Será que é cedo demais para Lula perder o sono com as eleições?

Pesquisas recentes divulgadas pela CNT e pelo PoderData apresentaram tendência de queda para o ex-presidente, que lidera a corrida eleitoral pela Presidência da República

  • Por Reinaldo Polito
  • 24/02/2022 10h30 - Atualizado em 24/02/2022 12h00
PAULO GUERETA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO - 20/12/2021 Ex-presidente Lula discursa Ex-presidente Lula polariza disputa pelo Palácio do Planalto com o presidente Jair Bolsonaro

As últimas pesquisas, ainda que mostrem vantagem de Lula (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL), estremeceram os petistas. Dois dos levantamentos mais recentes, CNT/MDA e PoderData, apresentaram tendência de queda para o ex-presidente. Esse é o drama – não apenas parou de crescer como também os números indicam uma ladeira nas imediações. No primeiro instituto, a diferença caiu de 17,2 para 14,2 pontos. No segundo, a diferença é ainda mais reduzida, 9 pontos.

Lula surfa no recall. Muitos eleitores ainda se lembram do petista como sendo uma pessoa querida, simples, preocupada com os pobres. A maioria não se interessa em discutir se ele é de esquerda ou de extrema esquerda. O que vale é recordar que na época do seu governo muita gente pôde frequentar curso superior, viajar, comprar carro, comer melhor. Ainda que tenham se endividado para isso, tiveram o gostinho de experimentar benefícios que jamais sonhariam obter. Tanto assim que sua imagem quase não foi arranhada com as bordoadas todas que levou na época do mensalão. Passou por cima do escândalo como se nada tivesse ocorrido.

Sua popularidade era tão avassaladora que até os adversários tinham receio de criticá-lo. Na campanha em que Serra disputou a presidência com Dilma, o Tucano não o atacava. Dizia nas entrevistas que considerava Lula um homem bom, correto, que merecia admiração. Ora, como o candidato pretendia vencer sua adversária falando bem daquele que a apadrinhava?! Sim, o ex-presidente era praticamente intocável.

Nem a gestão desastrosa da “companheira” abalou sua reputação. É como se Dilma, mais um dos postes inventados por ele, não fosse um erro de sua responsabilidade. Sem adversários para contestá-lo, Lula deitou e rolou na fama que construiu. Não nos esqueçamos também de que Haddad, um quase ilustre desconhecido no país, embora não tenha vencido as eleições, agasalhado pela sombra de Lula, conquistou quase 50 milhões de votos. Para dar uma ideia do desafio, basta dizer que nem o nome dele sabiam, no Nordeste era chamado de Andrade. O fato mais extraordinário é que, quando Haddad concorreu com Bolsonaro, Lula teve de apoiá-lo, ainda por trás das grades, lá em Curitiba. Essa situação contrariava todas as avaliações, pois aquela circunstância mais poderia tirar do que acrescentar votos. O líder petista conseguiu fazer papel de vítima e se sustentar politicamente.

Como ele disse: “Se quiseram matar a jararaca, não fizeram direito, pois não bateram na cabeça, bateram no rabo”. Essa foi uma espécie de profecia da qual desdenharam seus opositores. E não é que a cobra está por aí mais viva que nunca! Por essas e por outras é que, nessa fase de pré-campanha, os números das pesquisas são favoráveis ao petista. São sentimentos que remontam à época em que Lula era sempre aplaudido com entusiasmo, falasse o que quisesse, do jeito que mais lhe conviesse, por mais equivocado que fosse o seu discurso. Com as primeiras movimentações nas pesquisas eleitorais uma luz amarela de alerta surgiu nas hostes petistas. Se, antes mesmo de iniciar a campanha, parte dos eleitores já começa a debandar, o que acontecerá quando os palanques forem armados?

Mesmo sendo recebido por multidões em todos os lugares que visita, Bolsonaro ainda não revelou à massa quais foram as suas realizações. Por mais que o eleitorado se interesse por política, uma boa parcela dos brasileiros não tem ideia do que esteja acontecendo no país.  Se pedirmos a dez pessoas que citem dois ou três feitos do governo, talvez uns oito não consigam responder. No máximo alguns diriam que ele levou água para o Nordeste e aumentou o valor do Bolsa Família com a implantação do Auxílio Brasil. Esse é o motivo das nuvens escuras que apareceram no céu petista. O Partido dos Trabalhadores sabe como ninguém fazer a leitura de uma campanha política. São especialistas. Para eles é o pão nosso de cada dia. E se ficaram abalados com esses resultados é porque enxergaram perigo no ar.

Ainda é cedo demais para qualquer prognóstico. Muita água irá rolar debaixo dessa ponte. Dessa e de tantas outras que o ministro Tarcísio está inaugurando por esse país afora. Não é por outro motivo que Lula já começa a dormir com um olho aberto e outro fechado. Assim que começar a campanha eleitoral de verdade os números serão mais reais. Provavelmente, nos próximos meses, essas pesquisas poderão até ser vistas como peça de ficção. Por isso, quem já estava jogando todas as fichas no vermelho, é bom ficar precavido e guardar um pouco de munição, pois a batalha ainda nem começou. Siga pelo Instagram @polito

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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