Saldo inicial da missão Brasil-China é positivo para o agro
Retomada dos embarques de carne bovina e habilitação de novos frigoríficos são primeiras boas novas da viagem
O fim da suspensão temporária dos embarques da carne bovina do Brasil para a China, a habilitação de quatro novos frigoríficos (algo que não acontecia desde 2019) e a retomada do embarque de duas plantas que estavam embargadas são boas notícias para o agronegócio brasileiro, que tem como meta ampliar o relacionamento com o país asiático na pauta de carnes. É esperado também que se inicie uma renegociação do atual protocolo sanitário da exportação bovina de forma que não sejam realizados autoembargos sem gatilhos que garantam o retorno das negociações se houver investigações como o de casos atípicos de vaca louca. É preciso rever a prática a fim de evitar prejuízos ao setor pecuário. A China é hoje o principal destino da carne bovina do Brasil e a ausência de vendas em função do embargo no último mês gerou queda de quase 5% no preço da arroba do boi em São Paulo, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP). Ou seja, Pequim mexe com o mercado e gera efeitos importantes na cadeia pecuária devido à alta concentração que tem no destino de nossos produtos.
O país asiático é o principal parceiro comercial do Brasil. Um estudo realizado pelo Conselho Empresarial Brasil China (Cebri) indicou que a participação dos chineses nas nossas exportações totais saltou de 17,2% em 2012 para mais de 31% em 2021. As vendas do agro para a China somaram mais de U$ 50 bilhões em 2022. A soja e a carne bovina são os primeiros itens da pauta agroexportadora. No agro, os chineses também são nosso principal mercado, representando quase 32% das nossas exportações. Só no ano passado, os embarques para lá somaram US$ 50,79 bilhões, incremento de 23,8% ante 2021.
Principais produtos exportados para a China em 2022
- Complexo soja: US$ 32,08 bilhões
- Carnes: US$ 10,04 bilhões
- Produtos florestais: US$ 3,5 bilhões
- Complexo sucroalcooleiro: US$ 1,69 bilhão
- Fibras e produtos têxteis: US$ 1,1 bilhão
- Fumo: US$ 472,3 milhões
A aliança sino-brasileira tem várias complementaridades, como essa em que o Brasil produz commodities agrícolas e a China precisa importá-las para garantir sua segurança alimentar. Ainda assim, cabem reflexões, como a de um artigo da Unicamp que questiona: O Brasil alimentará a China ou a China engolirá o Brasil? A premissa dessa relação virtuosa esconde a possibilidade de a China “engolir” o Brasil, quer seja fomentando competidores internacionais, quer seja financiando apenas iniciativas do seu interesse e que restrinjam o desenvolvimento econômico brasileiro, escrevem os autores do texto, Pedro Abel Vieira, Antonio Buainain e Eliana Figueiredo.
A diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, concorda que a concentração de destinos e produtos para um único cliente é um risco, mas sugere que as vendas para China sejam aumentadas. “Quando me perguntam se o Brasil deveria vender menos para a China, eu digo: de forma nenhuma. A gente tem que vender muito mais. O que acontece é que temos que vender para outros mercados também, para não ficarmos na dependência de um só. É um risco, a gente precisa diversificar destinos e produtos”, diz Mori. Na próxima semana, o presidente Lula chegará à China e se juntará à missão brasileira. Lula já esteve na Argentina, Uruguai e Estados Unidos. Nas últimas visitas internacionais, nenhum grande e importante acordo para o agro foi anunciado. Vamos aguardar os desdobramentos da viagem à China para verificar se o saldo pode melhorar. Por enquanto, começou bem com as notícias do setor de carnes.
Acompanhe algumas das demandas de diferentes setores do Agro na China:
Carne de aves e suínos
- Ampliação do número de plantas habilitadas para exportação. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Brasil possui atualmente 47 plantas de frango e 16 de suínos habilitadas a exportar para a China.
- Reconhecimento do Rio Grande do Sul e Paraná como áreas livres de febre aftosa sem vacinação.
Frutas
- Abertura de mercados para novas frutas brasileiras. Segundo a Abrafrutas, o melão é atualmente a única fruta fresca exportada para o país asiático.
- Discussão sobre desafios logísticos no envio de frutas frescas à China.
Algodão
- Apresentação do Programa de Qualidade do Algodão Brasileiro, que prevê o autocontrole e pode acelerar o processo de chegada do produto à China.
Arroz
- Assinatura de acordo fitossanitário para permitir o início das exportações para a China. Segundo a Abiarroz, o país asiático poderia demandar, inicialmente, cerca de 1 milhão de toneladas ano.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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