Reeleição de Bukele expõe ainda mais as feridas da insegurança no Brasil

Brasileiros observam resultados positivos conquistados pelo presidente de El Salvador e não se contentarão com menos diante do alto índice de criminalidade no país

  • Por Reinaldo Polito
  • 08/02/2024 15h22
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MARVIN RECINOS / AFP Nayib Bukele reeleição Presidente de El Salvador, Nayib Bukele, é reeleito com quase 90% dos votos

Você teria coragem de sair a pé à noite para dar uma volta nos quarteirões próximos da sua residência? Ficaria tranquilo em comparecer a um evento noturno no centro da cidade, tendo de estacionar seu carro a algumas quadras de distância? Fica apreensivo quando seus filhos voltam para casa, também à noite, após saírem da escola ou de uma festinha? Se o coração fica apertado e o medo toma conta da mente em situações como essas, significa que a sensação de insegurança atinge níveis elevados. Essa tem sido uma realidade enfrentada por diversos países, entre eles o Brasil. Por isso, a reeleição do presidente de El Salvador, Nayib Bukele é tão significativa.  

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Ele foi reeleito com quase 90% dos votos. Essa votação ratifica as pesquisas de popularidade realizadas há poucos dias. O presidente salvadorenho conquistou a admiração do povo principalmente devido ao combate intransigente à criminalidade. Os números eram assustadores. Quando Bukele venceu as eleições em 2019, para cada 100 mil habitantes, 106 pessoas foram mortas. Em 2023, esses dados despencaram. Segundo o próprio Bukele, em maio de 2023, o país completou um ano sem nenhum homicídio. Os levantamentos mostram que houve 2,4 mortes para esse mesmo número de habitantes. Um nada se comparado com a situação anterior. Uma das medidas mais importantes para dar segurança à população foi a construção de um presídio para 40 mil detentos. Não há nada semelhante em toda a América Latina. 

Os críticos censuram as medidas adotadas no país para fazer frente à criminalidade. Dizem que as prisões são arbitrárias, sem ordem judicial, e que há tortura e mortes entre aqueles que deveriam estar sob a proteção do Estado. É acusado de instaurar estado de exceção e de afrontar os direitos civis. A população, entretanto, parece pensar de forma distinta, tanto assim que proporcionou a ele vitória esmagadora. A queda da criminalidade em El Salvador a partir das medidas rígidas adotadas por seu presidente contrastam com o que estamos vivendo no Brasil. Pesquisa realizada pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) e o Instituto MDA entre os dias 18 e 21 de janeiro trouxe resultado preocupante para o governo. O tema mais criticado pelos entrevistados é a segurança. Segundo 27,4% esse é o pior desempenho da atual gestão.

Para dar uma ideia da relevância dessa preocupação das pessoas, basta citar os outros indicadores apurados: 25,4% mencionaram os problemas econômicos, 22,4% a saúde, 21,0% a corrupção e 12,6% a educação. Foi uma piora assustadora, pois sob a presidência de Bolsonaro somente 15% identificavam a segurança como sendo o maior problema do país. Por causa da pandemia, em primeiro lugar estava a saúde, com astronômicos 36%. O mais grave é a percepção de insegurança, já que a população não nota empenho do governo em combater para valer essa chaga que tira o sono dos brasileiros. Quase ninguém acredita que os responsáveis por essa área estejam agindo de maneira competente. A mesma pesquisa aponta que apenas 5,6% dos entrevistados responderam que o governo se sai bem na luta contra os malfeitores. Enquanto a atual gestão fala em combate aos criminosos, as pessoas veem dia após dia os delinquentes serem libertados, isso quando a polícia consegue prendê-los. 

Ao assumir o ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski está com uma batata quente nas mãos. Embora a responsabilidade pela segurança seja dos Estados, a culpa pelos problemas irá recair sempre sobre o governo federal. Ainda mais quando as notícias mostram que Estados dirigidos por petistas, como o caso da Bahia, são recordistas nos índices de criminalidade. Como a popularidade do governo está sendo medida pela questão da segurança, o ministro precisará encontrar meios eficazes para dar às pessoas a sensação de que algo está sendo feito para combater a bandidagem. 

Ainda mais agora que observam os resultados positivos conquistados pelo presidente de El Salvador, não se contentarão com menos. Provavelmente começarão a exigir cada vez mais que medidas semelhantes sejam adotadas por aqui. Como a atual gestão dá mostras de que prefere tratar os criminosos com certa brandura, considerando os direitos que possam ter, esse quadro dificilmente será modificado. É um dilema. Se o governo atender a esse apelo popular, estará contrariando seus próprios princípios. Se continuar inerte como tem se comportado, a cada dia perderá mais apoio dos eleitores. E, como sabemos, por mais apaixonado que um político seja por sua ideologia, o resultado das urnas acaba por falar mais alto. Siga pelo Instagram: @polito

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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