O agronegócio em 11 dias de governo Lula
Lula associa ‘agro maldoso’ ao vandalismo em Brasília e desgasta relação com setor; condução da economia, crédito rural e políticas ambientais estão entre os temas que despertam dúvidas
Os atos de vandalismo em Brasília nos primeiros dias de governo evidenciam a alta tensão política e desgastam a relação do Agro com o Lula à medida que o presidente associa a execução dos atos violentos com o que chamou de “agro maldoso”. A declaração generalista e precipitada levou dezenas de entidades a emitirem notas de repúdio. Não foi uma boa forma de tentar reconstruir pontes com o agro. A desconfiança sobre os efeitos que a liderança petista gerará sobre o setor seguem altas, especialmente após a fala preconceituosa de domingo, mas também por conta das decisões do petista para a condução da economia, os efeitos que a tripartição do ministério da Agricultura poderá gerar para as políticas setoriais e a falta de clareza sobre como as promessas do governo ligadas ao crédito rural e política ambiental serão executadas.
Na esfera econômica, as decisões do PT estão entre as mais altas preocupações do agro, especialmente pelo aumento do risco fiscal com o inchaço da máquina pública. A projeção de déficit primário já é superior a R$ 200 bilhões em 2023 e, para garantir a governabilidade, o governo pode aumentar mais gastos. Dado que um Estado enxuto não é a marca da atual gestão, a outra alternativa que sobra para lidar com esse rombo é cobrar mais impostos. O agro poderá ser chamado para ajudar a pagar essa conta com aumento da carga tributária que incide sobre o setor. A divisão do Ministério da Agricultura em outros dois ministérios, o do Desenvolvimento Agrário e da Pesca também é alvo de dúvidas sobre como isso repercute na gestão do dia a dia. A diminuição no número de técnicos no Ministério da Agricultura foi apontada pela Agência Estado como alvo de preocupações, já que o desmembramento da pasta reduziu em 30% a estrutura da área que abarca secretarias fundamentais como a de Política Agrícola, Defesa Agropecuária e Relações Internacionais, por exemplo.
Ainda que tenhamos apenas 11 dias de governo, há ansiedade no agro para compreender como deverão ser executadas algumas das políticas para o setor. Até o momento, as declarações de ministros como o da Agricultura, Carlos Fávaro, apontam na direção de mudar a imagem do Brasil com implementação de políticas de produção sustentável, descarbonização de algumas cadeias produtivas, taxas de juros reduzidas para boas práticas ambientais e sociais, além da priorização do custeio e equalização de juros para os pequenos produtores. Boas intenções, como a de reduzir juros e nomear o técnico e experiente Wilson Vaz para a secretaria de Política Agrícola deverão esbarrar em um problema de ordem prática: orçamento. Na questão ambiental, a construção ocorrerá de forma conjunta com o Ministério do Meio Ambiente, comandado por Marina Silva, o que é motivo para cautela dado o histórico de antagonismo dela com o agro. Para construir pontes é preciso ir além do discurso. Somente com apoio financeiro, político e estrutural é que serão preservadas as condições para que o agro continue batendo recordes de produção de alimentos e promovendo o desenvolvimento econômico do Brasil.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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