Lula falha ao tentar impor diplomacia de botequim

Após bravata de que a guerra da Ucrânia poderia ser resolvida tomando cerveja, presidente apronta mais uma e desagrada a gregos e troianos com exaltação ao ditador Nicolás Maduro

  • Por Reinaldo Polito
  • 01/06/2023 09h00
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Ricardo Stuckert/PR LUla e Maduro apertão as mãos na parea extrena do Palácio do Planalto, cada um com a esposa do lado Lula saudou a presença do ditador Nicolás Maduro em cúpula de países sul-americanos em Brasília

Lula parecia não brincar quando disse que o conflito entre Rússia e Ucrânia poderia ser resolvido tomando cerveja em uma mesa de bar. O presidente fez essa afirmação de maneira eloquente ao participar do evento sobre igualdade e democracia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, no dia 30 de março: “Essa guerra, por tudo que eu compreendo, leio e escuto, seria resolvida aqui no Brasil numa mesa tomando cerveja. Se não na primeira, na segunda, se não na segunda, na terceira, se não desse na terceira, ia até acabar as garrafas para um acordo de paz”.

Só que falhou na primeira oportunidade que teve para ser o mediador. Ao participar no Japão como convidado no encontro de cúpula do G7, não conseguiu sequer falar com o presidente ucraniano Volodymir Zelensky. E, quando teve oportunidade de cumprimentá-lo, a exemplo de outros chefes de Estado, permaneceu sentado na ponta da mesa, sem levantar a cabeça, como se estivesse consultando algumas anotações. Será que alguém acredita nessas bravatas do petista? Talvez nem o mais fanático de seus seguidores imagina que uma guerra de tamanhas proporções possa ser evitada de forma tão simplória. Confiando ou não em suas palavras, a plateia o aplaude entusiasmada, ovacionando o grande líder. Só que esse tipo de discurso nasce e morre no local onde foi proferido. Ninguém leva para casa essa mensagem para refletir sobre suas consequências.

Assim tem sido. Desta vez, Lula aprontou mais uma das suas aqui mesmo dentro de casa. No encontro com presidentes da América do Sul, conseguiu desagradar a gregos e troianos. Em discurso para saudar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, o chefe do Executivo brasileiro fez um pronunciamento que está em desacordo com a realidade. Em duas citações, mais uma vez, perdeu a chance de ficar calado. Como se estivesse falando para pessoas desinformadas, tentou reescrever a história recente da Venezuela: “Se eu quiser vencer uma batalha, eu preciso construir uma narrativa para destruir o meu potencial inimigo. Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela, de antidemocracia e do autoritarismo”.

E já que estava livre, leve e solto com o microfone à disposição, por que não arrumar mais uma bela treta com os americanos?! Na tentativa de defender a Venezuela, voltou a atacar os Estados Unidos: “É culpa dele [Maduro]? Não. É culpa dos Estados Unidos, que fizeram um bloqueio extremamente exagerado. Sempre acho que o bloqueio é pior que uma guerra. Na guerra, normalmente, morre soldado que está em batalha. Mas o bloqueio mata criança, mata mulheres, mata pessoas que não têm nada a ver com a disputa ideológica que está em jogo”. Dá para imaginar o sorriso de alegria de Biden ao ficar sabendo desse pronunciamento!

A reação dos presidentes que compareceram ao encontro foi contundente. O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, discordou frontalmente de Lula: “Fiquei surpreso quando foi dito que o que aconteceu na Venezuela foi narrativa. Já sabem o que pensamos a respeito da Venezuela e do governo da Venezuela”. O presidente chileno, Gabriel Boric, também não engoliu as palavras de Lula. Foi firme na contestação, especialmente ao se referir às denúncias de violação aos direitos humanos: “Não é narrativa, é uma realidade séria, e tive a oportunidade de vê-la de perto nos rostos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que hoje vieram para a nossa pátria e que exigem também uma posição firme e clara em respeito a que os direitos humanos devem ser respeitados sempre, em qualquer lugar, independentemente da posição política do atual governante. Isso se aplica a todos nós”.

E assim se manifestaram os presidentes do Equador e do Paraguai. Todos reagiram até com indignação ao discurso do presidente brasileiro. Ninguém condena Lula por buscar bom relacionamento com os mais diversos países. Afinal, como presidente, uma das suas funções é a de lutar da melhor maneira que puder para estreitar laços comerciais com todos os povos. Há, entretanto, um limite que não pode ser ultrapassado. E o petista atravessou a linha amarela ao saudar Maduro. Até seus aliados estão desgostosos com essa atitude. Não foi bom para Lula. Não foi bom para o Brasil. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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