Romeu Zema, aliado de Bolsonaro, poderá se tornar seu grande adversário
Governador de Minas Gerais trabalhou pela reeleição do presidente da República no segundo turno da eleição presidencial, mas já mudou o discurso de olho no pleito de 2026
Romeu Zema (Novo) ficou na dele durante o primeiro turno das eleições. Cuidou da sua reeleição ao governo de Minas Gerais e não se envolveu com a campanha presidencial. Assim que o resultado das urnas foi revelado, imediatamente o político mineiro arregaçou as mangas e subiu no palanque de Jair Bolsonaro. Embora sua atuação não tenha garantido a vitória do presidente nas eleições, pelo menos no seu Estado houve boa evolução dos votos a favor do atual chefe do Executivo. No primeiro turno, Lula obteve 5,8 milhões de votos, enquanto Bolsonaro ficou com 5,2 milhões. Já no segundo turno, por causa do seu apoio, o presidente chegou perto. Atingiu 6,14 milhões, contra 6,19 milhões do petista. Uma pequena diferença que se aproximou de um quase empate.
O fato de Zema não ter se envolvido com a campanha de Bolsonaro no primeiro turno se justifica pela necessidade de ele precisar se dedicar à sua própria reeleição, sem correr o risco de ter seus objetivos contaminados pela disputa presidencial. Sua mudança de atitude no segundo turno, entretanto, requer análise mais cuidadosa. Um verdadeiro jogo de xadrez, com vários lances planejados com bastante antecedência. Se Bolsonaro vencesse, não poderia mais disputar a cadeira presidencial em 2026. O nome mais próximo do presidente é o de Tarcísio Gomes de Freitas, que venceria, como efetivamente venceu, o pleito para o governo de São Paulo. O ex-ministro da Infraestrutura poderá concorrer à reeleição no próximo pleito paulista.
Portanto, o cálculo de Zema era simples: ajudaria Bolsonaro a vencer as eleições e ficaria com esse crédito na manga. Tarcísio teria condições de continuar com o governo de São Paulo. E, dessa forma, encontraria o caminho livre para ser a bola da vez na disputa ao Palácio do Planalto. Se não desse certo, como não deu, já que o presidente não foi reeleito, se Zema quisesse vestir a faixa em Brasília, precisaria lançar mão de um plano B. Tendo perdido as eleições, Bolsonaro passa a ser o candidato natural na próxima disputa à Presidência – seu concorrente direto. Por isso, o discurso do governador mineiro já mudou. Na última semana, com os cuidados que a situação exige, passou a lançar as primeiras farpas no presidente. Em entrevista à Rádio Super 91,7 FM, da capital mineira, na quinta-feira, 17, deu os primeiros passos para minar a imagem de Bolsonaro. Deixou evidente que seu aliado de palanque não tratou bem a população:
“O governo federal e a gestão do presidente Bolsonaro não foram felizes na comunicação. O próprio presidente, que tem boas intenções, muitas vezes em seus discursos, ele acabou não sendo feliz. De certa maneira, deixando as pessoas angustiadas, deixando as pessoas meio que sem norte. Durante a pandemia, a comunicação do governo federal deixou muito a desejar. Quando você está lidando com algo que não conhece, é bom você não desprezar”. E para registrar uma censura que, com certeza, será repetida nas contendas futuras, alfinetou: “O presidente Bolsonaro perdeu para si mesmo, devido a uma forma de condução da comunicação”.
Zema é apenas um exemplo do que Bolsonaro terá de enfrentar nessa campanha que, como vimos, já começou sem que o seu governo tenha chegado ao fim. Outros virão. Além dos adversários normais, que brotarão da esquerda, o presidente encontrará rivais dentro dos próprios quadros conservadores. Nas últimas eleições, muitos que foram parceiros de Bolsonaro em determinado momento, ficaram com o olho gordo ao perceber alguma chance de se candidatar. Só para citar alguns: João Doria, Sergio Moro, Luiz Henrique Mandetta, Rodrigo Pacheco. A lista é grande. É muito raro encontrar políticos que se mantiveram aliados pela vida toda. Quase sempre, os melhores parceiros em certo momento acabam por se transformar nos maiores adversários no futuro. Foi assim com Franco Montoro e Orestes Quércia. Na sequência, Quércia com Fleury. Paulo Maluf com Celso Pita. Fernando Henrique com Itamar Franco. Dilma Rousseff com Michel Temer. Esse é um fenômeno que se repete em todas as partes do mundo. Se o governador mineiro for mesmo bater de frente com Bolsonaro, ninguém poderá se surpreender. Será só mais um exemplo na história. Siga pelo Instagram: @polito
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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