Indecisões adiadas escondem decisões tomadas

A vida não espera e o silêncio nas escolhas custa mais caro do que a coragem de enfrentar o desconforto

  • Por Larissa Fonseca
  • 06/10/2025 14h02 - Atualizado em 06/10/2025 14h03
  • BlueSky
Freepik Indecisão Tudo o que você quer na vida está do outro lado do medo

A vida exige escolha. E toda vez que você arrasta uma decisão por tempo demais, já está escolhendo. Seja pela omissão, pelo medo ou pelo apego, a vida não espera para acontecer. Porque, convenhamos, o tempo até resolve muita coisa… menos a sua vida.

Tudo o que você quer na vida está do outro lado do medo. O medo paralisa, dá preguiça e te faz adiar o inadiável: o seu sucesso, a sua mudança, o que quer que
você precise assumir para si. A vida não suspende o cronômetro toda vez que você pensa: “depois eu vejo isso”.

Vivemos em uma cultura que desconfia da emoção. Quando alguém demonstra tristeza, indignação ou vulnerabilidade, logo surgem os rótulos: drama, exagero,
interpretação, busca de atenção. Como se sentir fosse sempre um erro de cálculo. Essa distorção é o retrato de uma sociedade adoecida, que prefere a anestesia ao contato com a verdade emocional do outro.

Ter emoção é estar vivo. Vibrar, torcer e sentir junto. Se afastar da emoção é adiar uma escolha. Porque no fundo você sabe o que lhe traria conforto ou felicidade,
mas não quer carregar o ônus do caminho escolhido. E, assim, pular a vez parece uma alternativa segura.

Schopenhauer dizia que “o destino embaralha as cartas e nós jogamos”. O problema é que segurar as cartas na mão enquanto o jogo acontece é o mesmo que
morrer com várias cartas sem usar. Não jogar é decidir — só que a perder.

O medo de escolher é a melhor prova de que estamos livres. Fugir da decisão não elimina a escolha, só nos faz viver na ilusão de que o tempo decidirá por nós.
Spoiler: ele não decide — ele apenas cobra juros.

Estudos de Harvard mostram que as pessoas se arrependem 84% mais daquilo que não fizeram em comparação ao que fizeram. Ou seja: procrastinar decisões
custa mais caro do que assumir escolhas imperfeitas. Quanto mais prolongamos uma escolha, maior a chance de arrependimento. O cérebro entra em sobrecarga: a amígdala, ligada à ansiedade, fica hiperativa, enquanto o córtex pré-frontal, responsável pela clareza, perde força. A indecisão vira anestesia e veneno ao
mesmo tempo.

Quantas vezes você continua em um relacionamento que já acabou, em um trabalho que não faz mais sentido ou em uma rotina que só esgota? O “não sei”
também é um sim disfarçado. Sim para o que te prende, sim para a estagnação. E essa talvez seja a ironia mais cruel da indecisão: acreditamos estar adiando para
preservar opções, quando na verdade estamos pagando para manter abertas portas que já não levam a lugar algum.

No fim, a pergunta não é se vamos decidir. A pergunta é quando teremos coragem de assumir que já decidimos. O que você ainda chama de indecisão, no fundo já é escolha?

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.