O homem sentiu que poderia ser engolido pela tecnologia no dia 11 de maio de 1997

Há exatos 26 anos, supercomputador da IBM derrotou o campeão mundial de xadrez, Gerry Kasparov, e chocou o mundo

  • Por Reinaldo Polito
  • 11/05/2023 09h00
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rawpixel.com/Freepik Mão apontando para fundo de tecnologia blockchain de moeda Nessas duas últimas décadas temos observado o avanço cada vez mais incontrolável da inteligência artificial

Há exatos 26 anos o homem sentiu que em algum momento seria substituído pela tecnologia. No dia 11 de maio de 1997 a humanidade presenciava surpresa e estarrecida a queda de uma das últimas fronteiras que a protegiam do inexorável avanço tecnológico. Foi nesse dia que o Deep Blue, um supercomputador da IBM, venceu, em uma série de seis partidas de xadrez, o campeão mundial Gerry Kasparov. A máquina venceu duas partidas, Kasparov venceu uma, e houve empate em três outras. Dali para a frente, era só questão de tempo para que as máquinas superassem as pessoas em praticamente todas as atividades. Nessas duas últimas décadas temos observado o avanço cada vez mais incontrolável da inteligência artificial. Os robôs tomaram conta das linhas de produção nas indústrias e no agronegócio. Tarefas que eram executadas por centenas de trabalhadores, agora são realizadas por apenas um. A partir de comandos com auxílio de satélites, tudo é feito em menos tempo e com maior qualidade.

Há cerca de seis ou sete anos, o bilionário Elon Musk já previa que seria necessário pensar em uma renda básica universal. Segundo seus prognósticos, a inteligência artificial substituirá a força de trabalho, e boa parte da população não terá o que fazer. Disse que não é o que gostaria que ocorresse, mas acreditava que esse seria o futuro. Por isso, seria preciso pensar em uma remuneração mínima para a sobrevivência das pessoas. Essa antiga entrevista de Elon Musk, tratando do tema da renda básica, passou a circular agora nas mídias sociais como se o assunto fosse recente. Provavelmente com a chegada do ChatGPT e de outros sistemas de inteligência artificial, desenvolvidos por empresas como a OpenAI, as pessoas tenham se dado conta de que essa tendência de substituição do homem pela máquina é, em toda sua abrangência, irreversível.

Musk não vê essa situação como grande catástrofe. Ao contrário, julga que as pessoas deixando esse trabalho braçal, cansativo, repetitivo, desinteressante por conta das máquinas, e tendo uma renda para garantir sua sobrevivência, poderão se ocupar de tarefas mais complexas e prazerosas. Terão tempo para buscar atividades que as realizem. Houve na história episódios em que as portas pareciam estar fechadas de maneira definitiva. Os desafios foram superados e as soluções encontradas com a criatividade do homem. Em 1798, por exemplo, Thomas Malthus elaborou uma teoria que previa a falta de alimentos para a população. Ele afirmou em sua obra que a população cresceria em progressão geométrica, enquanto que o crescimento dos alimentos seria em progressão aritmética. Devido ao desenvolvimento tecnológico, que permitiu extraordinário aumento da produtividade, o malthusianismo pregado no livro “Ensaio sobre o princípio da população” não vingou.

Quem sabe, a própria tecnologia possa dar ao homem a saída, hoje desconhecida, para encontrar soluções que resolvam a questão da empregabilidade. Quanto maior seja o desafio apresentado pelas circunstâncias, mais a criatividade é exigida. O futuro breve nos dirá. O tema no momento chega a ser tão preocupante que o próprio Musk, ao lado de mais de mil especialistas em tecnologia, assinou uma carta sugerindo que os desenvolvedores de sistemas fizessem uma pausa de seis meses. Seria um tempo para tentar pôr a situação nos eixos. Aparentemente, a “missiva” não encontrou eco, pois a cada dia os desenvolvedores surgem com novos aperfeiçoamentos. O CEO da TESLA foi um dos fundadores da OpenAI em 2015 e, embora tenha deixado a empresa em 2018, não se afastou dessa atividade. Em 9 de março deste ano, registrou a X.AI, que, tudo indica, irá concorrer com a companhia de inteligência artificial que ele ajudara a fundar. Não é, portanto, alguém que fala por achismo. Suas teses se apoiam em larga experiência e profunda reflexão sobre o tema.

Daquele longínquo 11 de maio de 1997 para este 11 de maio de 2023 a humanidade experimentou um desenvolvimento tecnológico incomparável. São inúmeras as novidades, que acabam por determinar um novo jeito de ser, de ver e de sentir.  Por isso, a cada dia, como se estivéssemos consertando um avião em pleno voo, vamos nos assustando, aprendendo e nos adaptando. Não é fácil, mas encontraremos os caminhos, com certeza. Siga pelo Instagram: @polito

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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