Enchentes, eleições e responsabilidades

Prefeitos de cidades atingidas por desastres naturais enfrentam dificuldades nas urnas

  • Por Patrícia Costa
  • 08/10/2024 08h25
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MISTER SHADOW/ASI/ESTADÃO CONTEÚDO ponto de alagamento no bairro Matias Velho, na cidade de Canoas O impacto das tragédias naturais no cotidiano dos eleitores influenciaram o resultado das urnas no RS

As recentes eleições municipais no Rio Grande do Sul trouxeram à tona a questão da relação entre desastres naturais e a política local. O exemplo mais recente é a não reeleição de prefeitos de cidades severamente afetadas por enchentes. O que está em jogo aqui não é apenas a falta de apoio político em tempos de crise, mas também a maneira como as mudanças climáticas e suas consequências vêm transformando o cenário eleitoral e, mais importante, a própria governança das cidades. As inundações no Rio Grande do Sul, que deixou um rastro de destruição em dezenas de municípios, colocou os prefeitos em uma situação extremamente delicada. Muitos gestores foram acusados de má gestão, falta de preparo ou simplesmente de não terem dado respostas rápidas e efetivas às emergências. Mesmo quando essas críticas são injustas, o impacto das tragédias naturais no cotidiano dos eleitores é palpável, o que acaba influenciando diretamente as urnas.

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Esse fenômeno não é exclusivo do Brasil. Em 2021, um estudo da American Political Science Review mostrou que, nos Estados Unidos, prefeitos de cidades afetadas por furacões e inundações também enfrentaram dificuldades para se reeleger. Quando a população sente na pele o impacto devastador de eventos climáticos extremos, a confiança na liderança local tende a diminuir, especialmente se as respostas não forem consideradas eficientes. Mas é importante questionar se esses gestores estão sendo responsabilizados de forma justa. A realidade é que, muitas vezes, prefeitos de pequenas cidades não possuem nem os recursos nem a infraestrutura necessária para lidar com eventos dessa magnitude. A falta de planejamento urbano adequado, investimento em sistemas de drenagem, e apoio federal ou estadual nas ações preventivas são fatores que fogem do controle municipal, mas que acabam caindo no colo desses gestores.

A crescente frequência e intensidade de desastres naturais, como enchentes, secas e queimadas, colocam uma pressão enorme sobre as administrações locais. Prefeitos e vereadores estão, cada vez mais, sendo desafiados a adotar políticas públicas de adaptação e mitigação aos impactos das mudanças climáticas. E aqui surge o grande impasse: sem uma articulação forte entre governo federal, estados e municípios, o enfrentamento dessas catástrofes continuará sendo um fardo difícil de carregar. O Brasil, como um país altamente vulnerável às mudanças climáticas, precisa urgentemente de uma política nacional que ofereça suporte e capacitação para prefeitos e gestores locais em questões de adaptação climática. Somente com investimentos em infraestrutura resiliente, planejamento urbano e uma governança climática articulada em todas as esferas de governo será possível evitar que esses desastres naturais continuem prejudicando tanto a população quanto a estabilidade política das cidades afetadas.

Essa eleição no Rio Grande do Sul é apenas um exemplo do que pode se tornar uma tendência global. A responsabilidade de lidar com os efeitos das mudanças climáticas não pode recair exclusivamente sobre prefeitos ou pequenas administrações. É necessário um esforço conjunto, com políticas coordenadas e recursos adequados para que os gestores possam, de fato, proteger suas comunidades das crescentes ameaças ambientais.

 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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