos preços em reais das commodities exportáveis. A poucos dias da eleição, o cenário de incerteza em relação à política econômica do Brasil nos próximos quatro anos e os impactos no dólar têm ajudado a explicar o baixo ritmo de venda antecipada de produções como a soja. Atualmente cerca de 16% foi comercializado, ante uma média de 25,3% para o período, apontam consultorias como a Datagro.

 

 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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