Seca na região norte e os desafios para o sistema energético brasileiro
O aumento recorde no consumo de energia na região Norte pode obrigar o acionamnto de termétricas; mais caras e mais poluentes
A combinação de seca severa e ondas de calor extremo não só impacta o cotidiano das pessoas, mas também coloca em xeque a segurança energética do país. Recentemente, o Norte bateu recordes históricos de consumo de energia, pressionando um sistema já fragilizado pela falta de chuvas. Este cenário revela desafios profundos e estruturais que demandam atenção imediata. O Brasil tem uma matriz energética fortemente dependente de hidrelétricas, que respondem por cerca de 60% da geração de eletricidade. Essa dependência deixa o sistema frágil em períodos de estiagem prolongada. Os reservatórios da região norte estão em níveis críticos, o que compromete a capacidade de produção de energia. Em situações normais, as hidrelétricas operam com folga, mas quando os níveis de água caem, a necessidade de acionamento das termelétricas, mais caras e poluentes, aumenta. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registrou um pico de demanda elétrica em agosto, motivado pelas altas temperaturas que chegam a ultrapassar os 40°C em algumas regiões. Este aumento no consumo não é apenas um reflexo do maior uso de aparelhos de ar-condicionado, mas também da necessidade de manter em operação atividades econômicas que sofrem com o calor intenso, como a indústria e o comércio.
A pressão sobre o sistema elétrico tem consequências diretas para os consumidores. Quando a geração hidrelétrica não é suficiente, o acionamento das termelétricas eleva significativamente o custo da energia. Esses custos são repassados aos consumidores por meio de tarifas mais altas. De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Brasil já registrou aumentos tarifários de até 25% em 2023, e a tendência é de que esse número continue subindo, especialmente se as condições climáticas adversas persistirem. Para além do impacto direto nas contas de luz, a alta no custo da energia compromete a competitividade das empresas brasileiras. O Norte, que já enfrenta desafios logísticos e de infraestrutura, pode ver seus problemas agravados com a dependência de energia cara e instável. Em um cenário global onde a sustentabilidade e a eficiência energética são cada vez mais valorizadas, a dificuldade em garantir uma matriz energética confiável e a preços competitivos se torna um obstáculo adicional para o desenvolvimento econômico da região.
A urgência da diversificação energética
A crise energética que estamos enfrentando no Norte mostra a necessidade urgente de diversificar a matriz energética brasileira. O país possui um potencial enorme para a geração de energia a partir de fontes renováveis como a solar e a eólica, que são menos vulneráveis às variações climáticas. No entanto, a expansão dessas fontes ainda enfrenta barreiras significativas, como a falta de incentivos fiscais robustos, a complexidade regulatória e a falta de infraestrutura adequada para a integração dessas energias na rede elétrica nacional. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a participação da energia solar na matriz energética brasileira ainda é inferior a 5%, apesar do país possuir uma das maiores incidências solares do mundo. Já a energia eólica, que tem crescido nos últimos anos, responde por cerca de 10% da geração total. Estes números indicam que há muito espaço para crescimento, mas que também é necessário um esforço coordenado entre governo, setor privado e sociedade civil para que essa transição aconteça de maneira eficaz. As mudanças climáticas são uma realidade cada vez mais presente e demandam ações concretas e imediatas. As secas e ondas de calor no Norte são exemplos claros de como os padrões climáticos estão se alterando, com impactos severos para a infraestrutura e a economia. O Brasil, como um dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas, precisa liderar a transição para uma economia de baixo carbono, investindo em tecnologias limpas e na modernização do sistema elétrico.
Além disso, é fundamental que políticas públicas sejam implementadas para melhorar a eficiência energética e incentivar o uso de fontes renováveis. A adoção de tecnologias de armazenamento de energia, por exemplo, poderia ajudar a reduzir a dependência das hidrelétricas e aumentar a resiliência do sistema elétrico em períodos de escassez hídrica. Investir em energia renovável e em políticas públicas que promovam a eficiência energética não é apenas uma questão ambiental, mas também uma estratégia econômica para garantir o futuro do Brasil em um mundo cada vez mais impactado pelas mudanças climáticas.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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