E eu que nem sabia quem era Chico e Sonza…

Quinta, pela manhã, fui abordado pelas chuvas de pop-ups em meu computador, dando conta de que um inestimável relacionamento de dois meses tinha chegado ao fim após a traição do garoto

  • Por Pedro Henrique Alves
  • 23/09/2023 08h00
Reprodução/Instagram@luisasonza Luísa Sonza e Chico Moedas Luisa Sonza anunciou o término de seu relacionamento com o influenciador Chico Moedas na quarta-feira, 20

E eu que mal sabia quem era Luisa Sonza e definitivamente nunca tinha ouvido falar de Chico Moedas, acreditam? Quinta, pela manhã, fui abordado pelas chuvas de pop-ups em meu computador, dando conta de que ‒ ao que parece ‒ o inestimável relacionamento de Luiza com Chico tinha chegado ao fim após a traição do garoto. Desesperado, entrei nos sites que os pop-ups anunciavam e, freneticamente, tentei descobrir como cancelava esses estupros de mini outdoors de notícias inúteis em meu computador. Aliás, quem souber cancelar isso, me contate. Realmente vivemos o auge de nossa espécie se comparado com os milênios passados. Ainda que reclamemos sem parar, nossas roupas são baratas, nossas moradias seguras, nossos sistemas de governos menos violentos, nossas comidas muito melhor produzidas e distribuídas, nossa tecnologia infinitamente mais avançada do que em qualquer outra era. Talvez tenha sido esse excesso de comodidade que tenha produzido aquilo que muitos ‒ não me arriscaria a citar apenas um autor ‒ chamaram de “idiotas úteis”.

Quando liguei a TV no noticiário, o drama de Sonza também estava lá, no meu Instagram, advinha, no Twitter, a mesma coisa, a crônica de uma cantora traída por seu namorado tinha tomado as praças virtuais do país e, de repente, todos ao meu redor tinham uma opinião a dizer, uma análise psicossocial, filosófica, histórica, antropológica e até jurídica para fazer do caso Sonza vs. Chico. E vejam, não estou falando de pessoas aleatórias ‒ apenas ‒, mas também daqueles que têm seus calibres intelectuais elevados, pessoas que respeito no campo erudito, todos eles foram engolidos pela tendência criada pelo mainstream pueril que nos cerca. De uma hora para outra, poucas coisas pareciam ter mais relevância em minhas timelines e no país do que o chifre de Sonza e a clara falta de empatia conjugal de Chico. Pois bem, feliz o homem que, quando abordado com a frase “Sonza terminou com o Chico”, imaginou apenas que alguma mulher tinha entrado na menopausa. 

E eis, meus nobres, o paradoxo da contemporaneidade, a falta de informação pode sim ser sinal de inteligência, sanidade e cuidados mentais. Para aqueles que se vangloriam de nossa sociedade ser a que mais tem acesso a informações em menor tempo, acredite, quinta-feira senti inveja dos eremitas que não tiveram que refletir sobre “como o exemplo de Chico e Sonza pode colaborar na construção de uma masculinidade menos tóxica”, a ignorância em nosso tempo pode ser um claro sinal de inteligência. Afinal, indivíduos que vivem de mediocridades existenciais não conseguem cavar um metro sequer nas próprias existências a fim de compreenderem o que são e qual o sentido de suas vidas. 

Pois bem, como esta coluna já atingiu seu ápice de contradição e tom soberbo, afinal parei para escrever sobre como o fim do relacionamento de Sonza e Chico afeta a sociedade, terminarei apenas lembrando aos senhores e senhoras que existe vida além das redes, que não é preciso nenhuma curadoria midiática para que nós decidamos o que é importante ou não lermos, vermos e ouvirmos. Elencar nossas prioridades é uma das funções de nossa racionalidade única. É óbvio que cada um desperdiça seu tempo como quer, e contra esse argumento não tenho defesas. Mas também não há dúvidas de que ninguém eleva sua existência após refletir sobre a crise de Sonza e Chico, então meu ponto aqui não é de todo ignorável. Sinceramente estou cada vez mais convencido de que, hoje em dia, a escolha sensata do que faremos, e a que nos dedicaremos, é o próprio tesouro no final do arco-íris de nossa existência material. Acreditem, saber que trinta minutos dedicados a exercícios físicos, ou quiçá, à leitura de Machado de Assis ou Roger Scruton, valem mais do que formar qualquer opinião sobre a vida privada de artistas é o que nos diferenciará dos fúteis; é sempre bom lembrar que ninguém é forçado a participar de nenhuma ditadura da mediocridade, ninguém precisa formar opinião sobre o drama amoroso de Sonza. Tentem, é libertador!

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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