A maioria dos profissionais é contratada pela competência e demitida pelo comportamento
Quantos jovens brilhantes, inteligentes, bem-preparados, com currículo excepcional, não conseguem progredir nas organizações onde atuam
O resultado do estudo da Page Personnel divulgado já há um bom tempo é estarrecedor: 90% dos profissionais são contratados por serem competentes e demitidos por não saberem se comportar. Quantos jovens brilhantes, inteligentes, bem-preparados, com currículo excepcional, não conseguem progredir nas organizações onde atuam. E, em certas situações, chegam até a ser dispensados. A pesquisa, realizada há cerca de uma década, continua tão atual quanto no dia da sua divulgação. Os motivos são os mais diversos. Embora sejam produtivos, competentes, criativos, em certos casos, por não saberem trabalhar em equipe, serem impontuais, prepotentes, descompromissados, indisciplinados, não conseguem assumir funções mais relevantes e são substituídos por outros com perfil distinto.
A teoria na prática
Durante muito tempo, a ONG Via de Acesso Ruy Leal, que presido há 22 anos, promoveu com regularidade “mesas redondas”. Convidávamos as empresas mais importantes de setores representativos, como, por exemplo, automobilístico, eletroeletrônico, agroindustrial, construção civil, financeiro. Os gestores dessas organizações debatiam com os representantes das principais faculdades e universidades do país. Os administradores empresariais tomavam a iniciativa de dizer o que esperavam das escolas no preparo de seus estudantes. Que tipo de formação seria ideal para que fossem bem-aproveitados no mercado de trabalho.
Alunos de primeiro nível
As demandas eram muitas vezes surpreendentes. As organizações continuavam dando preferência aos jovens formados pelas “escolas de primeiro nível”. As seleções mais rigorosas e concorridas indicavam que os mais bem-dotados frequentavam essas instituições de ensino. Havia, entretanto, muitos gestores que afirmavam preferir “alunos de primeiro nível”. Ainda que não tivessem estudado nas melhores escolas, experimentaram um aprendizado que só a vida pode proporcionar. Tiveram de enfrentar inúmeros desafios para estudar à noite e trabalhar durante o dia. Muitos deles eram arrimos de família. Para serem aprovados nos exames e concluir o curso precisaram “ralar’ e, não raro, passar madrugadas em claro e sacrificar os finais de semana.
Preparados para os embates profissionais
Essa experiência os deixava com o couro endurecido e prontos para os desafios da vida corporativa. Chegariam aos postos de trabalho já com as mangas arregaçadas e a faca nos dentes, com expediente para resolver com naturalidade boa parte dos problemas que iriam enfrentar. Faz parte da missão da nossa ONG capacitar esses jovens e incluí-los no mercado de trabalho. Damos a eles as condições de que precisam para garantir um futuro promissor em suas carreiras. Procuramos preencher essa distância que separa as escolas do mundo corporativo. Orientamos como devem se vestir, falar, escrever e se comportar diante dos superiores hierárquicos. São aquelas diretrizes que normalmente não recebem nos bancos escolares.
A recompensa
O resultado é gratificante. Todas as empresas, sem exceção, elogiam os jovens que são recrutados com esse preparo. Não são poucos aqueles que, mesmo tendo sido formados por escolas classificadas de segundo nível, deixam para trás competidores oriundos de cursos mais renomados. Dificilmente recebemos notícia de que um deles tenha tido a carreira estagnada ou sido demitido por mau comportamento. Ao contrário, em pouco tempo passam a galgar postos mais elevados e a se projetar como profissionais comprometidos e competentes. Fazem de seu comportamento um atributo importante para serem vencedores.
Bom comportamento não significa subserviência
Não, não queremos formar profissionais que sejam apenas seguidores de ordens. Ao contrário, desejamos que tenham iniciativa, que sejam empreendedores, que exerçam liderança e ajam como protagonistas. É importante também que estejam abertos e alertas para as mudanças que terão de enfrentar com frequência cada vez maior. Posso repetir aqui o que temos dito a cada um deles antes de encaminhá-los às empresas: estude, aprenda, saiba tudo o que puder sobre a atividade que irá abraçar, mas jamais deixe de considerar um dos aspectos mais importantes para a sua jornada — o comportamento. Esse é um atributo que será sempre admirado, respeitado e recompensado.
Leve com você o chip tecnológico, próprio das últimas gerações. Tenha a mente aberta para as inovações e a necessidade de adaptações. Esteja impregnado pelo idealismo e até por boa dose de irreverência. Nunca, entretanto, deixe de se comportar bem. Seja qual for a atividade que venha abraçar. Siga pelo Instagram: @polito.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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