Candidatos mentem na campanha? Vamos refletir sobre isso

Os eleitores ficam boquiabertos: como essa turma mente tanto e toca a vida como se tudo fosse normal?

  • Por Reinaldo Polito
  • 05/09/2024 09h00
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José Cruz/Arquivo/Agência Brasil Urna eletrônica 'Na próxima eleição, esses mesmos políticos vão continuar mentindo, sem que a maioria dos eleitores perceba que foi ludibriada novamente'

A classe política está desacreditada, e eles mesmos armaram as próprias armadilhas. Alguns deles prometem o paraíso, acusam, sobem no ringue e… depois fica o dito pelo não dito. Não cumprem as promessas, aliam-se àqueles que acusavam de corruptos e sentam-se à mesa com os antigos desafetos, como se nada houvesse acontecido. Os eleitores ficam boquiabertos: como essa turma mente tanto e toca a vida como se tudo fosse normal? Será que alguns desses “malandros da política” não têm vergonha na cara? Não, não têm. Só que os eleitores também não.

Pesquisa espantosa

Uma pesquisa do Datafolha divulgou que mais de 60% dos entrevistados não lembram em quem votaram. Uau, mais de 60%! Ora, se o eleitor não se lembra em quem votou, como vai cobrar coerência de quem recebeu o voto?! E mais, entre os que se lembravam em quem haviam votado, cerca de 30% disseram não acompanhar a atuação parlamentar.

E assim, na próxima eleição, esses mesmos políticos vão continuar mentindo, sem que a maioria dos eleitores perceba que foi ludibriada novamente. Se alguém ainda se espanta com a mentira dos políticos, é bom lembrar que mentir é uma característica do ser humano, e não só dos que correm atrás dos votos.

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Especialista em mentira

Na obra “Os fundamentos biológicos e psicológicos da mentira”, o professor de filosofia na Universidade da Nova Inglaterra, David Livingstone Smith, faz revelações mais do que surpreendentes sobre a mentira. Segundo seus estudos, uma pessoa conta em média três mentiras a cada dez minutos. Ou seja, em um bate papo de uma hora, iremos ouvir cerca de dezoito mentiras.

Vamos assumir que, assim como eu, você também duvide desses números. Mesmo sem escarafunchar os dados da pesquisa, de longe, parece ser mentira demais. Ok, juntemo-nos nesse ceticismo para concluir que o autor se enganou. Por um deslize de cálculo, talvez ele tenha multiplicado tudo por dois. Ainda assim é mentira para mentiroso nenhum botar defeito.

Quase ninguém percebe

Parece que até Smith ficou preocupado com o resultado, tanto que se apressou em explicar que nessa conta entram não só as mentiras cabeludas, mas também as suaves, inofensivas, as chamadas mentiras brancas. São aquelas lorotas que alguns gostam de contar para “ficar bem na fita”, como, por exemplo, dizer que determinado corte de cabelo ficou bom, quando, na verdade, mais parece um espanador.

Smith não para por aí. Afirma ser muito difícil desmascarar um mentiroso. Segundo suas conclusões, apenas uma em cada mil pessoas descobre que alguém está mentindo. Agora entra uma informação que tempera ainda mais o nosso tema: mesmo gente traquejada em identificar mentiras tem índice de acerto apenas um pouco maior.

Os políticos são craques

O autor revela que os políticos são tão bons em mentir que conseguem enganar 90% daqueles que têm faro para descobrir quando alguém falta com a verdade. Dá para deduzir que é muito difícil saber se um candidato está dizendo algo diferente do que verdadeiramente pensa. Bem, nesse caso, a solução é jogar a toalha, já que não dá para saber quem mente ou conta a verdade?

É difícil, mas não impossível. Vale até como exercício de observação. Se ficarmos atentos, algum detalhe poderá ser percebido. Wilhelm Reich destaca na obra “Análise do caráter” que ‘A linguagem humana atua, interfere na linguagem da face ou do corpo. Por isso, a expressão total de um organismo, deve ser literalmente idêntica à impressão total que o organismo provoca em nós’. Para isso, precisamos ficar muito atentos.

O trabalho do psiquiatra

Certa vez, entrevistei o psiquiatra Içami Tiba sobre essa questão. Ele disse que durante as conversas com os pacientes, ouvia suas palavras, mas analisava cuidadosamente as manifestações do corpo. Comentou que em muitos casos “ouvia” mais o que dizia o corpo que as palavras.

E aí, será que já fomos enganados nessas eleições? Ou ainda há tempo de analisar a história dos candidatos com atenção? O passado deles é repleto de informações que poderão servir como atestado de pessoas sinceras ou mentirosas. Sem muito rigor, já que todos nós, segundo Smith, contamos três mentiras a cada dez minutos. Eu, hein?! Siga pelo Instagram:@polito

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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