Será que o passarinho de Maduro virá representá-lo no Foro de São Paulo?

Discurso de Lula sobre Venezuela pegou mal para o Brasil

  • Por Reinaldo Polito
  • 22/06/2023 09h00
Marcelo Camargo/Agência Brasil Brasília (DF), 29/05/2023 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto. Maduro foi recebido com pompa por Lula em maio, em Brasília

O 26º encontro do Foro de São Paulo ocorrerá em Brasília entre os dias 29 de junho e 2 de julho. Representantes de 23 países confirmaram participação no evento. Enquanto a esquerda se regozija com o sucesso da iniciativa, os conservadores criticam a presença de figuras representativas do que consideram haver de mais antidemocrático no mundo. São países que sufocam a liberdade de expressão, religiosa e política. Dá para imaginar como seria recebido um evento promovido pela direita na Nicarágua, Cuba ou Venezuela.

Mais uma vez a Venezuela colocará os pés no nosso território. Da última vez foi um alvoroço. Lula provocou revolta em muitos brasileiros, e até em chefes de Estado que visitavam o nosso país, quando resolveu saudar Nicolás Maduro com salamaleques, pompa e circunstância. Disse que haviam inventado narrativas contra o presidente amigo. Os presidentes dos países que receberam centenas de milhares de venezuelanos atravessando suas fronteiras em busca de proteção e comida não se contiveram. Deram entrevistas e fizeram pronunciamentos afirmando com indignação que as acusações contra Maduro não eram narrativas, mas sim o retrato fiel de uma realidade. Com essa atitude o presidente brasileiro pode ter agradado seu companheiro, e ninguém mais. O discurso inconsequente pegou mal para ele e para o Brasil.

Com certeza a nossa diplomacia, tão competente e respeitada em todo o mundo, não deve ter dado aval para esse discurso. Página virada. O ditador venezuelano, que alguns insistem em chamar de democrata, arrumou essa confusão com a sua presença e, todo pomposo, voltou para casa.

Muitos se lembraram novamente de Maduro durante a live de Lula. Por sinal, “lives” que têm decepcionado em audiência. Nem foi preciso mencionar o nome do companheiro venezuelano. Bastou o tom romântico com que o chefe do Executivo brasileiro se referiu aos passarinhos que cantavam ao fundo durante a gravação: “Olha o passarinho cantando, que coisa bonita! Onde você vê isso na gravação do meu adversário? Na live dele, sabe? É só ódio. Aqui é beleza. Aqui é natureza. Aqui é tranquilidade.”

Bem, e o que tem a ver esse comentário de Lula com Maduro? O presidente brasileiro parece ainda estar com os pés no chão, pois só mencionou que ouvia os passarinhos cantando. Maduro, não. O presidente venezuelano, com toda “sua espiritualidade”, esteve com os bichinhos voadores, como dizem os americanos, “just shooting the breeze”. Levando um lero.

A primeira vez em que bateu papo com a passarinhada foi em abril de 2013. Durante a campanha eleitoral, algum tempo após a morte de Chávez, disse que seu antecessor havia aparecido para ele em forma de passarinho. Foi a maneira de dizer ao eleitorado que dividia com o povo seu lado mais transcendental.

Como tem gente que não se contenta em bater a cabeça só uma vez, passado um ano, em julho de 2014, Maduro voltou a fazer resenha com a pequenina ave. Só que desta vez o diálogo foi mais profundo. Afinal, já eram velhos conhecidos. Existia assim, por dizer, certa intimidade. Contou a história, que garante não se tratar de mera narrativa, em evento realizado em Sabaneta, cidade onde nasceu: “Ele [Hugo Chávez] está feliz e cheio de amor. Vou confessar a vocês que se aproximou de mim um passarinho, outra vez se aproximou e me disse que o comandante estava feliz e cheio de amor pela lealdade de seu povo”.

Talvez seja o mesmo passarinho que com seus gorjeios tenha vindo agradecer ao companheiro Lula a inesquecível recepção que fez ao presidente venezuelano. Vamos aguardar os desdobramentos do Foro de São Paulo. Quem sabe haja uma revoada de pardais tagarelas.

E por falar nesse encontro, uma das teclas mais repetidas por aqueles que estão promovendo o evento é o combate ao “imperialismo americano”. Só que para participar do regabofe o interessado deverá desembolsar, se for membro, US$ 250, e, se for individual, só US$ 50. Pois é, abaixo o imperialismo, mas cacifem em dólar, please.

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*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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