Biden anuncia que vai concorrer ao segundo mandato, mas ainda não explicou como vai vencer a rejeição
Desaprovação média do atual presidente é de 55%, historicamente baixa para um candidato à reeleição; o que favorece o democrata, por enquanto, é Donald Trump estar desbalanceando o partido republicano
Dois dos institutos que medem periodicamente a popularidade do presidente dos Estados Unidos apresentaram resultados muito semelhantes. No dia 20 de abril, a agência de notícias Reuters, com o grupo Ipsos – especializado em pesquisas de opinião pública –, indicava que 54% dos indicados desaprovam o governo Joe Biden. Um mês antes foi a vez das organizações Gallup, outra referência em medições de popularidade, apontar que 56% dos eleitores rechaçam a atual administração. Na média, 55% daqueles que responderam os levantamentos reprovam o democrata. A equipe que agora organiza a pré-campanha de reeleição sabe disso. Biden deve enfrentar um ranger de dentes da ala mais liberal do partido, que vai querer a realização de prévias. Afinal, a intenção de manter na Casa Branca um representante da “velha política” contradiz o discurso progressista que despontou na legenda. Mas dificilmente o esforço isolado de um grupo de dissidentes vai mudar as diretrizes do partido.
Ao respeitar o princípio básico da propaganda – o que é bom a gente mostra e o ruim, esconde – o presidente busca mexer com a parte mais sensível de todo eleitor: o bolso. Na pauta, números do mercado de trabalho que convergem ao pleno emprego e a expectativa de que projetos de sustentabilidade abram novas vagas. Lacunas que surgiram ao longo dos primeiros três anos de mandato foram jogadas para debaixo do tapete, a exemplo da vice-presidente Kamala Harris, que ainda não encontrou um lugar sólido na opinião pública. Ela era promessa dos democratas reescreverem a história política dos Estados Unidos. Primeira mulher a alcançar o cargo de “número dois” da presidência, ainda mais com ascendências estrangeiras e afroamericanas. Kamala tinha as credenciais para ser uma celebridade em Washington. Por enquanto, passou despercebida.
“Os democratas não têm outro candidato. Biden não tem opositor dentro do partido. Embora o presidente cometa gafes – o que todo mundo está sujeito no atual mundo vigiado pelas redes sociais – não se trata de nada grave. Pesa contra Biden a idade (80 anos) e o fato de estar desgastado… Mas ele é equilibrado”, avalia o professor Pedro da Costa Júnior, cientista social e pesquisador da USP na área de Relações Internacionais.
O que pesa a favor de Biden é a estatística. O eleitor, embora esteja rejuvenescendo e cada vez mais formado pelas segundas e terceiras gerações de latinos nascidos em solo americano, ainda é muito conservador. Nos últimos 230 anos, as campanhas de reeleição tendem a sair vitoriosas. E o atual presidente ainda tem no currículo o fato de ter sido vice por dois mandatos, o que é um ponto de desempate para os indecisos. Do outro lado, uma enorme incógnita: com quem o democrata vai competir? A resposta mais óbvia seria Donald Trump. O magnata já deixou claro a vontade de voltar à corrida pela Casa Branca. Mais do que a vontade, estão os obstáculos. Primeiro, Trump tem de se desvinciliar da Justiça. Ele responde por 34 crimes de falsificação de documentos no estado de Nova York. O processo já está correndo em uma corte de Manhattan. Pouco provável todas as possibilidades de recurso serem extintas até novembro do ano que vem, quando acontece a eleição. Tampouco eventuais condenações para estes crimes o levem à cadeia. Agora, se o ex-presidente for parar ao banco dos réus pelas suspeitas de envolvimento – mesmo que indireto – à invasão do Capitólio em janeiro de 2021 e pela pressão para um resultado favorável a ele na contagem de votos na Geórgia, a situação muda de figura. Ambos os casos esbarram na Décima Emenda Constitucional americana, onde estão previstos os crimes de traição, rebelião e insurgência. Caso seja condenado sob estas acusações, jamais poderá ser candidato a nenhum cargo eletivo, nos Estados Unidos.
“Se a disputa presidencial se concentrar entre Joe Biden e Donald Trump, destaco dois pontos. O primeiro é que, mais uma vez, veremos a disputa entre o menos rejeitado. Se Biden aparece com alto índice de rejeição; Trump tem números ainda maiores”, reforça Pedro da Costa Júnior. O professor ainda destaca que se houver mesmo a repetição da eleição de 2020, será como “olhar no retrovisor”. De fato. As bases das supostas campanhas estão prontas e testadas. Trump já está reaparecendo ao lado do slogan que o consagrou: “Make America Great Again”. O rival Biden segue reforçando o “Build Back Better”, cujo objetivo é criar um ambiente favorável, nos Estados Unidos, para os empregos de alta qualificação profissional. A corrida pela cadeira no Salão Oval só termina em novembro do próximo ano, mas já foi dada a largada.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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