Bombas sujas e recusa da Otan: a política ‘bate e assopra’ de Biden para a Ucrânia
Presidente dos EUA promete a Volodymyr Zelensky até armas proibidas por tratado internacional; por outro lado, Casa Branca não dá perspectivas à Ucrânia de ingressar na Aliança Militar do Atlântico Norte
Os equipamentos enviados ao Exército ucraniano pelos governos que apoiam Kiev estão cada vez mais sofisticados. Já foram tanques, caças e sistemas computadorizados de defesa antiaéreo. A última oferta partiu de Washington. A notícia veio acompanhada de uma polêmica até então inédita. Biden anunciou a entrega de bombas de fragmentos. O dispositivo é considerado estratégico. Trata-se de um projétil que carrega explosivos menores no interior. Os efeitos de um ataque do tipo variam conforme a tática empregada. O disparo pode conter um núcleo com acessórios incendiários, explosivos de impacto, ou minas terrestres. O último exemplo é o que mais deixa resíduo no palco de guerra. Em geral, os fragmentos intactos podem ficar décadas enterrados sem perder a capacidade de detonação. O alcance de algumas destas munições chega a quatro campos de futebol. Com o tempo, as vítimas são civis que sequer eram nascidas na época em que foram usadas. Por conta da eficiência, são chamadas de táticas. Pelos riscos de mutilar inocentes, foram banidas em mais de cem países. Está aí a polêmica.
Os Estados Unidos não estão infringindo nenhuma regra. Afinal, o país não é signatário do acordo, que entrou em vigor em 2010. Biden esperava pelas críticas. A decisão envolveu o chamado “núcleo duro” do Salão Oval. Além do próprio presidente americano, foram consultados a vice Kamala Harris, e os secretários de Estado e Defesa. A Casa Branca está disposta a queimar capital político para evitar novos avanços da Rússia na invasão à Ucrânia. Porém, os esforços americanos têm limite. A Otan ainda não entrou na equação. Embora a entrega de armas, munição, veículos e treinamento criaram uma resistência que Moscou não esperava, Zelensky queria, mesmo, o engajamento daqueles que se levantaram contra Putin nesta guerra. Em uma palavra: tropas. Acenos e discursos propositivos, o presidente ucraniano ouviu de todo o Ocidente. Mas nada além de promessas, orações e palavras de incentivo. Ser aceito na Otan mudaria o jogo. Ele continua fazendo pressão. Foi recebido na reunião anual da Aliança, que desta vez acontece na Lituânia. Reuniu-se em paralelo com governos que aceitaram reuniões a portas fechadas, a exemplo de Joe Biden. O presidente americano fez mais um gesto de acolhimento. Disse ver perspectivas da entrada da Ucrânia na Otan. Isso é importantíssimo, uma vez que os Estados Unidos são o integrante mais forte dos 32 componentes do grupo, contando que a Suécia acabou de ser aceita. A própria chefia da organização também sinalizou a Zelensky as “boas-vindas”… Mas não agora. Otan, Estados Unidos e todas potências militares ocidentais que temem uma retaliação mais pesada de Moscou continuam tratando o presidente ucraniano como se fosse uma criança pidona, que os pais respondem: “na volta a gente compra”.
Do outro lado da fronteira, o Kremlin observa as movimentações dos inimigos. Uma das justificativas de Putin para invadir a Ucrânia era essa: a aproximação de Zelensky ao ocidente. Ainda na condição de União Soviética, Moscou viu isso acontecer com a antiga aliada Polônia. Parêntese histórico importante: enquanto o Ocidente se reorganizou depois da segunda guerra mundial, e colocou em prática a Organização do Tratado da Aliança do Atlântico Norte, em abril de 1949, formou-se do outro lado a Cortina de Ferro. Os comunistas assinaram o Pacto de Varsóvia, na capital da Polônia, em maio de 1955, para justamente contrapor a força imposta pelos outros vencedores da Segunda Guerra: EUA, França e Reino Unido. Só que a mobilização militar soviética ruiu após a queda do muro de Berlim, e a Polônia preferiu se alinhar com Washington. De certa maneira, Putin vê a história se repetindo com Zelensky. Acostumado a ver as antigas unidades da extinta União Soviética ainda subservientes a Moscou, o presidente russo partiu para cima daquele que se mostrou uma “ovelha desgarrada do rebanho”. E o que é a guerra senão a imposição da vontade política de um Estado sobre o outro, por meio da força armada. A frase é síntese do trabalho do general prussiano, estrategista e teórico militar cuja obra escrita no século XVII baliza até hoje os das relações entre países.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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