Argentina e o efeito ORLOFF com o Brasil
Fracasso da economia de los hermanos sob as cores vermelhas fez com que a população quisesse viver outros ares
Como a propaganda da vodca ORLOFF é dos anos 1980, a galera jovem, talvez, nem tenha ideia do que se trata. Em resumo. Um homem pergunta a outro, com a mesma cara que a sua, sem sinais de ressaca, se a vodca que ele vai tomar é ORLOFF. Diante da negativa, pede para trocar. E explica: Eu sou você amanhã. Pegou. Daí para frente, toda vez que um fato, bom ou mau, pudesse ser repetido, passou a ser chamado de efeito ORLOFF.
Com a iminente vitória dos conservadores na Argentina, os progressistas viram a luz amarela piscar. Será que o Brasil poderá experimentar o mesmo destino em futuro próximo? O fracasso da economia de los hermanos sob as cores vermelhas fez com que a população quisesse viver outros ares. O país vizinho degringolou. Todos os indicadores econômicos foram afetados negativamente. Pior, sem nenhuma expectativa de que possam ser revertidos a curto e médio prazo. Alberto Fernández adotou políticas populistas, que até agradam parte da população num primeiro momento, mas se mostram inviáveis na hora de fechar a conta.
Contrariando pesquisas recentes, o economista libertário Javier Milei venceu as primárias e está a um passo da vitória em outubro. Alinhado, pelo menos em tese, com as ideias da Escola Austríaca de Economia, defende que todas as pessoas são livres e devem se unir por iniciativa própria para criar um sistema de cooperação.
Suas propostas de campanha assustam a esquerda, pois contrariam tudo o que defendem: ações que beneficiam o livre mercado, diminuição do tamanho e do peso do Estado, eliminação do marxismo cultural, redução de impostos e abrandamento das regulamentações. Para os progressistas, essa plataforma política é como cruz na direção do diabo. Se os desacertos da economia brasileira continuarem na direção que tomou, tudo indica que aqueles que acreditaram em dias melhores sob o terceiro mandato de Lula virem a chave e comecem a pensar em outras opções para o país.
Uma grande falácia é acreditar que a população segue como massa sempre na mesma direção. O sociólogo francês Jean Baudrillard mostra que rumos sociais, políticos e econômicos podem ser alterados. Segundo o autor de “Para uma crítica da economia política dos signos”, até algumas décadas atrás, de maneira enganosa, o pensamento era o de que a população poderia ser sempre manipulada, já que não tinha vontade própria. Julgavam que o povo era constituído de indivíduos alienados, sem consciência crítica.
Segundo ele, hoje se sabe que as pessoas não se vinculam a um conteúdo, mas sim que resistem a ele. Não sendo possível prever o comportamento das massas, ganha relevância, assim, o poder de resistência. A massa aspira ao espetáculo, mas da mesma forma como adere e se mostra favorável ou contrária a um conteúdo, nada garante que esse comportamento seja mantido em outras circunstâncias.
Tendo em vista essa perspectiva, não é difícil, portanto, compreender a guinada dos argentinos para os acenos da direita. Assim como o mapa mundial recebeu pinceladas vermelhas, nada impede que a vontade popular, por motivos que nem sempre podem ser decifrados, queira experimentar outras tonalidades.
Assim como está acontecendo com a Argentina, bem aqui nas nossas fronteiras, a esquerda brasileira pode inferir que talvez venhamos a viver em breve o mesmo fenômeno em terras tupiniquins. Promessas vazias, que não podem ser cumpridas, decisões equivocadas, baseadas quase sempre, apenas em visões ideológicas, desacertos econômicos, que mexem diretamente no bolso da população, são alguns dos motivos que aos poucos, sem que os que estão no poder percebam claramente, indiquem que há caminhos diferentes e mais auspiciosos a serem seguidos.
O resultado nas eleições argentinas poderá ser um gatilho para obrigar os governantes atuais a pensar em dar ao país um futuro mais promissor, que leve em conta efetivamente a vontade da população. Baudrillard tinha razão: nada garante que as mesmas decisões tomadas pela massa hoje sejam preservadas em outras circunstâncias. É quase certo que não.
Dessa forma, quem se mostra desanimado ou eufórico com a situação vigente precisará considerar que nada permanece para sempre. É assim desde que o mundo é mundo. Além do efeito ORLOFF, que funciona como bola de cristal para vislumbrar o futuro, temos de nos lembrar de que na vida uns vêm e podem ir, enquanto outros vão e também podem voltar.
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*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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