Como Lula, Ciro e Bolsonaro devem falar para conquistar votos

Candidatos deverão atuar nessa campanha para conquistar credibilidade junto aos eleitores, pois só assim conseguirão os votos de que necessitam

  • Por Reinaldo Polito
  • 25/08/2022 09h00 - Atualizado em 25/08/2022 14h57
Montagem sobre fotos - Estadão Conteúdo Montagem mostrando Lula à esquerda, Ciro Gomes ao centro e Bolsonaro à direita, todos eles discursando Lula, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes são os candidatos mais competitivos da corrida presidencial

Alguns de meus alunos candidatos ficam perplexos quando conversam comigo pela primeira vez. Sem me alterar, olhando bem nos olhos deles, eu afirmo de maneira pausada: “Político é ladrão, interesseiro e mentiroso”. Faço uma pausa prolongada. Em alguns casos até ofereço um cafezinho para criar ainda mais expectativa. Depois do impacto provocado pelo contato inicial inusitado, explico: “Você concorda que é essa a imagem que muitos eleitores têm dos políticos?”. Todos, mais aliviados, respondem que sim. Nesse momento já tenho a atenção total do aluno. Ele está curioso para saber o que direi na sequência.

O que digo a eles vou dizer agora também para os postulantes ao cargo de presidente do país: “Você precisará agir para não carregar nas costas essa imagem tão negativa criada pelos políticos ao longo dos anos”. Lula, Ciro, Bolsonaro e outro, que ponha a cabeça de fora, deverão atuar nessa campanha para conquistar credibilidade junto aos eleitores, pois só assim conseguirão os votos de que necessitam para vencer as eleições. Se o eleitor não acreditar no candidato, não vota nele. Quais são os requisitos da comunicação para que possam ter a confiança do eleitorado? 

Naturalidade

Nós nos lembramos bem de quando Sergio Moro lançou sua candidatura à Presidência. Como, provavelmente, havia se preparado para aquele novo desafio em sua vida, passou a se expressar em público de forma muito diferente da usual. As pessoas perceberam que havia algo estranho em sua comunicação. Seu comportamento não estava natural. Não transmitia autenticidade. Com o tempo, foi deixando aquele novo figurino de lado e adotou um estilo mais espontâneo, com o qual os brasileiros estavam acostumados. Esse deve ser um cuidado dos candidatos que desejam chegar ao Palácio do Planalto nessas eleições. Na postura, nos gestos, no ritmo da fala, no vocabulário, enfim, em todos os aspectos da sua oratória precisam demonstrar que não mudaram sua maneira de ser. Que são eles mesmos.

Emoção

O político não pode ser morno. Nunca. Ele mexerá com a emoção das pessoas. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, sempre teve esse jeitão de lorde. Sujeito fino, bem preparado, habituado a viver em bons ambientes. No início, levava para a tribuna esse mesmo comportamento. Se, por um lado, se mostrava bastante natural, por outro, faltava a ele a demonstração de envolvimento com as causas que abraçava. Falava dos problemas de segurança do país como se tratasse da segurança do prédio onde residia lá na rua Maranhão, no bairro de Higienópolis. Ao perceber que esse estilo brando não estava levando a lugar nenhum, mudou a maneira de transmitir a mensagem e passou a fazer discursos mais entusiasmados.

Só passou do ponto quando em 1994, na cidade de Canudos (BA), comeu buchada de bode. Disse que era uma delícia. E que em Paris era considerado um prato sofisticado. Os jornalistas pesquisaram o assunto com alguns chefs franceses. Ninguém se lembrou de ter visto bode por aquelas bandas. Nesse caso, o envolvimento passou do ponto. Por isso, ao falar dos problemas que afligem o país, o candidato deve se expressar com indignação, com veemência, com revolta. Só deve tomar cuidado com o bode. 

Demonstração de conhecimento

Além do conteúdo em si, quem deseja vencer eleições deve se expressar com tanta fluência que os ouvintes percebam pela sua desenvoltura que o tema está mesmo presente em seu dia a dia. Há pouco tempo, o ex-candidato André Janones foi entrevistado por Roberto D’Avila na GloboNews. Ao ser perguntado se sabia o nome do presidente da Argentina, respondeu que era Macron. Esse desconhecimento de uma informação básica para um candidato tira dele toda a credibilidade. Ainda que conheça a informação, se falar de forma tímida, insegura, desconfortável, dará a impressão de que o assunto foge do seu campo de conhecimento.

Coerência

Aqui reside o calcanhar de aquiles dos pretendentes. Ainda mais com a proliferação das mídias sociais hoje, tudo o que ele disser ficará gravado. Para sempre. Portanto, se fizer uma pregação com seu discurso, por mais eloquente que seja, e depois tiver um comportamento diferente, contrariando suas próprias palavras, faltará a ele coerência. Esses são os pilares para que um candidato consiga conquistar credibilidade e o voto. Não é fácil. Ainda mais para quem já está na vida pública há muito tempo, o risco de escorregar em alguns desses pontos é grande. Em certos casos poderá ser até fatal para as suas pretensões. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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