Pode faltar defensivo e fertilizante no Brasil? Especialistas respondem

País depende da importação dos produtos; ‘geopolítica dos insumos’ voltou ao foco após a União Europeia decidir intensificar as sanções econômicas contra Belarus

  • Por Kellen Severo
  • 21/11/2021 13h16 - Atualizado em 21/11/2021 19h39
Franck Barske/Pixabay trator jogando fertilizante em plantação Brasil depende da importação de fertilizantes e defensivos

A ocorrência de um “apagão” de insumos no Brasil foi descartada por especialistas ouvidos no painel Hora H do Agro, programa que foi ao ar neste domingo, 21. A preocupação sobre escassez ou até falta de fertilizantes e defensivos decorre de questões geopolíticas e logísticas que impactaram a formação de preços e disponibilidade de produtos ao redor do mundo. O Brasil é dependente da importação dos insumos e acompanha com atenção fatos novos em fornecedores como Belarus, Rússia e China, por exemplo.

Na última semana, a ‘geopolítica dos insumos’ voltou ao foco após a União Europeia decidir intensificar as sanções econômicas contra Belarus. O país do leste europeu responde, atualmente, por cerca de 20% de toda a produção de potássio utilizado como fertilizante nas lavouras brasileiras. Contudo, neste primeiro momento, a nova situação não deve impactar a distribuição de adubos. “Até agora as sanções que foram impostas nesta semana são muito ‘lights’ e não pegam em absoluto o mercado de fertilizantes”, afirmou Marcelo Mello, diretor da consultoria norte-americana StoneX. Não é a primeira vez que o bloco econômico aplica sanções contra o regime de Alexander Lukashenko. Medidas semelhantes foram adotadas em 2020 e também em junho deste ano, em conjunto com os Estados Unidos. Na ocasião, o governo norte-americano proibiu que empresas americanas fizessem negócios com companhias de Belarus.

No Brasil, a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) acompanha atentamente as punições contra o regime bielorrusso, uma vez que nosso país é dependente das compras externas de fertilizantes, produzindo “15% do que consome e importando os outros 85%”. Segundo Ricardo Tortorella, diretor da entidade que reúne mais de 120 empresas do setor, “se uma das punições for proibir a circulação de cloreto de potássio, que tem saída hoje pelos portos da Lituânia, isso seria perigoso para o mundo inteiro”. Apesar do alerta, ele não enxerga um agravamento da crise geopolítica e impactos na atual safra brasileira, mas para o ciclo 22/23, pondera: “A gente tem mais perguntas do que respostas; há variáveis que precisam ser monitoradas”, afirmou.

Escassez de defensivos?

No caso dos defensivos agrícolas, a cadeia observa os reflexos da crise energética global. Na China, regiões do país que concentram a produção de matérias-primas compradas pelo Brasil operam há alguns meses em um ritmo menor por causa da restrição no consumo de energia. A lentidão não causou falta de produto, mas refletiu em atraso nas entregas e pesou no bolso. “Nós sentimos esse impacto aqui em termos de oferta e preço principalmente, que já está impactando os custos da safra 21/22 e 22/23”, destacou André Dias, sócio diretor da Spark.

Como os agricultores aprenderam a programar a compra de seus defensivos com duas e até três safras de antecedência, muitos estudam fechar os negócios da temporada 22/23. Mas, de acordo com a Spark, as indústrias ainda estão cautelosas ao fazer novas transações: “Não se tem clareza quando se estabiliza ou se retrai a oferta de defensivos da China por conta da crise energética”, afirmou Dias. Risco cambial e da cadeia de distribuição também são monitorados. No Hora H do Agro, os especialistas também analisaram tendências para frete marítimo, perspectivas de preços de insumos nas safras futuras e mais. Confira a edição completa do programa:

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