Lula e Bolsonaro têm confronto decisivo no debate da Globo

Falta pouco para sabermos se valeu o povo na rua ou se as pesquisas conseguiram captar o voto silencioso daqueles que preferiram ficar em casa

  • Por Reinaldo Polito
  • 29/09/2022 09h00
Montagem com fotos do Estadão Conteúdo Montagem com Lula `esquerda e Bolsonaro à direita, ambos gesticulando e falando durante debate Lula e Bolsonaro participarão do debate da Globo nesta quinta-feira

Os debates da Globo já tiveram muita influência no resultado das eleições presidenciais no Brasil. O caso mais marcante foi a disputa entre Lula (PT) e Collor (PRN) no pleito de 1989. Os dois concorriam ombro a ombro na reta de chegada. Assim como acontece nos últimos dias desta campanha, também naquela época não dava para cravar com segurança quem seria o vencedor. Deu Collor. Um dos motivos da conquista do ex-governador alagoano foi a manipulação feita pelo canal de televisão. O próprio Boni, que “mandava prender e mandava soltar” na emissora carioca, confessou que houve manipulação do debate. Um dia depois do confronto fizeram duas edições com “os melhores momentos” dos temas discutidos entre os dois postulantes ao cargo. A seleção de trechos que mais beneficiou Collor foi exibida no “Jornal Nacional”. Dizem os analistas que essa foi uma das causas mais importantes para Lula não chegar ao Palácio do Planalto. Lula já relembrou a “mutreta” que aprontaram contra ele naquelas eleições. A interferência da emissora naquela época permitiu que Collor chegasse ao final com 53% dos votos contabilizados. 

Pois é, passam os anos, as eleições se sucedem, e eis que mais uma vez os dois principais concorrentes, a poucos dias antes de os eleitores se dirigirem às urnas, chegam sem que ninguém possa afirmar com certeza o que poderá acontecer. Segundo os bolsonaristas, que confiam no que os seus olhos veem, o “Datapovo”, o presidente já está reeleito. Julgam ser impossível perder a eleição com tanta gente na rua, em todos os cantos do país, apoiando o atual chefe do Executivo. Por outro lado, os petistas, que acreditam nos resultados da maior parte das pesquisas, embora quase todas tenham errado nas últimas eleições, já dão como certa a volta do ex-presidente ao comando do país. Os temas tratados no debate não diferem de tudo o que já foi discutido ao longo da campanha. Talvez a interferência de um ou outro que também esteja disputando, embora sem grandes chances de chegar ao segundo turno, possa representar alguma novidade. 

Como sabemos, Ciro Gomes resolveu centrar fogo pesado em Lula, ainda que não deixe também de cutucar Bolsonaro. Simone Tebet e Soraya Thronicke, mesmo tentando disfarçar, batem mais no presidente. Felipe D’Ávila fica na dele, procurando expor suas propostas de governo. Com certeza, pensando mais em conquistar uns minguados votos e se tornar conhecido para futuras disputas. O Padre Kelmon, desde o debate do SBT, se mostra aliado de Bolsonaro, fazendo um contraponto aos demais. Quem sabe esse seja o único debate com força para influenciar o voto de parte dos eleitores. Apesar de haver preocupação entre os governistas para o fato de haver algum tipo de benefício aos opositores, temos de considerar outra realidade diferente daquela vivenciada em 1989. 

Antes a Globo conseguia deitar e rolar com as edições manipuladoras. Hoje, as redes sociais têm mais influência que a própria emissora. Por isso, é possível afirmar que valerá mais os comentários sobre o desempenho de cada candidato que propriamente o debate em si. Boa parte do eleitorado, mesmo tendo já se decidido em quem votar, pode ser induzido a mudar de ideia a partir dessas análises pós-debate. Não falta muito para que as urnas sejam apuradas. Só algumas horas para sabermos o que efetivamente aconteceu. Se valeu o povo na rua, dando força a Bolsonaro, ou se as pesquisas conseguiram captar o voto silencioso daqueles que preferiram ficar em casa ao longo desses meses, só esperando para votar em Lula. E será possível verificar se este último debate teve mesmo algum tipo de influência na decisão dos eleitores. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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