Bolsonaro mata Lula a pau no debate

Presidente cutucou o opositor com alguns ataques rápidos e pontuais, obrigando-o a falar prolongadamente sobre assuntos irrelevantes; petista terá chance de se recuperar no último confronto na TV antes do 2º turno

  • Por Reinaldo Polito
  • 17/10/2022 14h02 - Atualizado em 17/10/2022 14h23
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ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Lula e Jair Bolsonaro durante debate Lula e Bolsonaro se enfrentaram diretamente pela primeira vez em debate na TV neste domingo

Lula sempre foi ruinzinho de debate. Suas duas únicas armas são o deboche e os ataques pessoais. Como precisa se defender de acusações graves, como o caso da corrupção, tenta se desvencilhar com essas atitudes, fugindo das questões levantadas. No confronto de domingo, 16, promovido pela Band, por exemplo, o jornalista Josias de Souza fez uma pergunta direta e objetiva. Queria saber como os candidatos pretendiam se relacionar com o Congresso. Se fariam como foi feito no Mensalão, ou, como agora, com o Orçamento Secreto. Bolsonaro respondeu rapidamente que o orçamento foi aprovado pelo Congresso. Afirmou que havia vetado, mas o veto foi derrubado. Lula, por sua vez, fugiu da questão. Rodou, rodopiou e não explicou nada. Nesse debate, o ex-presidente repetiu a mesma falta de competência para debater. Estava extremamente nervoso. O tempo todo ficou esfregando as mãos e ensaiando sorrisos para disfarçar o desconforto. Havia levado como grande trunfo alguns temas, que foram exaustivamente explorados pela mídia durante a semana. O mais recente foi o caso das jovens venezuelanas. O petista caprichou. Até usou um boton que incentivava a defesa de crianças e jovens. 

Bolsonaro agiu rápido. No momento de falar sobre as fake news, aproveitou para criticar o PT por recorrerem a informações falsas. Aí, sacou o papel e leu a decisão do ministro Alexandre de Moraes dando razão ao seu pleito. Refutou duas acusações ao mesmo tempo. Mostrou que os opositores se valem de mentiras para desqualificá-lo e, ao mesmo tempo, provou que não tinha nada a ver com o episódio. Na segunda parte do debate, o presidente pôs Lula em uma armadilha. Cutucou o opositor com alguns ataques rápidos e pontuais, obrigando-o a falar prolongadamente sobre assuntos irrelevantes, até esgotar o tempo. Dessa forma, conseguiu preciosos cinco minutos e meio para fazer, sozinho, um verdadeiro comício político para cerca de dois milhões e quinhentos mil telespectadores simultâneos. Tudo o que um candidato poderia sonhar em uma campanha. Criticaram Bolsonaro em duas questões: ter associado Lula com os bandidos da comunidade que visitou durante a semana e, também, por insistir na ligação do petista com os ditadores da Nicarágua e Venezuela. Na verdade, foi uma ótima sacada. No primeiro caso, ainda que alguns poucos moradores possam, desavisadamente, ter se magoado, imaginando que todos haviam sido colocados no mesmo pacote, o recado foi mais amplo. Desejou mostrar aos brasileiros que o adversário tem relação direta com os delinquentes, tanto que de cada cinco presidiários, quatro votam nele.

Com relação aos ditadores, o objetivo não é o de discutir questões geopolíticas. O que pretendeu demonstrar é que nesses países as religiões não são respeitadas, pois fecham igrejas, expulsam freiras e encerram atividades de emissoras católicas e evangélicas. Além disso, o regime levou a população à fome, já que uma grande parte não tem o que comer. Assim, associa os planos de Lula com o que está ocorrendo nessas nações. Quando Bolsonaro foi questionado a respeito de quantas universidades havia construído, preferiu argumentar que na pandemia, com todas as escolas fechadas, não teria cabimento investir nessas obras. Aproveitou também para criticar o oponente por ter dado crédito – e endividado os estudantes. Tanto que teve que perdoar as dívidas de mais de 90% dos inadimplentes. Dentro do tema educação, destacou que os estudantes, “no seu Paulo Freire, Lula não deu certo”, saíram analfabetos dos cursos. Chamou a atenção de que deu 33% de aumento para os professores, e que implantou um método de alfabetização, reduzindo o tempo de aprendizado de três anos para seis meses.

Lula tentou também colocar no colo do chefe do Executivo uma grande quantidade de desmatamento da Amazônia. E não foi feliz, pois Bolsonaro mostrou que no governo petista o desmatamento foi o dobro. E como o ex-presidente gosta de pedir provas dos números apresentados, o presidente tomou a iniciativa de incentivar os telespectadores a fazer busca no Google para confirmar o que estava dizendo. Quebrou assim também essa estratégia. Para não dizer que foi tudo perfeito para Bolsonaro, é preciso salientar que ele também se estendeu demasiadamente no primeiro bloco ao falar da pandemia. Poderia ter aproveitado o tempo para falar dos feitos do governo e fustigar o adversário. Foi possível observar ainda que se mostrou bastante nervoso. Falou muito tempo com os braços nas costas, fugiu da câmera com a comunicação visual e segurou, sem necessidade, pois foram instantes em que não tinha intenção de ler, folhas de papel nas mãos, como se fossem muletas psicológicas. Por essas razões, ficou claro que Lula vacilou nesse debate. Se o confronto serviu para conquistar votos, Bolsonaro parece ter levado vantagem. O petista terá chance de se recuperar no último confronto a ser realizado na Globo. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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