O Brasil de Bolsonaro chega a ser a fisionomia Orloff dos Estados Unidos de Trump

O que acontece no Brasil tem chance de ser, em pouco tempo, uma repetição do que ocorre em solo americano

  • Por Reinaldo Polito
  • 08/06/2023 09h00 - Atualizado em 08/06/2023 09h08
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USA TODAY NETWORK/VIA REUTERS Donald Trump apertando a mão de Jair Bolsonaro O atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, se encontraram em 2020

Quem “ousa” enfrentar o sistema precisa estar preparado para digladiar com os monstros que perambulam pelas sombras. Ao se lançar candidato contra o poder do establishment, terá contra si os adversários com valor de face, que nem sempre são os inimigos mais poderosos. Ou não foi assim com Bolsonaro? Desde o dia em que, como obscuro deputado do baixo-clero, quando ainda falava só com as paredes e era visto pela população como o “famoso quem?”, levava bordoada da hora em que se levantava até depois de estar dormindo. Para surpresa até dele mesmo venceu as eleições e deixou os oponentes de queixo caído. 

Durante o período em que esteve na presidência foi um massacre. Todos os que o chamavam de incompetente, inviável, desprezível, continuaram a bater ainda mais forte para provar que as pedras que jogavam no Capitão tosco eram legítimas. Quem ficou em silêncio, trabalhando apenas nos bastidores, percebeu que era o momento de mostrar a cara e saiu de seus bunkers munidos de artilharia pesada. Bolsonaro não teve um segundo de paz para governar. Se fazia viagens internacionais, era criticado. Se ficava no país para atender compromissos mais urgentes, era espinafrado. Se não comprava vacina porque o contrato leonino dos laboratórios o levaria a cometer crime de negligência contra a população, era omisso. Se comprava, ainda que em tempo recorde, era chamado de genocida, tendo em sua conta a morte de milhares de brasileiros.

Se não bastasse, enfiaram goela abaixo uma CPI que demonstrou ser apenas mais um açoite para minar suas forças na busca da reeleição. E assim foi. Chegou a ser censurado porque leu em sua live uma matéria publicada na principal revista de negócios do país, como se ele fosse o autor da reportagem. Contra a revista mesmo, nem um pio. E o cerco foi se fechando. Um dia era a compra de leite condensado, no outro a aquisição de Viagra, mais à frente as joias que recebia de presente. As acusações brotaram de todos os cantos, e o mal que os antagonistas desejavam carimbar em seu nome permaneceu.

Sem contar que de maneira ingênua ou não o ex-presidente abria a santa boca para fazer brincadeiras inconvenientes, que acabavam por se transformar em argumento aos que desejavam vê-lo fora do Palácio do Planalto. Terminada sua gestão, mesmo tendo perdido, por margem ínfima de votos, é verdade, e se ausentando do país, porque sabia que tentariam enredá-lo em algum fato que nada tinha a ver com suas ações, não deram trégua. Lula não consegue fazer dois discursos sem jogar nas costas do antecessor os problemas da administração sob sua responsabilidade. E como pá de cal, no dia 22 enfrentará no TSE um julgamento que poderá torná-lo inelegível. E não tem barriga me dói. Quem entra nesse jogo, deve saber que as regras, ou até a falta delas, são essas. Se não quiser apanhar, que não entre no ringue.

Esse não é um “privilégio” do Brasil. Lá fora a história é escrita com as mesmas letras. Quando Donald Trump “mostrou o topete” para tentar ser o candidato a candidato pelos Republicanos, foi esculhambado. Os comentários variavam de homem louco e despreparado até destemperado. A imprensa norte-americana, em sua quase totalidade, afirmava que ele não teria a mínima chance de ser escolhido como candidato. Os próprios Republicanos colocaram resistências à sua candidatura. Sem se incomodar, provavelmente sabendo que enfrentaria essas barreiras, ameaçou ser candidato independente. Conseguiu. Durante os debates diziam antes que ele não teria condições de vencer, depois afirmavam que ele havia mesmo perdido. Por dever de ofício, analisei todos e, sem dúvida, foi vencedor, talvez em ou outro caso chegado ao empate. Venceu o pleito. E a exemplo do que ocorreu com Bolsonaro, foi acusado o tempo todo de ter cometido malfeitos. Dia a dia a imprensa despejava na população os “crimes” que ele cometera. O mal contra ele também estava feito. Perdeu as eleições. E teve trégua? Não. O sistema continuou a atacá-lo como se ele ainda estivesse no poder.

Agora, mesmo estando anos-luz à frente dos concorrentes Republicanos com 53,9% para ser o candidato, contra 21,1% de Ron DeSantis e 5,4% de seu ex-vice Mike Pence, tem gente dizendo que sua candidatura não é viável. É o fogo amigo que se junta à artilharia dos oponentes. Só que nesse caso, o tiro pode sair pela culatra, pois essa divisão talvez lhe seja muito favorável. A ver. A verdade é que Biden faz nos Estados Unidos uma administração ruim. Lula aqui no Brasil não fica atrás. Só que nenhum deles recebe nem de longe as críticas que receberam seus antecessores. Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a lei como pode ser interpretada. Siga pelo Instagram: @polito

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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