Lula se supera na arte de atribuir culpa a Bolsonaro

Entra ano, sai ano e o presidente da República preserva algumas de suas características mais marcantes: ser irônico e debochado quando ataca os adversários

  • Por Reinaldo Polito
  • 13/07/2023 09h00
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Reprodução/TV Brasil presidente-lula-italia-critica-banco-central-reproducao-tv-brasil Em sua live da terça-feira, 11, Lula estabeleceu novo recorde: culpou Bolsonaro pelo fracasso do time do Corinthians

Entra ano, sai ano e Lula preserva algumas de suas características mais marcantes: ser irônico e debochado quando ataca os adversários e culpar governos que o antecederam pelos problemas do país. Assim, em praticamente todos os debates dos quais participou, usou a ironia e o deboche para atacar o oponente e se defender das acusações que recebia. Só para citar dois episódios, foi dessa forma na disputa com Alckmin e nas contendas com Bolsonaro. Como se saiu vencedor nas eleições, ninguém pode dizer que a estratégia não estava correta. Atacar os governos que o precederam, então, virou seu esporte predileto. Nas duas primeiras vezes em que governou o país, o tempo todo bateu pesado contra Fernando Henrique Cardoso. Não se cansava de dizer que seu antecessor havia quebrado o país por duas vezes. O fato de ele estar na presidência há quase oito anos era um detalhe. FHC continuava sendo o responsável pelas mazelas do Brasil. Ao ocupar o Palácio do Planalto pela terceira vez foi “consistente”, e a vítima de turno agora tem sido Bolsonaro.

Há poucos dias, durante a assinatura da retomada das obras da UNILA (Universidade Federal de Integração Latino-Americana) o presidente aproveitou a presença dos jovens no evento para dizer que quem não se envolve com política acaba por eleger pessoas como Bolsonaro: “E sobretudo vocês jovens, pelo amor de Deus. Normalmente vocês são induzidos a não gostar de política. Ah, não gosto de política porque político é tudo ladrão, político é tudo corrupto. Quando a gente não gosta de política, nasce uma titica como Bolsonaro”. Lula incluiu o termo “antidemocrático” nos seus discursos, de tal maneira que nem precisa mais mencionar o nome de Bolsonaro, basta dizer “do governo antidemocrático” que todos deduzem rapidamente tratar-se do ex-presidente.

Tudo, entretanto, tem limite. Em sua live da terça-feira, dia 11, Lula rompeu sua própria marca e estabeleceu novo recorde. Culpou Bolsonaro pelo fracasso do time do Corinthians. Não, você não se equivocou na leitura. Lula pôs a culpa em Bolsonaro pela má fase do seu time do coração. Os comentários do petista foram tão absurdos que até “seus companheiros”, sempre tão crentes nas palavras do chefe, devem ter percebido que ele havia viajado demais. Como uma de suas marcas é a ironia e o deboche, assisti ao vídeo diversas vezes para ver se encontrava na fisionomia do presidente algum sinal de que estava só fazendo uma brincadeira. Que nada, o homem falou sério. Não mexeu nenhum cantinho da boca para esboçar um sorriso, ou ao menos franziu a testa para indicar que se tratava apenas de uma pilhéria. Foram suas palavras: “O Corinthians não anda bem das pernas. Não anda bem das pernas. Teve um momento que o Corinthians tropeçou, eu acho que foi o momento da antidemocracia que tivemos no Brasil, acho que atropelou o Corinthians também”.

Embora Lula esteja metendo os pés pelas mãos em seus discursos improvisados, temos de reconhecer que ele é esperto demais para falar uma besteira dessa sem motivos. Seria uma cortina de fumaça para desviar a atenção da mídia e do povo de alguma notícia incômoda? Como, por exemplo, ter liberado em apenas dois dias 7,5 bilhões em emendas parlamentares bem na época em que a Câmara se reunia para decidir pautas importantes do interesse do governo? Ou talvez fosse o excesso de viagens numa época em que sua presença no país poderia ser mais importante? Esses fatos, entretanto, já foram assimilados e quase viraram notas de rodapé. Se não há nenhum motivo aparente, então, pode ter sido mesmo excesso de confiança no próprio discurso. Nessas circunstâncias, as palavras vão saindo, saindo, não para comunicar o que aconteceu, mas sim para dizer o que gostaria que tivesse ocorrido. Tudo indica que, mesmo com os desacertos da economia, teremos mais três anos e meio de sua gestão pela frente. Como Lula é chegado num microfone, pelo menos uma certeza podemos ter. Fiel a si mesmo, ele continuará ironizando os adversários e colocando a culpa de todos os problemas do país na bola da vez – Bolsonaro. Quem viver, verá. Siga pelo Instagram: @polito

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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